O Brasil paga a fatura da inflação com a economia em marcha lenta
Banco Central aumenta taxa básica de juros para 10,5% ao ano, após os preços avançarem mais do que o previsto em 2013
De olho na inflação, o Banco Central brasileiro (BC) elevou nesta quarta-feira em 0,50 ponto percentual, para 10,50% ao ano, a Selic, taxa de juros referencial da economia. O aumento encarece o crédito, levando a um freio maior no consumo que, consequentemente, deve promover uma queda maior nos preços. No entanto, um efeito colateral inevitável da medida é o seu impacto no crescimento do país, que ainda patina e não deve se expandir acima da média global neste ano, segundo o Banco Mundial.
“Não há combate indolor à inflação”, afirma Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e professor de Economia do instituto de ensino e pesquisa Insper. “Se você sobe o juro, presumivelmente vai desacelerar a atividade. E essa taxa de juros é sequer suficiente para fazer com que a inflação decaia ao longo do tempo”, completa.
Schwartsman avalia que uma Selic acima de 12% ao ano levaria o centro da meta de inflação do governo, de 4,5%, a ser atingido em um momento posterior. Ele também não vê uma capacidade de crescimento muito diferente da atual. “O diagnóstico do governo era equivocado, de que havia uma falta de demanda, o que levou a uma inflação alta e a um desequilíbrio nas contas externas.”
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC – colegiado responsável pela decisão dos juros – relatou, na nota que se seguiu ao aumento da Selic, que, “dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa (...), iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic (...) para 10,50% a.a., sem viés."
O Brasil deu início a uma etapa de redução dos juros em meados de 2011. Na época, temia-se o forte impacto da crise internacional e o objetivo era estimular o consumo e a produção. A taxa chegou a 7,25% ao ano em outubro de 2012 – a menor da série histórica iniciada em 1996. Com a ameaça da alta dos preços, no entanto, o BC se viu obrigado a voltar a subir a Selic em abril do ano passado. Na ocasião, para 7,50%.
Mas o avanço dos preços não deu trégua desde então, fazendo o país voltar a ter pesadelos com um eventual despertar do dragão da inflação, que perseguiu os brasileiros durante décadas e que atingiu estratosféricos três dígitos até a década de 1990. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medidor oficial, teve em dezembro a maior alta para um mês em dez anos, fechando 2013 em 5,91%.
“Você tem de mirar o centro. Pode-se ter um ano ou outro acima disso, mas o que não se pode é ficar sistematicamente nessa condição. Os 4,5% já são relativamente altos, e ainda há uma banda larga para o teto aceito (6,5%)”, avalia Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP). “Seria melhor para a economia brasileira trabalhar com 3% a 4%. Isso deve ser revisto.”
Os grandes vilões da inflação no fim do ano passado foram a gasolina e a alimentação. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) já havia afirmado que houve aumento da cesta básica em 2013 em todas as 18 capitais brasileiras avaliadas, sendo que em nove delas houve avanço superior a 10%. Segundo o órgão, o salário mínimo no país deveria ser quatro vezes maior, tendo como base o preço dos alimentos básicos e os gastos essenciais de uma família.
Mas ao aumentar os juros mirando a inflação, acerta-se também na trajetória da economia como um todo. Nesta quarta-feira, o Banco Mundial previu um crescimento brasileiro de 2,4% ao longo deste ano, abaixo da média global (3,2%). O número do país é inferior aos estimados para México (3,4%) e Argentina (2,8%) e para os outros membros do grupo Brics: China (7,7%), Índia (6,2%), Rússia (2,7%) e África do Sul (2,7%).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda anunciará o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2013 e o resultado fechado desse ano. O BC estima avanço de 2,3% ao longo dos 12 meses encerrados em dezembro último, praticamente em linha com o Ministério da Fazenda e a presidenta Dilma Rousseff, após previsão anterior de 2,5%.
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