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Um mês depois, ‘Caso Espinosa’ tem outro detido, mas segue sem solução

Ex-policial é preso por suspeita de envolvimento no assassinato de quatro mulheres junto com um jornalista que havia denunciado ameaças, o que sugere um crime político

Pablo de Llano Neira
Homenagem a Espinosa na Cidade do México.
Homenagem a Espinosa na Cidade do México.HENRY ROMERO (REUTERS)

Um mês depois do brutal assassinato de quatro mulheres e um jornalista num apartamento da Cidade do México, o crime continua sem ser esclarecido, embora haja dois detidos. Um deles, preso no domingo, é o ex-policial Abraham Torre Tranquilino, de 24 anos, que em 2011 foi condenado a quatro anos de detenção por torturas, mas ganhou a liberdade condicional no ano seguinte.

O caso Espinosa ocorreu em 31 de julho e causou forte impacto pela suspeita de que se trate de um assassinato político. O repórter Rubén Espinosa, de 31 anos, havia chegado dois meses antes à Cidade do México depois de ser perseguido por desconhecidos em Veracruz, o Estado mexicano mais perigoso para o exercício do jornalismo, onde 15 profissionais foram assassinados desde 2011.

“Nem fiz e nem mandei fazer”, diz governador

P. DE LL. | México

Javier Duarte, governador de Veracruz, o Estado onde o repórter Rubén Espinosa trabalhava e fazia ativismo em defesa dos direitos civis, afirmou em entrevista coletiva na segunda-feira que seu Governo não teve nada a ver com o múltiplo homicídio: “Nem fiz nem mandei fazer”.

A morte violenta de Espinosa na Cidade do México, aonde ele chegara em junho fugindo de supostas ameaças em Veracruz, colocou os holofotes novamente sobre os problemas da segurança da imprensa nessa região, a mais perigosa do México para o exercício do jornalismo. Desde que Duarte é governador de Veracruz, 15 jornalistas foram assassinados nesse Estado.

“Não tenho nada a ver com este nem com nenhum dos outros casos, que estão relacionados a lamentáveis incidentes que tiraram a vida a trabalhadores da comunicação", disse Duarte. O governador afirmou ser vítima de um “linchamento público” por causa do crime.

Com ele morreram sua amiga Nadia Vera, de 32 anos, também ativista em Veracruz, e outras três mulheres – duas jovens que moravam com ela e a faxineira do apartamento das moças, local da matança ocorrida na tarde daquela sexta-feira. Todos foram golpeados com objetos contundentes e levaram um tiro na cabeça.

A ONU e diversas ONGs mexicanas, especialmente o sindicato dos jornalistas, exigiram uma investigação minuciosa da hipótese de crime político. O Ministério Público da capital mexicana reiterou que não descarta essa hipótese e colheu o depoimento, em caráter de testemunha, do governador de Veracruz, Javier Duarte, que negou qualquer vinculação entre o trabalho de Espinosa e o múltiplo homicídio.

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Segundo vazamentos de dados oficiais, a linha de investigação aponta para um crime comum relacionado a uma pista que circulou desde início do caso, causando indignação por seu tom xenófobo: um dos assassinos poderia ser conhecido de uma das moradoras do apartamento, de origem colombiana. Além disso, haveria indícios de roubo, porque o apartamento foi saqueado e câmaras de vigilância gravaram imagens de três suspeitos saindo do edifício com uma mala.

Entre eles estão os dois detidos até o momento, Torre Tranquilino e Daniel Pacheco, de 42 anos, que já esteve preso por estupro. Pacheco, que apareceu na fotografia policial com um olho roxo, declarou que esteve no local do crime, mas não matou ninguém. Depois denunciou que sofreu torturas após ser detido, o que, se confirmado, anularia o seu depoimento. Os promotores continuam procurando o terceiro suspeito.

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