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A infantaria do impeachment de Dilma tentará a sorte nas eleições

Grupo liberal polêmico por posts agressivos na rede, MBL lançará mais de uma centena de candidatos

O pré-candidato Fernando Holiday.
O pré-candidato Fernando Holiday.Reprodução

Linha de frente na campanha pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), o Movimento Brasil Livre, o grupo de inspiração liberal responsável pela organização de vários atos contra o Governo e polêmico por seus posts agressivos nas redes, pretende testar sua sorte nas eleições. Este ano ao menos 140 candidatos ligados ao grupo devem aparecer nas urnas eletrônicas na disputa municipal. “Nós temos uma visão de que hoje é muito difícil dar vazão a uma vontade de mudar sem estar dentro do jogo”, afirma Renan Santos, um dos fundadores do MBL. Para especialistas, os candidatos do MPL podem capitalizar com a crise política do Governo no pleito deste ano. Além de entrar de cabeça na política partidária, no entanto, o grupo continua militando pelo afastamento de Dilma: uma nova manifestação pelo impedimento já está agendada para 13 de março na avenida Paulista, em São Paulo, e em diversas outras cidades.

Até o momento, não consta nos planos do MBL a criação de um novo partido, logo seus candidatos terão que se filiar a legendas já existentes. Em vários municípios o grupo já está em negociações avançadas com DEM, PSC e PPS. “Somos um movimento de oposição. Não faria sentido irmos para partidos da base [aliado do Governo]”, afirma Santos. Além de emplacar candidatos próprios que integram o movimento, políticos que não são ligados diretamente ao MBL também podem receber o endosso do Brasil Livre, desde que estejam alinhados com a cartilha liberal do grupo. Aliás, a falta de opções nas urnas que se enquadrem no ideário dos militantes foi outro fator que os motivou a entrar no jogo político. “O que percebemos é a falta que faz ter representantes que falem o que pensamos”, explica Santos, que cita o exemplo de São Paulo como emblemático. “Você tem a esquerda, uns qualificados, outros não, e uns que não são nem conservadores, são arcaicos. Nós nunca negamos que gostaríamos de ocupar um espaço na política”, diz. A bandeira do impeachment, levantada pelo grupo antes mesmo que políticos da oposição engrossassem o coro pelo afastamento de Dilma, continuará uma prioridade do MBL.

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O cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília, diz que nas eleições deste ano, levando em conta o desgaste que os partidos da base aliada sofrem com as investigações da Lava Jato e a crise econômica, “qualquer candidato de oposição leva vantagem com relação a políticos ligados à base”. De acordo com ele, o fato de o MBL ser um dos mais antigos defensores do impeachment da presidente Dilma também pode atrair votos para seus candidatos – que ainda são desconhecidos da maioria das pessoas, mas tem forte presença nas redes sociais. "É bom lembrar que rede social não vota. Não adianta ter muitos seguidores, é preciso ver como eles conduzirão a campanha", conclui.

A página principal do grupo no Facebook conta com mais de 300.000 seguidores, e frequentemente os vídeos postados alcançam mais de 20.000 visualizações – um deles no qual o Kim Kataguiri, uma das lideranças, ataca o humorista Gregório Duvivier, foi visto por mais de 80.000 pessoas. Aliás, Kim agora tem uma outra plataforma para expor suas ideias: desde o início do ano ele assina coluna no jornal Folha de S.Paulo.

Alinhado à sua própria cartilha liberal, o grupo critica a intervenção do Estado na questão das doações empresariais para campanhas políticas, proibidas pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado - "As empresas devem ter a liberdade de contribuir com os candidatos que quiserem". Mas fazem ressalva quanto às companhias investigadas por corrupção, de quem afirma que não aceitariam dinheiro.

Lista suja

O primeiro ponto é a redução do tamanho do Estado no município

O MBL e o Vem Pra Rua também irão elaborar uma espécie de lista suja, com os nomes de candidatos em quem eles não recomendam o voto. Até agora, dos candidatos existentes na capital, o tucano João Doria, que afirmou ao EL PAÍS que estaria disposto a adotar uma agenda liberal com a privatização do Estádio do Pacaembu e de outros patrimônios municipais é o que mais agrada o MBL, mas o grupo ainda não fechou questão sobre o tema.

Uma das apostas do grupo na cidade é o jovem Fernando Holiday. Polêmicas à parte – no ano passado ele comparou Zumbi dos Palmares a Adolph Hitler –, o pré-candidato diz que sua campanha “vai procurar em todas as áreas, transporte, educação e saúde, dar mais poder aos mais pobres”. Na área de mobilidade, ele aponta que “o principal seria tirar o monopólio da mão da Prefeitura”. “Acredito que o município deveria abrir oportunidades para que microempresários pudessem oferecer novos modais e linhas, e permitir que eles concorram com preços e qualidade”, afirma. De acordo com Holiday, isso faria com que “a população mais pobre possa escolher por quem ser transportado e quanto quer pagar por isso”. Questionado sobre o impacto que o ideário liberal do grupo pode ter na população, Holiday  diz acreditar que “quando se fala em reduzir impostos para um pequeno comerciante da periferia, de reduzir o Estado, elas [as pessoas] ficarão fascinadas”.

O advogado Rubens Nunes, de 27 anos, outro fundador, é um dos possíveis candidatos do Brasil Livre na cidade de Vinhedo, no interior paulista. No ensino, por exemplo, a ideia defendida por Nunes é gradativamente fechar o sistema público e colocar os alunos no ensino particular, com um sistema de vouchers. “O custo por aluno é mais barato [no ensino privado] do que na rede pública”, diz. Questionado se a ideia de acabar com o sistema público não irá assustar o eleitor – tendo em vista a derrota política sofrida pelo governador Geraldo Alckmin ao recuar após tentar fechar algumas unidades -, Nunes acredita que é possível mostrar o lado bom das PPPs (parcerias público-privadas) para a população. “O eleitor brasileiro sofreu um trabalho das bases socialistas muito grande, mas amadureceu a duras penas”, afirma. 

O grande problema das pessoas terem essa boa visão do Estado é isso, elas nunca ouviram o outro lado, nunca ouviram falar do liberalismo

Rio de Janeiro e onda liberal

No Rio de Janeiro, Bernardo Montoro, advogado e professor da UFRJ de 33 anos, é o único, por enquanto, com uma candidatura em mente. Ele ainda está levantando recursos para a campanha eleitoral como candidato a vereador pelo Partido Social Cristão (PSC). "Eu tenho uma história no partido. Fui eu quem escreveu o Plano de Governo do Pastor Everaldo para a presidência da República", explica. Montoro é o principal rosto do MBL nas passeatas anti-Dilma. Defensor da bandeira anticorrupção, ele nunca se posicionou especificamente contra o presidente da Câmara Eduardo Cunha. "Ser contra o PT não é ser a favor de Eduardo Cunha. Não temos parceria com ele. Se se demonstrar envolvimento de Cunha na Lava Jato, pedimos também a saída dele. Mas a de Dilma é emergencial", disse na marcha de 19 de agosto, no Rio. O eixo da sua candidatura consistirá nas promessas de reduzir impostos, burocracias e defender a legalidade para que empresas como Uber possam funcionar na cidade.

"As manifestações de 2013 foram voltadas contra serviços públicos, e levando em conta que agora o que está em jogo são os níveis municipais, que são os grandes prestadores desses serviços, os candidatos do MBL podem capitalizar", afirma o coordenador do departamento de Ciências Sociais da PUC do Rio, Eduardo Raposo. Raposo não aposta que o discurso liberal do grupo vá afugentar o eleitorado. “A crise de 2008 empurrou muitos países para um cenário estatizante. Mas acho que em breve teremos novo ciclo liberal”, afirma, fazendo a ressalva de que “o ultraliberalismo implementado em um país que precisa incluir de forma cidadã tanta gente pode ser perigoso, mas um Estado que se corrompe aos olhos de todos é o outro lado do paradigma”.

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