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CRÍTICA | ‘Star Wars VII – O despertar da Força’
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

Os fãs continuarão amando ‘Star Wars’, mas eu um pouco menos

Eu me diverti moderadamente com este circo anfetamínico. Preferiria que durasse um pouco menos. É o meu gosto.

Fotograma do trailer de Star Wars: O acordar da Força.Vídeo: Realización: L.M. Rivas
Carlos Boyero

Tenho a ingrata e aflitiva sensação de estar em um aeroporto passando por controles minuciosos e por fronteiras que dedicam atenção especial e compreensível para a identificação dos visitantes, quando, na verdade, estou apenas tendo acesso a algo tão supostamente inócuo como ver um filme na cabine para a imprensa. Agradecendo que as pessoas que revistam os meus bolsos e o meu corpo, que me fazem assinar documentos em que me comprometo a respeitar o embargo da suposta joia e não divulgar minha opinião sobre ela antes que os seus proprietários me liberem para isso, que confiscam meu celular antediluviano, sejam educadas e bastante profissionais. Mas você também se pergunta se não está, por acaso, entrando na sede da CIA ou no Pentágono, ou se simplesmente quer ir ao cinema. E deduz, então, que o que você irá ver é mais do que um filme. É um acontecimento sociológico e um negócio com enormes pretensões de arrecadação. Portanto, não pode se expor ao risco de nenhuma pirataria, a que os inescrupulosos postem o seu monumental investimento na Internet e que a bilheteria milimetricamente calculada possa perder um ingresso que seja. Se você soma a isso a arrecadação com merchandising, videogames, quadrinhos e trilha sonora, o montante deve ser estratosférico.

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Você adivinhou. É o sétimo episódio de Star Wars, o primeiro da terceira trilogia da saga, mas que, na verdade, é a continuação da primeira, já que a segunda contava o que havia acontecido antes da primeira. Enfim, um pouco bagunçado. Intitula-se O Despertar da Força. E aqui vai todo o meu respeito aos milhões de admiradores que poderiam resumir o que significa o cinema para eles em apenas quatro palavras: “A guerra das galáxias”. Mais do que o cinema, até. Para muitos, trata-se também de uma religião ou do mito mais adorado. Não é o meu caso. No início, eu me diverti bastante com ela. Aquilo era um western bastante engenhoso, apaixonante, imaginativo, respeitando os velhos códigos, utilizando virtuosamente as novas tecnologias. E também gostei da primeira aparição do perturbador Yoda em O Império Contra-ataca. Mas fui perdendo o entusiasmo progressivamente, descontente com o “mais do mesmo”, e a segunda parte da saga me pareceu francamente pesarosa.

O bastante prestigiado J. J. Abrams (criador de Lost, que abandonei na segunda temporada) é que dirige O Despertar da Força. E o faz sem dar um minuto de respiro para os personagens nem para o espectador, com uma estética deslumbrante e sem dar descanso, em quase nenhum plano, à música extraordinária de John Williams. Teve a ajuda, no roteiro, de Lawrence Kasdan, um diretor cujo talento, lamentavelmente, desidratou-se muito cedo, depois de ter criado os excelentes Fogo no Corpo, Reencontro e O Turista Acidental. Suspeito que não tenha sido exigido um esforço muito grande de seus neurônios. Abusa-se da repetição de um imaginário infalível (ah, aquela taverna cheia de espécimes raras, aquele sujeito sem-vergonha entre um Yoda e um Mas Kanata, a inclusão de um robô anão) e se introduz Rey, uma catadora de sucata que o faz muito bem, que gerará muitos jogos na sequência, e Finn, um personagem sem interesse algum interpretado terrivelmente por um ator negro. E, como não poderia deixar de ser, também está presente Han Solo, que envelheceu bem, a princesa Leia, tão tonta como maltratada, e Luke Skywalker, que nunca despertou grandes paixões. E dois vilões que não me convencem, que me fazem ter saudade da tenebrosa presença de Darth Vader.

Eu me diverti moderadamente com esse circo anfetamínico. Preferindo que tivesse durado um pouquinho menos. É o meu gosto. Mas entendo que esse filme seja capaz de levar ao êxtase uma quantidade infinita de espectadores. E é fantástico que o cinema, na telona, no escuro da sala, em três dimensões espetaculares, continue a desfrutar de um público maciço e entusiasmado nestes tempos em que se anuncia a sua definitiva agonia.

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