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EL ACENTO
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A mulher que acabou com a festa de Donald Trump

A republicana Carly Fiorina emerge de um debate contra o multimilionário como uma possível candidata de seu partido à Casa Branca

Jorge Marirrodriga
Carly Fiorina, candidata republicana à Casa Branca.
Carly Fiorina, candidata republicana à Casa Branca. Richard Shiro (AP)

Ocorre com mais frequência do que parece. No final, quem acaba com a festa do valentão da classe é uma mulher. Enquanto seus companheiros masculinos tentam passar despercebidos e olham assobiando para o outro lado, ela joga na cara dele o que todos pensam. E o obriga a recuar. Foi exatamente isso o que aconteceu com o autoproclamado macho alfa do cenário político norte-americano, Donald Trump, que desde o anúncio de sua candidatura à indicação republicana à Casa Branca – na verdade, desde muito antes – distribuiu insultos, desprezos e barbaridades a torto e a direito. É verdade que é preciso reconhecer que o multimilionário, em algo, é igualitário – insulta com o mesmo descaramento a qualquer um que tenha pela frente, seja ele o presidente dos EUA, uma apresentadora da TV conservadora Fox ou um imigrante mexicano. Para ele, o que conta é se a pessoa é negra, mulher ou não fala inglês. Se por acaso reunir as três características, melhor ainda.

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Com o moral nas nuvens por causa de algumas pesquisas que apoiavam sua tese populista e uma influência cada vez maior no discurso de seus concorrentes dentro do partido, Trump se apresentou esta semana em um debate televisionado com outros candidatos à indicação. Mas seus golpes dialéticos se depararam com uma mulher a quem – surpresa – tinha insultado e menosprezado. “Vejam essa cara, como se pode votar nisso?”, tinha dito sobre antes do debate. Longe de entrar na luta na lama que Trump adora, Carly Fiorina reagiu com classe, calma e educação. Pôs o milionário no devido lugar e emergiu do debate – ao qual chegara praticamente como candidata de recheio – como uma das figuras promissoras na corrida republicana à Casa Branca.

Fiorina marcou diferenças notáveis. Sua atitude foi como dizer a Trump: “Diga-me do que você se gaba e eu direi o que lhe falta”. E tem sua lógica. Diferentemente de Trump, que exige que todos trabalhem duro, mas herdou um próspero negócio familiar, Carly Fiorina sabe o que é começar de secretária e subir até se transformar em diretora executiva de várias grandes multinacionais. Além disso, nem ela nem seus antepassados mudaram o sobrenome, como fizeram os Drumpf, transformados em Trump. E mais, a candidata renunciou a seu sobrenome inglês de ascendência nobre para adotar – segundo o costume norte-americano – o sobrenome italiano de seu marido. Algo inconcebível para seu rival, cujas origens norte-americanas têm a mesma autenticidade de seu topete.

Não é, definitivamente, a semana de Trump, que foi substituído em seu reality show... por um imigrante. Trata-se de Arnold Schwarzenegger, um austríaco de quem dizer que fala inglês com um forte sotaque alemão é um eufemismo, que depois de fazer sucesso em seu trabalho teve a desfaçatez de se casar com uma mulher pertencente a uma das famílias americanas com mais pedigree – os Kennedy – e ainda por cima foi eleito democraticamente governador da Califórnia. A encarnação do sonho americano para qualquer imigrante. Sua frase mais famosa? Uma mescla de inglês e espanhol aplicável a Trump: “Hasta la vista, baby”.

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