Sem dinheiro, PT usará Lula e discurso contra “golpe” nas municipais
Com alianças prejudicadas, partido pede que não-petistas da chapa garantam ser anti-impeachment
Qualquer que seja o resultado final do processo de impeachment de Dilma Rousseff, a narrativa de que adversários políticos tentaram atacar o projeto social petista por meio de um "golpe" será o principal pilar do PT nas campanhas municipais, que já começaram, ainda que não oficialmente. Com as alianças partidárias prejudicadas pelo processo de afastamento da presidenta, o partido deve lançar mais candidaturas próprias neste ano. Em crise de imagem e com menos dinheiro para campanha, devido a proibição do financiamento empresarial, dependerá mais do corpo a corpo com eleitores e da presença em palanques de Luiz Inácio Lula da Silva, que já participou de eventos em Pernambuco neste mês para defender seu legado e discutir com aliados.
Uma resolução do PT nacional, divulgada em maio deste ano, determina que o partido não poderá se aliar a defensores do impeachment. Para se blindar de qualquer apoio que possa gerar constrangimentos à estratégia, a sigla, está, até, pedindo que possíveis parceiros de chapa garantam, por escrito, que defendem Rousseff. No Ceará, por exemplo, oito municípios já foram alertados pelo diretório estadual de que deverão repensar suas parcerias, que incluíam o PR e o Solidariedade. Alianças com PCdoB e PDT, aliados petistas que foram contrários ao impeachment, serão priorizadas. Mas, em casos de partidos em que os parlamentares se dividiram na votação, como o PMDB e o PSB, a situação será avaliada caso a caso. Diretórios estaduais do partido estão pedindo para que, em municípios em que as alianças com essas legendas sejam propostas, o candidato não-petista da chapa apresente uma carta, assegurando ser contrário ao impeachment da presidenta e deixando claro que apoia o projeto político-social petista. Com isso, querem também evitar a repetição de resultados da aliança com o presidente interino Michel Temer (PMDB), acusado pelos petistas de assumir o Governo e trair o programa petista que venceu nas urnas.
"O diretório estadual precisa de prova inequívoca. É preciso apresentar uma declaração em que o candidato reconhece o legado histórico do PT e se posiciona contra o impeachment. Não dá para ter um lado do palanque que defende uma coisa e o outro lado que defende outra", explica Bruno Ribeiro, presidente do PT de Pernambuco. Francisco de Assis Diniz, presidente do diretório do Ceará, para onde Lula seguiria depois do périplo pernambucano, diz que no Estado também se pede o documento, por orientação do diretório nacional. O ex-presidente, "principal cabo eleitoral do Ceará", nas palavras de Diniz, desmarcou a visita ao Estado porque os deputados José Guimarães e Luizianne Lins, que será a candidata à prefeitura de Fortaleza, não poderiam participar do encontro, marcado para as vésperas das eleições para a presidência da Câmara, já que participariam da votação em Brasília. A candidatura de um nome próprio do PT para capital cearense gerou rusgas no Estado. O governador Camilo Santana, que é do PT, mas tem um histórico divergências internas e uma aliança próxima com os irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT), defende apoio à reeleição do também pedetista Roberto Claudio, temendo não ter o apoio do grupo em sua própria reeleição em 2018.
O PT prevê ter, neste ano, 19 candidatos próprios a prefeito nas 26 capitais. Nas eleições passadas foram 17. E só anunciou nas demais capitais, até o momento, apoio a candidatos do PCdoB (Rio), PDT (São Luís e Cuiabá) e PSB (Salvador) -os dois primeiros partidos foram contrários ao impeachment e o terceiro se dividiu. Parceiros de 2012, como o PR, PRB e PMDB ainda não aparecem na lista de apoio nas capitais e, cada um deles, receberá até o momento, apenas um apoio nas 127 cidades com mais de 150.000 eleitores -nestes locais o PT terá 79 candidatos próprios até o momento. No Rio, onde PT costumava apoiar a candidatura do PMDB, os petistas anunciaram que não vão compor a chapa de Pedro Paulo, o peemedebista escolhido pelo atual prefeito, e apoiarão a campanha da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), uma das maiores defensoras de Rousseff na Câmara.
Teste de fogo
As campanhas municipais deste ano serão as mais difíceis para o PT e um termômetro da atual importância do partido no cenário nacional depois do impeachment. Diante do desgaste à imagem da legenda promovido pelo afastamento de Rousseff, pela crise econômica e pela Lava Jato , muitos nomes fortes nos municípios se desfiliaram. Levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo no ano passado, antes do afastamento temporário da presidenta, apontou que 11% dos prefeitos da sigla eleitos em 2012 haviam deixado o partido - 69 dos 619. A diminuição de seus quadros nos municípios pode prejudicar os planos de Lula de se tornar presidente novamente em 2018. As gestões municipais costumam funcionar como as principais vitrines dos partidos, já que as ações das prefeituras têm um impacto direto na vida dos cidadãos.
O PT já antecipa problemas em seu principal município: São Paulo. O prefeito da sigla, Fernando Haddad, aparece em terceiro lugar na disputa eleitoral, segundo a última pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta. O levantamento mostra que ele perdeu apoio principalmente entre os mais pobres, principais sustentadores do Partido dos Trabalhadores.
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