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A fronteira paulista

A avenida foi conquistada pelos cidadãos nos anos 90, quando ocorreram as passeatas contra o ex-presidente Collor

María Martín
Avenida Paulista, o símbolo de São Paulo, vazia.
Avenida Paulista, o símbolo de São Paulo, vazia.Bosco Martín

As manifestações desatadas em junho pelo aumento de 20 centavos no transporte público de São Paulo devolveram a avenida Paulista ao seu papel de fronteira simbólica da metrópole. Projetada no século XIX como lugar de residência para os barões do café, longe do já popularizado e plebeu centro da cidade, consagrou-se nos anos 1990, durante as passeatas contra o então presidente Collor, como um território a ser conquistado pelo cidadão.

A morte de Ayrton Senna foi chorada entre seus arranha-céus, e não se conceberia a marcha do orgulho gay em outro lugar. Dois séculos depois do seu nascimento, a avenida mais alta de São Paulo foi o cenário daquele que já pode ser considerado um movimento social histórico, o qual fez com que mais olhos se voltassem para o Brasil. As autoridades, no entanto, tentaram defendê-la à base de balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Em 13 de junho, quarto dia de protestos, o poder público, estimulado pelos principais jornais do Estado, que exigiam um ponto final na ocupação da principal artéria da cidade, usou da brutalidade policial para proteger a fronteira entre o que consideravam o direito de manifestação e o "oportunismo corporativista" em uma avenida onde há sete hospitais. Naquela quinta-feira, os manifestantes se retiraram, ao mesmo tempo em que ganhavam a batalha. As marcas de cassetetes em dezenas de feridos e o olho roxo de jornalistas alvejados diretamente no rosto fizeram com que as tropas se afastassem desse objetivo que funciona como limite entre o sul, o leste e o centro de São Paulo.

A polícia retrocedeu e entregou a avenida aos manifestantes, deixando-os a partir de então praticamente à vontade – na manifestação mais numerosa, em 18 de junho, da qual participaram mais de 110.000 pessoas, quase não havia agentes fardados. Depois daquele dia, médicos, sindicalistas e até policiais já paralisaram com protestos menores a avenida comercial de quase três quilômetros. Só no mês de junho ocorram na avenida 209 manifestações (contra 31 em 2012), segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego.

A Associação Comercial de São Paulo registrou uma queda de apenas 2,8% nas vendas por causa das manifestações – e também pela elevação da inflação e pela desaceleração da renda e do crédito.

Seis meses depois das multitudinárias manifestações deste ano, o ponto de encontro das poucas passeatas ainda convocadas continua sendo a Paulista, em especial o vão livre do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, que também é alvo de uma polêmica envolvendo a defesa do território. A questão agora vai além das manifestações. A direção do museu pretende cercar o vão livre para evitar, segundo diz, que mendigos e traficantes passem ali seu tempo livre, e também, claro, que o ativismo deixe de ter ali o seu ponto de encontro.

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