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A ‘peneira’ no Canal da Mancha

Os policiais que vigiam Calais se queixam da falta de segurança no Eurotúnel

Imigrantes sobre um caminhão no Eurotúnel, na sexta-feira.
Imigrantes sobre um caminhão no Eurotúnel, na sexta-feira.Peter Macdiarmid (Getty)

Mais de cem policiais chegaram nesta sexta-feira a Calais para reforçar o dispositivo que tenta deter as mais de 1.500 tentativas diárias de imigrantes que aproveitam a noite para tentar atravessar o túnel do Canal da Mancha, que liga a França ao Reino Unido. O reforço foi bem recebido pelos policiais presentes, mas não parece suficiente diante da magnitude do fenômeno. “Precisamos de uma resposta europeia, política e humanitária”, resume o sindicalista da polícia Denis Hurth. No total são 500 policiais da tropa de choque e gendarmes e 200 agentes privados da operadora Eurotunnel que a cada noite “brincam” de gato e rato com os candidatos a refugiar-se no Reino Unido.

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“Estamos totalmente sobrecarregados”, explica Hurth, delegado em Calais do sindicato Unsa-Police. “Desde segunda-feira é um verdadeiro ataque em massa. Os reforços eram necessários, mas 120 homens adicionais não são suficientes para monitorar os 30 km de estrada em torno das instalações do túnel”, acrescenta. As instalações acesso ao túnel estão espalhadas por cerca de 650 hectares, o equivalente a cerca de 680 campos de futebol, cercados por 28 quilômetros de cercas que os imigrantes não hesitam em saltar ou romper. “Essa cerca é está cheia de buracos, como um queijo gruyère. Não podemos ficar vigiando cada abertura”, diz Hurth.

Na noite de quinta-feira, a polícia registrou cerca de 2.000 tentativas de intrusão no túnel. Cerca de 350 imigrantes foram presos. “Poucas horas depois, os soltamos. A delegacia de polícia de Calais não dá conta, tem quatro pessoas para a questão dos imigrantes e da própria delinquência na cidade”, acrescenta Hurth, que também pede mais meios judiciais. “É como um parafuso espanado, você dá voltas e voltas, mas nunca chega ao fim”.

Imigração, principal desafio da UE

De acordo com o Eurobarômetro da primavera de 2015, o número de cidadãos que manifesta preocupação sobre a imigração aumentou 14 pontos desde novembro de 2014, pulando de 24% para 38%, figurando acima das preocupações com a situação econômica (27 %) e o desemprego (24%).

Malta e Alemanha lideram a classificação dos países mais preocupados com a crise migratória, que piorou neste ano. A pesquisa também mostra que o número de cidadãos que têm uma imagem positiva da União Europeia cresceu em seis meses de 39% para 41%.

Assim como a operadora Eurotúnel, Hurth considera que a cifra de 3.000 imigrantes que se amontoam em Calais adiantada pelo Ministério do Interior está abaixo da realidade. “Passamos de cerca de 500 no final do ano passado para 1.000; em seguida, para 2500; agora, cerca de 4.000 ou 5.000, e até o final do ano serão cerca de 9.000. Eles sabem que alguns conseguem passar pelo túnel, porque isso realmente acontece, e continuarão tentando embora se arrisquem cada vez mais”.

Isso é confirmado pela maioria dos candidatos à travessia que montaram acampamento em um antigo aterro situado a cerca de cinco quilômetros da cidade e a sete do túnel. “Sei que é perigoso, mas não tenho escolha”, diz Adome, um sudanês de 17 anos, ao lado do seu barraco –uma estrutura de madeira coberta por lonas– instalado na porção arenosa do campo conhecida como “deserto”. “Tenho amigos que conseguiram e estão lá”.

Depois da troca de acusações sobre quem é responsável por manter a segurança na área, no começo da semana, o Governo francês e a operadora Eurotúnel, que afirma ter investido 160 milhões em dispositivos de segurança em suas instalações, concordaram em trabalhar juntos para melhorar os controles. Na quinta-feira, representantes da empresa e do Ministério do Interior se reuniram em Paris com essa finalidade. As conclusões da reunião “não têm vocação para se tornarem públicas", segundo o Ministério do Interior.

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