Manifestantes protestam contra voto em lista e anistia ao caixa 2 em ato com baixa adesão
Movimentos pró-impeachment voltam às ruas contra os projetos que tentam boicotar a Lava Jato
As camisetas verde e amarela voltaram mais tímidas às ruas neste domingo em diversas cidades do Brasil, em protesto convocado pelos movimentos que lideraram a pressão pelo impeachment de Dilma Rousseff no ano passado. Os grupos Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Nas Ruas reuniram bem menos gente do que em manifestações anteriores, e numa quantidade menor de cidades. Mas lograram a adesão de alguns milhares de pessoas na tarde deste domingo na avenida Paulista, em São Paulo, para engrossar o coro contra projetos no Congresso que tentam salvar políticos do alcance da Justiça.
Os protestos de 26 de março reuniram no total 55.000 pessoas em 62 cidades, segundo os organizadores, e 20.000 manifestantes, segundo a Polícia Militar, conforme informações do portal G1. É um número bem menor, por exemplo, do que em março de 2016, quando cerca de 3 milhões de pessoas (também segundo a PM) saíram às ruas do país pelo impeachment em 229 municípios. São Paulo, que sempre lidera as manifestações, contou com manifestantes transitando em cerca de quatro quarteirões da Paulista, mas que se dividiam com os frequentadores rotineiros da avenida, fechada aos domingos para o trânsito de carros. O líder do MBL Kim Kataguiri minimizou a baixa adesão. “Já era esperado, foi mais ou menos o mesmo tamanho da última ato depois do impeachment”, afirmou ele, que não descarta novas movimentações na rua, dependendo da reação do Congresso ao protesto deste domingo.
Seja como for, os organizadores marcaram posição contrária a uma eventual mudança do sistema de eleição para lista fechada, como tem sido aventado em Brasília, e aos projetos de anistia ao caixa dois que estão no Congresso. Caso o sistema eleitoral de hoje fosse substituído pelo voto em lista, os brasileiros deixariam de votar em seus candidatos diretamente. Elegeriam partidos, que indicariam representantes para o Legislativo. O modelo, adotado em diversas democracias europeias, também é questionado por ‘proteger’ nomes da pressão popular, o que no Brasil começa a ser visto como estratégia da classe política para esconder os nomes mais desgastados pela Lava Jato, por exemplo.
Em discurso para seus militantes, Kataguiri afirmou que políticos que apoiaram a saída de Dilma agora querem a lista fechada para eleger os mesmos caciques de sempre. “Não quero que [Romero] Jucá ou Aécio escolham meu candidato”, afirmou ele. Os dois senadores, que chegaram a vestir-se de verde e amarelo em outros protestos do MBL, foram citados nas delações da Odebrecht como receptores de recursos via caixa 2.
O assunto também não teve trégua do movimento Vem pra Rua. Do alto do caminhão em frente ao Masp, os líderes do grupo incentivavam o público a seguir o coro “Rodrigo Maia, preste atenção. Lista fechada só elege ladrão”. O foro também foi alvo de outro bordão do movimento: “O fim do foro, eu quero já. Passou da hora dessa merda acabar”, repetia um locutor, acompanhado pelo público que se concentrou ali. O grupo foi o que mais reuniu manifestantes, comparado aos demais organizadores, que tinham caminhões próprios em diferentes pontos da avenida Paulista.
Não faltaram representantes de movimentos que sonham com a intervenção militar, ou a volta da monarquia, assim como as bandeiras do Brasil e os pixulecos gigantes – Lula com roupa de presidiário — sempre presentes nos atos destes grupos identificados com a direita. Mas em São Paulo, por exemplo, também era possível encontrar cartazes contra o presidente Michel Temer e contra a reforma da Previdência, pautas estas mais identificadas com a esquerda.
Um dos integrantes do MBL em São Paulo defendia também o fim do estatuto do desarmamento. “Uma população desarmada é uma população controlada”, afirmou ele. A pauta também era defendida pelo Nas Ruas que mantinha um cartaz que dizia “Armas pela Vida”.
Presente na avenida Paulista, Virginia, executiva de marketing aposentada, carregava um cartaz onde se lia de um lado “Reforma Política (e sem inventar “lista fechada”), e no verso “Fim do Foro! (E sem inventar “vara especial”). A ideia de um juizado específico para os casos de foro privilegiado tem sido aventada por alguns parlamentares. “Para que ter vara especial se isso pode acabar com o foro?”, questiona Virginia. Sobre o voto por lista, ela diz que “fica mais difícil fazer uma limpeza. Qualquer coisa fechada ou obrigatória não é legal”, afirmou ela, que também reclamou da proposta atual do Governo para a Previdência.
Já o advogado Joamir Penha carregava um cartaz cobrando agilidade à Procuradoria Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal na divulgação das delações da Odebrecht e no julgamento dos nomes envolvidos. “Questionam o foro privilegiado dos políticos, mas o grande privilégio dos políticos é a lentidão da Justiça”, disse ele ao EL PAÍS.
Como em outras edições anteriores, o protesto começou por volta das 10 da manhã em cidades como o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, desta vez com quórum bem mais baixo do que antes. No calçadão de Copacabana, houve pouca adesão se comparado com as inúmeras manifestações antipetistas e anticorrupção já celebradas. Passadas às 13h, os organizadores deram por encerrado o protesto. O espaço entre os quatro carros de som ficou praticamente vazio, enquanto os manifestantes se refugiavam do calor sob a sombra das árvores.
O MBL lamentou que o protesto dos cariocas esvaziasse depois do investimento feito, e atribuiu a desmotivação à "diversidade de pautas" que incluíram da crítica ao foro privilegiado, passando pelo apoio à Lava Jato, até o veto da lista fechada de partidos nas eleições. "Nossa pauta principal é a defesa da Lava Jato e a prisão de Lula, mas surgiram outras que dispersaram o foco. A pauta precisa ser específica", lamenta a economista Maria Fernanda Gomes, coordenadora do movimento no Rio. “Você, por exemplo, fala de fundo partidário e é complicado para as pessoas entenderem”, afirmou.
Apesar da menor concentração, o entusiasmo dos manifestantes se manteve nas homenagens ao juiz Sérgio Moro e os pedidos de prisão do ex-presidente Lula. No Rio, não foram ouvidos gritos contra Temer e as críticas ao Governo foram comedidas. "Não é momento de pedir a saída de Temer e ter um novo período de desestabilização", contemplaram vários manifestantes perguntados.
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