Uma atriz colombiana faz um aborto e entra na mira da Justiça
Artista afirma que violaram sua privacidade e seus direitos como mulher
Carolina Sabino, conhecida atriz e cantora colombiana de 38 anos, demonstrou surpresa ao saber pelos meios de comunicações locais que o Ministério Público da Colômbia, em decisão polêmica, vai denunciá-la por um suposto aborto ilegal. O caso foi divulgado depois que os promotores interceptaram uma ligação telefônica de Sabino com sua irmã, a também atriz Lina Luna, casada com um hacker condenado em abril a 10 anos de prisão por espionar os negociadores do processo de paz com as FARC.
A chamada telefônica, de julho de 2014, veio à tona em meio à investigação que o MP fazia sobre o hacker, razão pela qual Luna era interceptada. Nela, aparentemente, Sabino conta a Luna que está grávida, o que a preocupa pelo que isso custaria a seu futuro profissional. Por isso teria interrompido propositalmente a gravidez.
A atriz rapidamente publicou comunicado em sua conta no Twitter, afirmando ter ficado surpresa por “um fato tão pessoal e doloroso ser exposto à população”. Também declara que violaram seus direitos. “Isso não só violou minha intimidade como atingiu minha dignidade e meus direitos como mulher, como pessoa e como cidadã”, escreveu.
Na Colômbia, as mulheres podem interromper a gravidez caso ela represente risco à sua saúde, haja má formação do feto ou a gestação resulte de estupro. Para os promotores, o caso de Sabino não se encaixa em nenhuma das exceções. Defensoras dos direitos das mulheres, como a advogada Mónica Roa, responsável por conseguir há quase dez anos a descriminalização do aborto nos três casos mencionados, dizem que é inaceitável que a “grande desinformação” que há sobre o direito de optar pela interrupção da gravidez, especialmente quando está em risco a saúde mental – que seria o caso de Sabino –, leve a que haja tudo isso. “No lugar de haver garantias para exercer esse direito reconhecido pela Corte Constitucional, as mulheres que recorrem ao aborto legal continuam sob risco de ser submetidas a processos judiciais”, disse Roa ao EL PAÍS.
É a mesma opinião de Catalina Ruíz, também ativista dos direitos da mulheres, que numa coluna no jornal El Espectador publicada neste sábado afirma que casos como o de Sabino enviam uma mensagem a todas as mulheres colombianas: “Nos diz que se usarmos nossos direitos sexuais e reprodutivos, o Ministério Público nos perseguirá e arrastará nossa honra para os meios de comunicação”.
Roa também demonstrou preocupação de que essa desinformação leve as mulheres a preferir o caminho clandestino. “É fundamental aproveitar a atenção recebida por este caso para esclarecer as mulheres e todos os funcionários públicos sobre o tema”, afirma. Roa e Ruíz concordam com a atriz em relação ao que está acontecendo ser uma violação do direito a sua intimidade e ao devido processo na obtenção de provas.
Florence Thomas, outra destacada feminista na Colômbia, disse à revista Semana que “há milhares de abortos ilegais e praticamente não há casos de mulheres enviadas à prisão por isso. A saúde emocional é fundamental e deve ser considerada em casos assim”.
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