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Em novo golpe à exportação, EUA suspendem compra de carne fresca do Brasil

Revés acontece meses após Operação Carne Fraca, que levou norte-americanas a elevar inspeção

Meses depois da Operação Carne Fraca, que revelou um esquema de fraude e corrupção no controle de qualidade da carne brasileira e provocou reações restritivas de vários países, os exportadores brasileiros sofreram nesta quinta-feira uma das consequência mais drásticas da crise provocada pelo escândalo. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos anunciou que vai suspender as importações de carne fresca, ou "in natura" do Brasil "devido a preocupações recorrentes sobre a segurança de produtos destinados ao mercado americano". A decisão foi comunicada pelo secretário de Agricultura, Sonny Perdue.

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A suspensão das vendas aos Estados Unidos vai permanecer, de acordo com os EUA, até que o Ministério da Agricultura do Brasil adote "ações corretivas que o Departamento de Agricultura considere satisfatórias". A assessoria do Planalto informou que o presidente Michel Temer, em viagem ao exterior, não vai se pronunciar.

A notícia é mais um golpe importante para o setor no Brasil, que movimenta cerca de 180 bilhões de reais por ano. Embora os EUA não sejam o principal importador de carne fresca brasileira, o maior mercado do mundo era considerado um "passaporte" para outros países. Só no ano passado, o norte-americanos voltaram a comprar esse tipo de produto do Brasil, após mais de dez anos de veto. De janeiro a maio deste ano, os americanos importaram o equivalente a US$ 19 milhões de carne fresca brasileira. "O prejuízo é intangível. Os Estados Unidos já importaram 19 milhões de dólares em 2017, mas o dano é muito maior do que isso. Sempre consideramos o credenciamento do mercado americano como um passaporte para outros países", afirmou Antônio Jorge Camardelli, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC),  em entrevista ao EL PAÍS.

Crise ignorada?

A decisão dos EUA não foi uma repentina. Desde março, depois da Operação Carne Fraca, o Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos do Departamento de Agricultura aumentou a fiscalização das carnes brasileiras e passou a inspecionar tudo que era procedente do Brasil. Como resultado dos testes feitos, o órgão recusou a entrada de 11% das carnes frescas do Brasil. Esse percentual é "substancialmente mais alto" do que a taxa média de rejeição, de 1%, dos produtos exportados pelo resto do mundo.

Desde o início da inspeção reforçada, o órgão recusou 106 lotes de carne brasileira, equivalente a cerca de 1,9 milhão de libras ou 860 toneladas de carnes brasileiras. Para justificar o descarte desses lotes, o órgão disse que isso foi feito por preocupações de saúde pública, condições sanitárias e saúde animal. "É importante salientar que nenhum dos lotes rejeitados entrou no mercado americano", destaca o Departamento de Agricultura. Embora a fiscalização reforçada na carne fresca brasileira já durasse desde março, só na terça-feira o Governo brasileiro anunciou uma solução: a suspensão da exportação de cinco frigoríficos. A medida não convenceu os americanos. "A ação de hoje para suspender todos os embarques de carne fresca do Brasil substitui a autossuspensão", diz o órgão em comunicado.

Não é informado em nenhum trecho do comunicado quais foram os problemas específicos da carne brasileira. Para Antônio Jorge Camardelli, da associação de exportadores, os produtores tomaram providências para resolver o impasse apontado pelas autoridades americanas. De acordo com Camardelli, 19 cargas de carne fresca, de 25 toneladas cada uma, enviadas aos Estados Unidos apresentaram abscessos, uma espécie de inflamação originada no animal. Esses abscessos surgiram por reação adversa a uma vacina contra febre aftosa, diz Camardelli. "A culpa é de quem produz a vacina e de quem autoriza esse tipo de vacina", afirmou o presidente da ABIEC.

No comunicado divulgado, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos alegou que "sua primeira prioridade é proteger os consumidores americanos". "Garantir a segurança do fornecimento de alimentos da nossa nação é uma das nossas missões críticas, e é uma tarefa que empreendemos com muita seriedade. Embora o comércio internacional seja uma parte importante do que fazemos no Departamento de Agricultura, e o Brasil há muito tempo seja um dos nossos parceiros, minha primeira prioridade é proteger os consumidores americanos. Isso foi o que fizemos, interrompendo a importação de carne fresca brasileira. Eu elogio o trabalho do Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos do Departamento de Agricultura por proteger minuciosamente os alimentos que servimos às nossas famílias", diz Perdue.

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