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Para a CIA, a Rússia interferiu na campanha a favor de Donald Trump

Presidente eleito ataca espiões e lembra erros em relação às armas de Sadam Hussein

Donald Trump, durante a campanha, em maio.
Donald Trump, durante a campanha, em maio.LUCAS JACKSON (REUTERS)
Marc Bassets

A CIA (serviço secreto norte-americano) acredita que a Rússia interferiu na campanha eleitoral dos Estados Unidos para favorecer o candidato vencedor, o republicano Donald Trump, segundo revelou na sexta-feira o jornal The Washington Post. A CIA, segundo a notícia, atribui a pessoas ligadas ao Governo russo a divulgação de mensagens de e-mail roubadas que acabaram prejudicando a candidata democrata, Hillary Clinton. A equipe de Trump questionou por meio de um comunicado as conclusões da agência de espionagem. O presidente Barack Obama quer esclarecer o caso antes de deixar o cargo, em 20 de janeiro.

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“É o mesmo pessoal que disse que Sadam Hussein tinha armas de destruição em massa”, argumenta a nota de Trump. Refere-se às conclusões – que se revelaram falsas, posteriormente - que serviram para que outro presidente republicano, George W. Bush, justificasse a invasão do Iraque em 2003. Quando assumir o cargo, Trump terá que trabalhar com os serviços de inteligência que agora acusa de difundir informação falsa.

Segundo fontes governamentais anônimas citadas pelo Post, pessoas ligadas ao Governo russo entregaram à organização Wikileaks as mensagens do Comitê Nacional Democrata e do presidente da campanha de Clinton, John Podesta. A Wikileaks as publicou. Antes, a espionagem norte-americana apontava a Rússia como responsável pelo roubo e divulgação das mensagens, mas não lhe atribuía explicitamente um objetivo em favor de um candidato com nome e sobrenome.

“A avaliação da comunidade de inteligência é que o objetivo da Rússia era favorecer um candidato em relação a outro, ajudar que Trump se elegesse. Esse é o consenso”, disse ao jornal um funcionário de alto escalão. Essa fonte teve acesso à informação que os responsáveis pela espionagem dos EUA deram a portas fechadas ao Senado.

Há poucos precedentes de intervenção estrangeira de tal dimensão nas eleições norte-americanas. Menos ainda para favorecer um candidato específico, que além disso acabou vencendo e será o próximo presidente.

Não existem provas conclusivas sobre o possível papel da Rússia, mas é pública a afinidade entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. Ambos trocaram elogios nos meses anteriores à eleição, e Trump, que se cercou de assessores pró-Rússia na campanha, prometeu melhorar as relações com Moscou caso se elegesse. E, em plena campanha, Trump incentivou a Rússia a piratear os e-mails de Clinton.

A resposta de pessoas do círculo de Trump e da Wikileaks, a organização que divulgou as mensagens democratas, é que as acusações contra a Rússia são teorias sem confirmação que fazem reviver a paranoia do terror vermelho —o medo da infiltração soviética nos EUA— da Guerra Fria e o macartismo.

Obama encomendou aos serviços de inteligência um relatório que deve ficar pronto antes de Trump assumir o posto. Não ficou claro se os resultados serão tornados públicos. O FBI (polícia federal dos EUA) já tem uma investigação em curso.

“É possível que tenhamos cruzado um novo umbral, e nos cabe levar isso em conta, fazer sua revisão e executar alguma ação complementar, para entender o que aconteceu e tirar as lições aprendidas”, disse na sexta-feira num café da manhã com jornalistas Lisa Monaco, conselheira de Obama em antiterrorismo e segurança interna.

A análise da Casa Branca se soma às petições de vários democratas no Senado e na Câmara para que o Governo dos EUA lhes forneça informações mais detalhadas sobre a ingerência russa e eventualmente elimine o sigilo dos dados.

Paralelamente, republicanos proeminentes no Senado críticos a Trump, como John McCain, preparam uma investigação sobre o caso, segundo o Post. Caso a ponham em marcha, podem provocar um confronto com o presidente Trump.

Trump nega que a Rússia esteja por trás da divulgação dos e-mails do Comitê Nacional Democrata e de Podesta. As mensagens, publicadas durante a campanha, não revelaram casos de corrupção nem fatos criminosos, mas foram um gotejar contínuo que ajudou a minar Clinton. Reforçaram sua imagem, entre parte da população, de política pouco transparente e até corrupta. Não ficou provado que o vazamento de e-mails tenha sido decisivo, mas quem o orquestrou provavelmente conseguiu seu objetivo.

“Não deve haver dúvida. Não foi algo feito por acaso. Não era um objetivo escolhido de forma arbitrária”, disse dias atrás o almirante Michael Rogers, chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA). “Foi um esforço consciente de um Estado-nação para tentar atingir um efeito específico.”

Em comunicado publicado em 7 de outubro, o Departamento de Inteligência Nacional e o Departamento de Segurança Interna apontaram a Rússia como responsável pela pirataria cibernética. “A Comunidade de inteligência dos EUA acredita que o Governo russo tenha liderado as recentes [ações] comprometedoras de e-mails de pessoas e instituições dos EUA, incluindo organizações políticas dos EUA”, informa a nota.

“Não creio. Não creio que interferissem”, disse Trump em entrevista publicada esta semana na revista Time. O jornalista lhe pergunta se acredita que os chefes da espionagem dos EUA tiveram motivação política para publicar tal declaração. “Acho que sim”, responde o presidente eleito.

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