Seis coisas que um carioca pode estranhar no Carnaval de São Paulo
O carnaval da capital pode ser tão divertido quanto qualquer outro, ainda que tenha suas peculiaridades
Sou carioca, mas vou passar o Carnaval em São Paulo. Pronto, falei.
Já sei que isso é uma loucura. Mais ainda pelo fato de que, por diversos motivos, não passo o carnaval no Rio há anos. Deveria me redimir, mas não. Escolhi o concreto.
Mas deixemos os preconceitos de lado. Não são poucos os que dizem que o Carnaval de rua floresceu em São Paulo nos últimos anos. Não posso opinar a respeito porque este é apenas o meu segundo ano na cidade. Mas a julgar pelo pré-carnaval nas últimas semanas, a verdade é que a folia aqui também pode ser divertida.
Não vou me aventurar a fazer comparações profundas com o carnaval do Rio porque, como disse, não tenho estado lá nos últimos anos e muita coisa pode ter mudado. Ainda assim, não pude deixar de notar determinadas peculiaridades no carnaval da capital paulista.
1. Repressão da PM a um bloco
Os protestos em São Paulo foram temporariamente suspensos, mas o mesmo não pode ser dito da chuva de bombas de gás da Polícia Militar. Aconteceu na semana passada na Vila Madalena, reduto boêmio da zona oeste da capital. Segundo relatos, um bloco não terminou na hora combinada, havia muito lixo na rua, um início de confusão e, para dar um basta em tudo isso, a PM decidiu usar a força para dispersar os foliões, como se estivesse dispersando uma manifestação. Muitos vizinhos do bairro inclusive instalaram câmeras de vigilância para flagrar possíveis abusos dos foliões. O carnaval no bairro só pode agora durar até as 20h, muito cedo para os padrões de São Paulo. E se resolverem desrespeitar, já sabem o que pode acontecer.
E não foi um caso isolado. A PM, controlada pelo Governo Alckmin, fez o mesmo em Santos e Campinas. No Rio, com exceção de alguma confusão ou outra, você consegue imaginar a polícia dispersando algum bloco com bombas? Não, né?
2. Menos beijo na boca, mais respeito
O Carnaval é época de pegação em qualquer lugar do Brasil, mas no Rio (e também no Nordeste) ela é vivida com mais intensidade (dá um tempo, zika vírus...). Na Cidade Maravilhosa, namoros são rompidos, fossas são superadas porque, afinal, "o carnaval está aí", uhuu. Durante quase um mês, a cidade se transforma em uma grande micareta onde "ninguém é de ninguém". O mesmo acontece em São Paulo, mas parece que com menos intensidade. Os paulistanos e paulistanas parecem ser menos espalhafatosos, e sim mais contidos e discretos.
Por outro lado, essa sensação de liberdade generalizada no Rio faz muitos pensarem que têm o direito de fazer o que querem. O assédio é mais descarado e, infelizmente, uma das cenas clássicas do carnaval carioca é um homem puxando o cabelo de uma mulher e tentar beijá-la a força. Óbvio que este tipo de comportamento também pode acontecer em São Paulo, mas parece ser menos comum. Nesses dias de pré-carnaval, não vi nenhum caso.
3. Menos homem vestido de mulher
A criatividade e a preparação do carioca ao se fantasiar para o carnaval é conhecida e, neste quesito, melhor evitar comparações — embora, justiça seja feita, alguns paulistanos e principalmente paulistanas se esforcem e consigam um excelente resultado.
Mas uma coisa chama atenção em São Paulo: poucos homens saem vestidos de mulher. Já no Carnaval do Rio, em seu vasto universo de disfarces, é muito comum que homens, independente de sua orientação sexual, escolham sair empregadas domésticas, freiras, super-heroínas, noivas, avós...
4. Não necessariamente você vai escutar um samba
O samba pode ser só um detalhe em alguns blocos. Em um deles, no último final de semana, durante horas e horas ficou tocando músicas de rock nacional e da MPB, como Cazuza, Rita Lee, Caetano Veloso, Sidney Magal, entre outros. E não havia nenhuma batida de samba. Tudo muito alternativo. Só muito depois uma banda assumiu o posto e tocou algumas marchinhas clássicas enquanto o carro de som se movimentava. O bloco Carnaval Latino, que se apresenta segunda no Mirante da 9 de Julho, traz DJs da Bolívia e Peru para selecionar samba-rock, funk e soul, e claro, latinas, algo nunca associado ao Carnaval no Rio...
5. Menos isopor com cerveja
A cada cinco passos no Rio, seja em um bloco no centro da cidade ou na praia de Ipanema, há um vendedor ambulante com um enorme isopor cheio de gelo e cerveja. Já em São Paulo, a quantidade de vendedores é infinitamente menor. Você pode ter que se afastar de seus amigos durante vários minutos em busca alguém que venda cerveja. Considere a opção de buscar um bar ou supermercado aberto. Muitos foliões inclusive levam seu próprio cooler portátil com suas próprias bebidas, e o arrastam em um carrinho durante todo o bloco.
Outra coisa que chama atenção é que, no Rio, os vendedores são majoritariamente pessoas de baixa renda que se sustentam com a venda de rua. Em São Paulo é comum que pessoas de classe média alta aproveitem o carnaval para ganhar um dinheiro extra. Simplesmente estacionam o carro em uma esquina e abrem o porta-malas com um isopor cheio de Heineken ou Stella Artois.
6. Dançar debaixo de um viaduto? Normal
Você marca com os amigos de ir na festa de um dos melhores blocos paulistanos, o Tarado Ni Você, com músicas do Caetano Veloso tocadas em ritmo de samba. Chega, caminha por uma antiga ferrovia e, de repente, encontra centenas de pessoas fantasiadas sambando ...debaixo de um viaduto. Muito legal. E muito São Paulo.
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