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Suíça se recusa a limitar os grandes salários

O movimento 1:12, promovido pelos socialistas, consegue apenas 35% dos votos em referendo Ato evitaria que executivo ganhasse mais de 12 vezes o que recebe o empregado com pior salário

Ativistas do movimento 1:12, em Zurique (Suíça).
Ativistas do movimento 1:12, em Zurique (Suíça).Walter Bieri (AP)

As urnas deram as costas para a iniciativa 1:12 que limitava os salários abusivos dos grandes executivos. Tal e como antecipavam as pesquisas, os cidadãos suíços recusaram a proposta socialista com 65% de votos contrários e 35% favoráveis no referendo realizado neste domingo.

A proposta, impulsionada por David Roth, dirigente da Juventude do Partido Socialista da Suíça, pretendia impor um teto aos salários dos altos executivos. A iniciativa 1:12 implicaria que nenhum diretor pudesse ganhar em um mês mais do que ganha em um ano o mais modesto de seus empregados.

Tanto o Conselho Federal (Executivo) como o patronato e os partidos de centro e direita pediram aos cidadãos que recusassem a iniciativa. Pelo lado dos simpatizantes, basicamente só eram encontrados o Partido Socialista e o Partido Verde, ao qual se uniram algumas formações minoritárias de esquerda.

Tanto o Conselho Federal, como o patronato e os partidos de direita e centro eram contrários

Mas os argumentos igualitários não tiveram peso suficiente para levar os eleitores suíços a colocar uma barreira em um modelo social que demonstrou ser estável e eficaz. A Suíça tem dados globais de causar inveja em nível de emprego e economia, sobretudo quando se compara com a situação vivida hoje por outras economias europeias, devoradas pelo desemprego e o gerenciamento ineficaz. E algumas grandes empresas ameaçavam deixar o país caso a consulta seguisse adiante.

Grégoire Barbey, blogueiro e analista político do diário econômico Agefi, baseado em Genebra, lembra que a Suíça tem um sistema social único, pelo qual há 75 anos patronato e trabalhadores negociam as condições salariais e de emprego. “Vendo as dificuldades econômicas vividas por outros países europeus, não me resta dúvida de que a Suíça faz bem ao conservar seu sistema. Desmantelar um modelo eficaz por razões morais que carecem de legitimidade popular seria um erro”, opina.

Barbey prossegue sua análise dizendo que “o resultado não me surpreende em absoluto. Os suíços são conscientes de que os salários do setor privado não são uma questão que deva ser resolvida pelo Estado, senão que são um tema que só compete aos proprietários das empresas, ou seja, os acionistas. Acho que é mais uma derrota da esquerda suíça”.

A iniciativa surgiu à raiz do escândalo pelo pagamento de bônus milionários a diretores do banco UBS, que teve de ser resgatado pelo Estado suíço em 2009. Os diretores-executivos de algumas multinacionais e entidades financeiras cobram mais de 200 vezes o salário do trabalhador menos bem pago, segundo dados reunidos pela organização sindical Travail Suisse.

Na Espanha, uma iniciativa similar foi adotada pelo Partido Socialista nas conclusões de sua conferência política, realizada há duas semanas. “Reconhecemos uma derrota clara”, confirmou na TV suíça, por sua vez, o porta-voz socialista pela iniciativa 1:12; embora reivindique os 35% obtidos como “um resultado honroso”. Já Daniel Ordás, advogado suíço-espanhol autor do livro España Merece Democracia Directa (Espanha Merece Democracia Direta, em tradução livre), analisa os resultados dizendo: “Considero que o grande sucesso dessa iniciativa é lançar um debate desse tipo em nível europeu, graças a que na Suíça podemos falar dessas coisas e votá-las. Em outros países europeus isto seria impensável. O mero fato da existência da iniciativa 1:12 fará com que as grandes empresas pensem duas vezes antes de promover salários indefensáveis”.

Os suíços também votaram neste domingo outros dois assuntos. O primeiro foi uma iniciativa do partido de direita nacionalista UDC / SVP que pretendia a dedução de impostos das famílias que se ocupassem de seus filhos em casa, e o segundo aumentava o valor da taxa de circulação em autoestradas (equivalente a pedágios) de 40 para 100 francos suíços anuais. Ambas as propostas foram rejeitadas pelos eleitores. 

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