Prestes a perder guerra do impeachment, Governo Dilma negocia votos um a um
PSD permanece na base do Governo, mas maioria dos 36 deputados decide votar pelo impedimento
"Agora já tem a caneta vermelha, para o PT", debochava o deputado Carlos Manato (SD-ES) pelos corredores da Câmara dos Deputados ao coletar palpites para o "bolão do impeachment" da presidenta Dilma Rousseff. A brincadeira, na definição de Manato, contava com 13 apostas de 100 reais no início desta tarde, todas com placares favoráveis ao impedimento. Essas avaliações não representam exatamente as tendências da votação — o governista PDT anunciou nesta quarta-feira que dará seus 20 votos para a presidenta —, mas é cada vez mais arriscado apostar a favor de Dilma na Câmara.
O Governo resiste em jogar a toalha. Questionada por jornalistas sobre o processo nesta quarta-feira, Dilma tentou manter as esperanças: "Digo qual é o meu primeiro ato pós-votação na Câmara [em caso de vitória]: a proposta de um pacto, de uma nova repactuação entre todas as forças políticas, sem vencidos e sem vencedores. Seja pós-Câmara, mas também pós-Senado, sobretudo. No pós-Senado, é que isso será mais efetivo". A presidenta admitiu, contudo: "se eu perder, sou carta fora do baralho". Ela convocou dez jornalistas para uma coletiva na manhã desta quarta, onde reafirmou que seu vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, trabalham em sociedade pelo golpe. “Chefe e vice-chefe do golpe”, afirmou ela, segundo o portal UOL que participou da entrevista.
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De acordo com o relato dos jornalistas presentes, a presidenta transmitiu tranquilidade, e apesar das baixas no Governo, avaliou que é natural viver uma “guerra psicológica” na reta final deste processo.
A Câmara, onde o processo dá o primeiro passo, encaminha-se para o domingo inclinada a votar pelo impedimento da presidenta. Depois de PMDB e PP abandonarem a base aliada no Congresso Nacional e de partidos como PSB e PRB fecharem posição para votar em bloco contra Dilma, o PSD, uma das últimas esperanças do Palácio do Planalto, anuncia que vai liberar sua bancada — majoritariamente a favor do impeachment — para votar como bem entender. Nas contas mais conservadoras, 26 dos 36 deputados do PSD votarão pelo envio do processo ao Senado.
Agora, sem conseguir atuar no atacado, o Governo Dilma Rousseff está tentando obter no varejo os votos que lhe faltam para evitar o andamento do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Depois dos últimos anúncios de rompimentos ou de declarações de votos a favor da destituição presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) começaram a ter conversas individuais com os parlamentares. Antes, os diálogos ocorriam principalmente com os líderes das bancadas e com presidentes dos diretórios nacionais.
Assessores e ministros de Dilma usaram o caso dos parlamentares do PP – que contrariaram o seu presidente e o líder da bancada para anunciar voto pelo impeachment – como o principal exemplo do insucesso na condução das negociações.Três deputados do PP que conversavam nos corredores da Câmara nesta quarta-feira debatiam onde foi a falha governista. "O Governo disse que colocaria o Ricardo Barros no Ministério da Saúde sem consultar ninguém. Fez um acordo com o líder e nem consultou a maioria. Foi a gota d'água para a rebelião e mostrou que, se permanecer, a Dilma continuará a mesma. Sem fazer política, sem dialogar, sem ouvir a base", ponderou um deles.
Com o desembarque do progressista, o efeito dominó já era esperado pelo Planalto: a declaração do PSD ou o completo rompimento do PRB. O novo temor é que o PMDB não entregue para Dilma os votos que diz ter (entre 20 e 30 de uma bancada de 67), haja defecções em grupos que declararam apoio aberto (como o PDT que tem 20 deputados) ou alguns nomes específicos de partidos nanicos, como do PTN e do PROS, mudem o voto conforme o andamento das manifestações no fim de semana. “As pressões que esses deputados sofrem vêm de todos os lados. Nas conversas, tentamos evitar que isso interfira muito na decisão final deles”, disse um auxiliar do Governo.
Nesta quinta-feira, será a vez do PMDB anunciar o seu posicionamento. A tendência é que o líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ) libere o voto de sua bancada. A decisão, tomada após uma conversa com o vice-presidente, Michel Temer, ainda precisa ser referendada pelos 66 deputados peemedebistas. "O que ficar decidido eu falarei no microfone, por mais que não concorde com o impeachment e tenha sido contra o rompimento com o Governo", afirmou Picciani.
Para amenizar perdas, a gestão Rousseff autorizou que três deputados licenciados do PMDB que hoje são ministros retornem para seus cargos apenas para votarem contra o impedimento da mandatária. Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia, Mauro Lopes, da Aviação Civil, e Marcelo Castro, da Saúde, devem retornar aos seus gabinetes no Legislativo entre quinta e sexta-feira.
O clima de que uma derrota se aproxima para a petista é tamanho que as estimativas de deputados favoráveis ao impedimento registram adesões dia a dia e se aproximam do mínimo necessários de 342 votos. Por outro lado, a lista de contrários permanece orbitando em torno de 120 votos. Para interromper o processo na Câmara, o Governo precisa de 172 deputados votando ao seu favor, se abstendo ou se ausentando. A guerra dos placares já chegou até aos votos para a sequência do processo no Senado. De acordo com contagem do jornal O Estado de S.Paulo, 42 dos 81 senadores já se posicionaram a favor do impedimento de Dilma. Apenas 17 disseram ser contra o processo.
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