Macron conquista clara maioria parlamentar para colocar suas reformas em andamento
Presidente finaliza com a vitória nas legislativas a transformação da paisagem política francesa
Emmanuel Macron finalizou no domingo seu metódico e inesperado trabalho de demolição do velho sistema partidário com uma vitória esmagadora no segundo turno das eleições legislativas. A queda dos partidos que dominaram a França nas últimas décadas vem junto com uma profunda renovação dos quadros políticos. Pesos pesados desapareceram, homens e mulheres que controlaram até recentemente as rédeas do poder. E aterrissa na Assembleia Nacional uma nova geração de deputados, inexperientes em sua nova profissão e seguidores do presidente. Com eles Macron colocará em andamento suas prometidas reformas econômicas com uma das maiorias mais amplas na história da V República.
A primavera francesa – quatro eleições entre 23 de abril e 18 de junho – termina com a consagração de Macron como um dos presidentes mais poderosos em tempos recentes. Governará sem nenhum grupo de oposição forte no Parlamento, com os dois partidos tradicionais – o Partido Socialista (PS) e o Republicanos, de direita – destruídos, e com um grupo populista ruidoso, mas com pouca influência na Assembleia Nacional.
O que poucos acreditavam possível há dois meses é uma realidade. Ao ganhar as eleições presidenciais de abril e maio ele se beneficiou da força habitual do vencedor e conquistou maioria nas legislativas. Com a diferença, em relação a casos anteriores, de que ele o fez com um partido novo que até então possuía zero deputados. E que, mais do que um partido, era um movimento baseado em um homem, Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron. Com 39 anos é o líder francês mais jovem desde Napoleão e que, do centro político e procurando superar a divisão esquerda/direita, em apenas dois meses refundou o sistema: já não é direita e esquerda; é a maioria Macron e uma soma heterogênea de minorias.
A República em Marcha (LRM), seu partido, foi o mais votado. Associado ao centrista MoDem do ministro François Bayrou, obteve por volta de 355 deputados, de acordo com as primeiras projeções do IPSOS. Outras estimativas dão ao partido de Macron entre 395 e 425 cadeiras. Na sequência vem o Republicanos e seus aliados, que serão o primeiro partido da oposição com 125 deputados. O PS foi o poder da França nos últimos cinco anos. O presidente François Hollande era socialista, assim como a maioria parlamentar. Agora ficam com 34 deputados. O secretário-geral do partido, Jean-Christophe Cambadélis, anunciou sua renúncia.
No ano do crescimento populista, o da vitória do Brexit no Reino Unido e de Donald Trump nos Estados Unidos, não foi bem aceito na França. Os partidos que propunham uma mudança total do status quo – a saída da UE e da OTAN, o questionamento do capitalismo – serão minoritários na Assembleia Nacional.
O França Insubmissa do ex-socialista Jean-Luc Mélenchon conseguiu 19 cadeiras. A Frente Nacional da ultradireitista Marine Le Pen levou oito cadeiras, de acordo com algumas projeções, insuficientes para formar um grupo parlamentar, que exige 15.
A chegada em massa de deputados novos de um novo partido tem poucos precedentes. O mais evidente é o de 1958, quando, recém-aprovada a Constituição que deu origem à V República e elegeu o General De Gaulle como presidente, seu partido ganhou as eleições legislativas em um momento de renovação da classe política semelhante ao atual. Com a vitória do LRM, 60% das cadeiras foram renovadas. O novo parlamento terá menos políticos profissionais, mais mulheres, mais gente do mundo empresarial. Também mais rostos desconhecidos ao grande público, até mesmo aos seus próprios eleitores, que em muitos casos os elegeram não por suas virtudes, mas porque levavam a marca de Macron.
A dimensão da maioria tem poucos precedentes. O mais claro é o de 1993 quando, em outro momento crítico do PS, o neogaullista RPR e a UDF, de centro-direita, partidos que caminhavam separados, mas governaram juntos, somaram 472 deputados.
O resultado abre um debate sobre o sistema eleitoral. É um sistema com dois turnos que sobre-dimensiona a representação do ganhador e marginaliza o perdedor. Um partido como o LRM pode conquistar 32% dos votos no primeiro turno e no segundo, 75% das cadeiras. E outro como o FN pode ficar sem grupo parlamentar apesar de obter 13% dos votos no primeiro turno.
O ‘que saiam todos’ ao estilo francês termina sem que tenham sido mexidas todas as colunas do sistema: com Macron a monárquica V República está mais viva do que nunca. Pelo caminho caíram presidentes e ex-presidentes que almejavam a presidência como Nicolas Sarkozy e François Hollande, e políticos que há anos preparavam o ataque ao Palácio do Eliseu, como Manuel Valls e François Fillon, viram suas ambições arruinadas. Outros veteranos, como o ministro Bayrou, sobreviveram. Emmanuel Macron já pode começar a governar.
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