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A chama do Rio já arde em Olímpia

A 100 dias dos Jogos, os raios de sol acendem na Grécia a tocha que chegará ao Brasil em 3 de maio

Tocha olímpica é acesa.Foto: reuters_live | Vídeo: T. S. (AP) | REUTERS-QUALITY
Carlos Arribas

Ao meio-dia em ponto (horário local) desta quinta-feira 21 de abril, a atriz Katherina Lehu, no papel de sacerdotisa, acendeu a tocha que daqui a 100 dias e uma semana começará a arder no estádio olímpico do Rio de Janeiro, nas Olimpíadas 2016. A sacerdotisa e suas vestais captaram os raios de sol em um espelho parabólico diante do tempo de Hera, em Olímpia, o local onde se celebravam os Jogos Olímpicos na Antiguidade.

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A chama gerada na grande lupa acendeu a tocha que, passando de mão em mão de 450 pessoas, algumas delas vestindo a fustanella, a túnica típica local, atravessará a Grécia, em um percurso de mais de 2.000 quilômetros que inclui a cidade de Maraton e a ilha de Corfu e que se concluirá no estádio de Panathinaiko, em Atenas, sede, há 120 anos, dos primeiros Jogos da era moderna. Depois disso, protegida por uma tela que lembra as lanternas dos mineiros, ela viajará de avião rumo ao museu olímpico de Lausanne, onde arderá por uma semana, partindo, em 2 de maio, para Brasília.

Milhares de pessoas, em revezamento, a farão brilhar por todo o Brasil em uma viagem de quase 100 dias que se encerrará em 5 de agosto no estádio olímpico do Rio. O primeiro a levar a tocha, na Grécia, foi o ginasta Lefteris Petrunias, mas o mais aplaudido será certamente um refugiado anônimo sírio que, em nome de todos os que sofrem com as guerras, a levará por um trecho que passa pelo campo de refugiados de Eleonas. O bicampeão olímpico pela Seleção Brasileira de Vôlei, o atleta Giovane, também carregou a tocha olímpica, representando o Brasil. 

O bicampeão olímpico Giovane, pela Seleção Brasileira de Vôlei, com a tocha em mãos durante a cerimônia em Olímpia, na Grécia.
O bicampeão olímpico Giovane, pela Seleção Brasileira de Vôlei, com a tocha em mãos durante a cerimônia em Olímpia, na Grécia.Valerie Gache

Há tradições olímpicas que, por sua cenografia e pelos valores simbólicos que as envolvem, parecem ter nascido há séculos e séculos na Grécia antiga, em um dos templos de Olímpia onde se celebravam os Jogos da antiguidade. O fogo, a pira e a tocha levada em revezamento por pessoas a pé até o estádio são comumente associados ao mito de Prometeu, punido eternamente por Zeus por ter dado aos homens roubando dos deuses, ou ao seu valor purificador, símbolo da paz eterna. No entanto, nem a pira em que a chama arde nos estádios olímpicos durante toda a duração das competições nem as cerimônias de acendimento e do transporte popular em revezamento da tocha existiam na antiguidade.

Milhares de pessoas, em revezamento, a farão brilhar por todo o Brasil em uma viagem de quase 100 dias que se encerrará em 5 de agosto no estádio olímpico do Rio

A chama olímpica ardeu pela primeira vez nos Jogos de Amsterdã, em 1928, e a tocha acesa em Olímpia e transportada ao estádio foi uma invenção de Carl Diem, diretor-geral do comitê organizador dos Jogos nazistas, os de Berlim, em 1936, há 80 anos, com o objetivo de legitimar a origem clássica de seu regime. No caminho até Berlim, a chama acesa em Olímpia em 20 de julho em uma cerimônia muito semelhante às de hoje em dia, percorreu 3.075 quilômetros, levada em uma tocha fabricada em aço inoxidável pela Krupp, que interrompeu brevemente a sua produção de tanques e canhões, por 3.075 corredores em revezamento a uma média de 12 quilômetros por hora, um quilômetro cada um. Durante 13 dias e 13 noites, eles cruzaram, por estradas e trilhas, a Grécia, a Bulgária, a Iugoslávia, a Hungria, a Áustria e a Tchecoslováquia, em uma rota inversa à que três anos depois os exércitos de Hitler empreenderiam em seu percurso de conquista, destruição e anexação durante a Segunda Guerra Mundial.

Somente em 1948, nos Jogos de Londres, os primeiros Jogos da paz, a tocha e o revezamento ganharam o valor simbólico de anúncio e proclamação da paz entre os povos, adotado para sempre.

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