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Dilma Rousseff está bem com a população e mal com o mercado

Enquanto as pesquisas a colocam na dianteira da corrida eleitoral, investidores estariam apreensivos com o seu Governo, depois que a política de reajuste da Petrobras não foi detalhada

Carla Jiménez
A presidenta Dilma Rousseff e a presidenta de Petrobras, Graça Foster.
A presidenta Dilma Rousseff e a presidenta de Petrobras, Graça Foster.ERALDO PERES (AP)

A presidenta Dilma Rousseff está vivendo o típico paradoxo que enfurece seus adversários. Segundo a mais recente pesquisa eleitoral, divulgada pelo instituto Datafolha neste final de semana, Rousseff venceria no primeiro turno, com 47% das intenções de votos, caso o senador tucano Aécio Neves e o candidato do PSB, Eduardo Campos, estivessem no páreo. Se a eleição fosse hoje, Neves teria 19%, e Campos, 11%. Mas, se a mandatária brasileira agrada à base, o mesmo não se pode dizer sobre o mercado financeiro. Depois de a Petrobras divulgar os reajustes dos combustíveis no final de sexta-feira, os investidores castigaram as ações da companhia, que caíam cerca de 9% até as cinco da tarde de segunda.

A falta de explicações maiores sobre a metodologia que seria empregada para alinhar os preços da gasolina e do diesel no Brasil aos do mercado internacional alimentou o rótulo que persegue o Governo de Rousseff de intervir o tempo todo na economia, para acertar outros gargalos. No caso, o Governo demorou para ajustar a tabela de preços da Petrobras, preocupado com o estouro da meta de inflação, cujo teto é de 6,5%. “A tendência dos investidores estrangeiros agora é deixar o mercado brasileiro de lado, e esperar até o ano que vem”, diz Elizabeth Johnson, diretora de pesquisa para o Brasil da consultoria britânica Trusted Sources, especializada em economias emergentes. “Ainda é muito patente a influência política na Petrobras”, completa.

O argumento de que a estatal brasileira está sendo sucateada é constantemente repetido pelos seus adversários políticos. Porém, grande parte da população brasileira não relaciona informações do gênero com a sua realidade. O único dado palpável para o brasileiro médio é que a sua renda aumentou, portanto o futuro é ainda mais otimista. Segundo a mesma pesquisa do instituto Datafolha, 38% dos entrevistados acreditam que seu poder de compra vai melhorar. Dentre as 4.557 pessoas ouvidas pelo instituto, 56% avaliam que a sua situação vai melhorar nos próximos meses.

A presidenta costuma não comentar pesquisas, mas o fato é que os resultados a deixam confortável para negociar as trocas de comando em pelo menos 12 dos 39 ministérios do seu Governo, cujos titulares devem concorrer às eleições do ano que vem. Um deles é o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que vai disputar as eleições para governador de São Paulo no ano que vem, e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. As análises políticas dão conta de que as trocas de comando devem acontecer em duas etapas, liberando os que precisam correr para marcar terreno, como é o caso de Hoffmann, que disputará o Governo do Paraná, no sul do país, e manter Padilha por mais um prazo, para exibir resultados de programas estratégicos, como o Mais Médicos, que levará profissionais de saúde a regiões mais carentes do país.

Rousseff ainda mantém serenidade por guardar ampla vantagem sobre seus adversários. Sua aprovação subiu em comparação com a pesquisa do Datafolha realizada no mês de outubro, quando tinha 42% das intenções de voto – cinco pontos porcentuais a menos do que agora - , e a de seus opositores caiu: Neves saiu de 21% para 19%, e Campos de 15%, para 11%.

Nem mesmo o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, alçado a herói nacional depois do julgamento do processo do mensalão, conseguiria assustar Rousseff. Numa simulação onde ele seria candidato, Barbosa ficaria em segundo lugar, com 15% das intenções. Curiosamente, uma enquete feita pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrou que das 32 legendas partidárias brasileiras, 16 negariam sua entrada. Embora a corrida eleitoral ainda tenha muito caminho pela frente, a presença de Barbosa poderia embaralhar o cenário e enfraquecer ainda mais as chances da oposição.

A cientista política Vera Chaia acredita que a vantagem de Rousseff tem menos a ver com a falta de Barbosa na lista de candidatos, e mais pela ausência de programa consistente dos adversários da presidenta. “Querem fazer algo de novo, mas o quê?”, questiona. Segundo ela, alguns assuntos que a oposição gosta de explorar já estão desgastados, como é o caso do mensalão. ”Ninguém mais aguenta esse assunto, já se esgotou, e não terá repercussão eleitoral, assim como não teve em 2010, e no ano passado, durante as eleições municipais", afirma.

Chaia acredita que há uma diferença entre o que a mídia propaga e o que eleitor deseja, e que a ideia de que o tempo longo de duração do PT no poder poderia jogar contra não faz sentido. “O PSDB está há décadas em São Paulo e ninguém o tirou”, completa.

 Enquanto isso, os economistas contabilizam erros e acertos do Governo Dilma Rousseff e se preocupam quando isso pode estourar na economia real. “Olhando todos os indicadores macroeconômicos, não houve nenhuma mudança substancial”, diz Alex Agustini, da agência Austin Rating. “Mas, é como o marido que passa a chegar à uma da manhã sem avisar a sua esposa”, exemplifica. No caso, a gestão dos aumentos da Petrobras deixam o mercado inseguro tal qual a esposa que fica de olho no relógio até o marido chegar.

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