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Coluna
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O que fazer quando se está errado

Há três anos, uma carta sobre desvalorização e inflação advertia o Fed sobre as políticas de abrandamento quantitativo

Paul Krugman

Como nos recordava recentemente o especialista Barry Ritholz em um post do seu blog, acabamos de passar o terceiro aniversário da carta sobre desvalorização e inflação na qual os gurus da economia advertiam ao Federal Reserve que as políticas de abrandamento quantitativo teriam consequências nefastas. Estavam completamente equivocados.

Ao reler a carta agora, é preciso se perguntar que tipo de modelo econômico o grupo tinha em mente. Os autores afirmavam que “as projetadas compras de ativos acarretam um risco de depreciação da moeda e de inflação, e não achamos que levem aos objetivos do Federal Reserve de promover o emprego”.

Portanto, seriam inflacionárias sem serem expansionistas. Como se supõe que isso funcione? Em sua exposição, Ritholz encarava o erro dessas pessoas como uma razão para não escutá-las, e isso é certamente um sinal de alerta. No entanto, minha posição é de que não se trata só de averiguar se as pessoas se equivocaram, mas também de se perguntar como elas reagiram quando os acontecimentos não seguiram os rumos que elas previam.

Afinal de contas, se você escreve sobre temas da atualidade e nunca se engana, é porque você não está se arriscando o suficiente. Coisas acontecem, e às vezes não são as coisas que você acha que aconteceriam.

O que fazer então? Fingir que você nunca disse o que disse? Partir para cima dos seus detratores e se fazer de vítima? Ou tentar descobrir em que você se enganou e por que, e revisar suas ideias de acordo com isso?

Ao longo dos anos, me enganei muitas vezes, em geral sobre questões menores, mas às vezes sobre outras importantes. Antes de 1998, eu não acreditava que a armadilha da liquidez fosse um problema sério. O exemplo do Japão sugeriu que eu estava errado, e afinal cheguei à conclusão de que esse fato era um problema grave. Em 2003, eu achava que os Estados Unidos estavam potencialmente vulneráveis a uma perda de confiança no estilo da crise asiática. Quando nada disso ocorreu, repensei meus modelos, percebi que o endividamento em moeda estrangeira era crucial, e mudei meu ponto de vista.

O caso do euro foi algo diferente: eu estava muito pessimista sobre a estratégia de austeridade e desvalorização interna, que achava que teria um custo terrível. E tinha toda razão. Também supus que ficaria demonstrado que esse custo era politicamente insustentável, e que conduziria a uma crise do próprio euro. Pelo menos até agora, me enganei. Meu modelo econômico funcionava bem, mas meu modelo político implícito, não. Ok, assim são as coisas.

Então, algum dos signatários da carta de 2010 admitiu que se enganou e explicou o porquê. Eu me refiro a qualquer um deles. Que eu saiba, não. E, nesse ponto, o assunto se transforma em algo além de uma discussão intelectual. Transforma-se em uma prova de caráter.

© 2013 The New York Times

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