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Maduro renova o gabinete, mas insiste na sua aposta econômica

Presidente da Venezuela amplia a burocracia e decide aprofundar os controles econômicos em um país mergulhado numa crise profunda

O presidente Nicolás Maduro (à direita) cumprimenta Luis Salas, novo ministro da Economia Produtiva.Foto: atlas | Vídeo: ATLAS / EFE

Nem um passo atrás. O lema criado pela oposição nos meses e semanas anteriores ao golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez em 2002 poderia agora ser parte da aposta do Governo de Nicolás Maduro para enfrentar pela primeira vez uma Assembleia Nacional dominada por seus adversários políticos. Na noite da terça-feira, Maduro anunciou os novos integrantes do seu gabinete. Há apenas uma certeza: o chefe de Estado venezuelano mantém a aposta em um modelo de controles que levou a nação sul-americana à ruína, fazendo do país o campeão mundial da inflação, com um crônico problema de desabastecimento.

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A resposta à crise econômica foi o aumento da burocracia, a ratificação de alguns dos seus colaboradores e uma completa renovação na área econômica, na qual se destaca a criação de três novos ministérios. Trata-se de uma mudança apenas cosmética. Maduro — que insiste na narrativa de uma “guerra econômica” entre a oligarquia e os setores populares por ele representados — nomeou funcionários que estão convencidos de que o problema não é o modelo, e sim a aplicação incorreta dos controles.

Dentro desse grupo se destaca o novo ministro da Economia Produtiva, Luis Salas, de 39 anos, acadêmico da Universidade Bolivariana da Venezuela, a quem caberá também coordenar todo o gabinete econômico. Salas defende a ideia de que o governo venezuelano é vítima de um ataque desumano dos capitais locais, é partidário dos controles de preços e da manutenção dos controles cambiais em vigor desde 2003 e participa da demonização da iniciativa privada venezuelana, qualificada por ele de “parasitária” e “captadora da renda petroleira”. Recentemente, prefaciou um livro do economista espanhol Alfredo Serrano Mancilla, assessor do governante venezuelano, intitulado A América Latina em Disputa.

Chegam ao gabinete econômico também Miguel Pérez Abade (ministro de Indústria e Comércio), Jesús Farías (Comércio Exterior e Investimento Internacional), Wilmar Castro Soteldo (Produção Agrícola e Terras), Ángel Belisario (Pesca e Aquicultura), Rodolfo Medina (Bancos e Finanças) e Enma Ortega, como responsável pela nova pasta da Agricultura Urbana, uma iniciativa com a qual Maduro se propõe a descobrir uma vocação agrícola das localidades mais povoadas. “Cilia [Flores, a primeira-dama] e eu temos 50 galinhas na nossa casa. É hora de desenvolver uma nova cultura produtiva”, acrescentou o mandatário ao justificar suas decisões.

Maduro também nomeou um novo vice-presidente executivo, Aristóbulo Istúriz, atualmente governador do Estado de Anzoátegui (leste). Analistas acreditam que essa nomeação transmite à oposição um sinal de disposição ao diálogo. Istúriz, que no passado militou na Ação Democrática, o partido social-democrata ao qual pertence o novo presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, representa a cota de experiência no manejo político que o regime de Maduro precisa somar.

Outras nomeações

Jorge Arreaza, Educação Universitária

Luisana Melo, Saúde

Rodulfo Pérez, Educação

Gladys Requena, Assuntos da Mulher

Clara Vidal, Assuntos Indígenas

Iris Varela, Assuntos Penitenciários

Freddy Ñáñez, Cultura

Mervin Maldonado, Juventude e Esporte

Osvaldo Vera, Trabalho

Delcy Rodríguez, Relações Exteriores

Gustavo González López, Interior, Justiça e Paz

Vladimir Padrino López, Defesa

Luis José Marcano, Comunicação e Informação

Gerardo Esquerdo Torres, Fronteiras

Isis Ochoa, Comunas

Luis Sauce, Transporte e Obras Públicas

Manuel Quevedo, Hábitat e Moradia

Luis Motta Domínguez, Energia Elétrica

Ernesto Paiva, Ecossocialismo e Águas

Ricardo Menéndez, Planejamento

Continuam no gabinete econômico o militar aposentado Rodolfo Marco Torres, agora como Ministro da Alimentação; Eulogio del Pino, em sua dupla função de titular da pasta de Petróleo e Mineração e presidente da Petróleos de Venezuela; e Marleny Contreras, ministra do Turismo.

A renovação do gabinete surgiu a partir de uma série de propostas recebidas pelo líder venezuelano, após a surra eleitoral sofrida em 6 de dezembro. Para atingir o objetivo, o chavismo realizou, durante a última quinzena de dezembro, o Congresso Econômico do Pensamento Socialista, do qual, segundo o relato oficial, teriam surgido algumas das propostas após cinco dias de debates. Na verdade, de acordo com informações da jornalista Mayela Armas, do portal local Crónica Uno, do evento, que foi coordenado pelos atuais ministros Luis Salas e Jesús Farias, nunca saiu uma proposta única para o presidente.

Parte dos economistas chavistas está convencida de que é necessário um plano de ajuste que inclua a simplificação da miscelânea do regime cambial — na Venezuela, existem três taxas de câmbio oficiais, de acordo com a categoria importada, e uma não oficial, com a qual são estabelecidos os preços de alguns bens e serviços na economia — e um aumento do preço da gasolina, que é praticamente dada de graça no país. Farías recomendou esses ajustes há seis meses. Em julho de 2015, pediu que o Governo "ajustasse os controles de câmbio à nova realidade do país", implementando duas taxas de câmbio: uma fixada pelo Governo para as categorias prioritárias, e outra onde o dólar oscilaria entre duas faixas de preços.

Por enquanto, Maduro parece ter seguido os conselhos de seu assessor Alfredo Serrano, em quem confia muito, e que é a favor de radicalizar os controles. Na 50a edição do programa “Em Contato com Maduro”, em 8 de dezembro, o chamou de "um teórico da economia cristã. O Jesus Cristo da economia", acrescentou.

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