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O Tubby não conseguiu 'se vingar' da Lulu

Guerra dos sexos foi vencida pelas mulheres, ao menos no mundo virtual

A tela que aparecia após a mulher se "descadastrar" do aplicativo.
A tela que aparecia após a mulher se "descadastrar" do aplicativo.

O Tubby foi proibido antes de seu lançamento no Brasil. Um aplicativo que foi criado com a suposta intenção de ser a versão masculina de Lulu- que permite que mulheres avaliem seus parceiros de forma anônima, dando notas por seu desempenho afetivo e sexual sem seu prévio consentimento- teve sua “estreia” interrompida pela 15a Vara Criminal de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A liminar se baseou na Lei Maria da Penha, que protege a mulher contra a violência. A intenção do Tubby, como dizia a descrição na loja de apps para celulares Google Play, era saber se "ela é boa de cama" e seria facilmente baixado no celular.

Provável tela do Tubby, onde as mulheres receberiam notas e comentários.
Provável tela do Tubby, onde as mulheres receberiam notas e comentários.

No entanto, o vídeo de lançamento do aplicativo indica que, pese ao circo montado e, de fato, bastante crível, tudo não passou de uma trollagem. O termo surgiu para referir-se a brincadeiras de mau gosto feitas na Internet e tem relação com o termo em inglês troll, utilizado na pesca para se referir ao ato de fisgar o peixe. Segundo informam os criadores Guilherme Salles e Rafael Fidelis na própria descrição do vídeo no YouTube, era tudo uma brincadeira: "Pois é, vocês já perceberam que se trata de uma trollada, mas na verdade é muito mais que isso, "não é trollagem, é uma mensagem!". Foram enganados tanto homens que queriam baixar o aplicativo quanto mulheres que entravam no site para tentar se "descadastrar" da base de dados, para que toda a informação pública que tivessem no Facebook não fosse utilizada. A tal "campanha" recebeu queixas dos usuários que, após fazer o download do aplicativo através do celular, foram dirigidos ao vídeo.

Para ler o teor da mensagem original do Tubby, que é apresentada no vídeo por um asiático de nome Pyong Lee, deve-se ativar a legenda em coreano. Enquanto a legenda em português diz: "Nosso app enfrentou dificuldades técnicas e jurídicas que nos obrigou a adiar seu lançamento", o tradutor automático coloca: "Pessoas não são objetos, e a intimidade de um relacionamento, por pior que tenha sido, não pode ser exposta desta forma". A Frente de Mulheres das Brigadas Populares, um dos coletivos que fez o pedido de proibição, duvida da veracidade da intenção inicial dos criadores, mas agradece a iniciativa. Sua página no Facebook diz: "Passado o susto inicial, nos alegramos com a sensatez da equipe que elaborou a jogada, e apostamos na capacidade viral do vídeo para espalhar um grito de apelo contra o machismo e a misoginia.” "De inimigo, o Tubby virou importante instrumento na luta feminista", anunciaram.

"Essa situação evidencia ofensa a direitos existenciais de consumidores, particularmente à honra e à privacidade", diz o inquérito de Lulu

o surgimento do aplicativo Lulu foi recebido com alvoroço e ansiedade pelo público feminino em fevereiro deste ano e já possui mais de um milhão de usuárias. O aplicativo criado pela britânica Alexandra Chong também foi investigado pelo Ministério Público do Distrito Federal, capital do Brasil, e está bloqueado de momento. O inquérito alega que "Essa situação evidencia ofensa a direitos existenciais de consumidores, particularmente à honra e à privacidade, ensejando medidas administrativas e, eventualmente, condenação por dano moral coletivo". Tanto o Facebook quanto a empresa de Chong, a Luluvise Incorporation, terão cinco dias para prestar esclarecimentos, prazo que segue vigente.

O site Lulu, com aviso sobre a desativação do app.
O site Lulu, com aviso sobre a desativação do app.

As mulheres que caíram na trollagem do Tubby acabaram clicando num link falso. Ao selecionar a opção de "descadastro", que estava ativa até a segunda-feira passada, o Tubby entrava na lista de aplicativos usados por terceiros do Facebook, de forma indireta e para retirá-lo é preciso seguir um passo-a-passo detalhado em fóruns pela internet. Além de boa vontade para superar as barreiras tecnológicas. Uma usuária vibrou ao conseguir impedir o acesso do aplicativo aos seus dados pessoais: "Antes arregar do que estar na boca de zé povinho. Já que os homens se gabaram de fazer isso há pelo menos 500 anos em um bar, que continuem por lá!", opina. Outra opção dada pelos fóruns era a de mudar o sexo cadastrado na rede social para "masculino", driblando o critério básico de busca do aplicativo.

No Lulu, os comentários criados de forma anônima entre as usuárias vão desde "ele me ligou no dia seguinte, é um fofo" até "péssimo de cama" ou "mão de vaca". Indignados, os homens pareciam contentes com a revanche do Tubby - e a decepção de alguns nas redes sociais confirma a intenção machista das possibilidades que lhes permitiria o tal aplicativo. A descrição da página original, de fato, parecia uma ameaça: "Sua vez de descobrir se ela é boa de cama". E continuava com o tom ofensivo quando a mulher decidia não participar. "Mulheres, se vocês estão com muito medo do que fizeram no verão passado, já podem se descadastrar", dizia o site. Resta saber o que o destino reserva à Lulu, porque o Tubby já perdeu sua possibilidade de falar o que pensa.

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