Latinos já são o maior grupo populacional da Califórnia
Brancos não hispânicos passaram a ser minoria no Estado mais rico e populoso dos EUA
As cifras do censo dos Estados Unidos na última década permitiam aos especialistas projetar que, em algum momento entre o ano passado e este, a população de origem latina superaria em número a população branca na Califórnia. Pela primeira vez, essa tendência tem cifras oficiais. Na Califórnia vivem 14,99 milhões de pessoas que na pesquisa do Censo – publicada em junho com dados de 2014 – se definem como latinas, em comparação com 14,92 milhões que se definem como brancas, especificamente não latinas.
A Califórnia é um Estado que se costuma usar como referência de tendências de longo prazo nos Estados Unidos por ser o mais populoso (38,8 milhões de habitantes) e o mais rico (com um PIB equivalente ao Brasil). O novo dado do censo a converte no terceiro Estado da União no qual os brancos não são maioria, depois do Novo México (dois milhões de habitantes, com maioria latina) e Havaí, onde o maior grupo étnico é formado pelos nativos da Ásia-Pacífico. Mas é na Califórnia que essa realidade permite antecipar tendências nacionais.
As cifras permitem intuir uma consolidação desta tendência, pois a idade média dos latinos da Califórnia é de 29 anos, enquanto a idade média dos brancos não latinos é de 45 anos. As projeções do Governo estadual são de que por volta do ano de 2060 a população de origem hispânica será o dobro da população que se define como apenas branca.
A definição de latino inclui pessoas etnicamente brancas, negras e indígenas da América Latina. Cerca de 70% dos habitantes da Califórnia são etnicamente brancos. É quando se pergunta especificamente pelos brancos “não hispânicos”, ou seja, de outra origem europeia, que eles se transformam em minoria frente a todos aqueles que, independentemente da cor de sua pele, definem-se no censo como sendo “de origem hispânica”. Os grupos étnicos seguintes estão a muita distância dos latinos e dos brancos: asiáticos (14%), negros (6%) e nativos americanos (1,7%).
Os hispânicos já são 17% da população dos Estados Unidos e passam de 55 milhões de pessoas, das quais 37 milhões falam espanhol, segundo o centro de estudos Pew. Esta organização projeta que em algum momento entre este ano e 2020 os EUA passarão a ser o segundo país do mundo com o maior número de habitantes que falam espanhol, atrás do México a à frente da Espanha. A tendência, entretanto, encontrará seu pico em algum momento, porque é cada vez maior o número de latinos jovens que só falam inglês.
Da população latina da Califórnia, cerca de 80% são mexicanos ou de origem mexicana. Isso transforma esse Estado, principalmente o sul, em “o outro México”, como afirmou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, durante uma visita oficial inédita à Califórnia no ano passado, correspondida por uma do governador californiano, como se fossem visitas de Estado. A área metropolitana de Los Angeles, a segunda mais rica dos EUA depois de Nova York, é a segunda zona urbana do mundo com mais mexicanos, depois da Cidade do México. Também é a área com mais salvadorenhos fora de El Salvador.
O aumento da população latina nos últimos 20 anos na Califórnia provocou mudanças políticas importantes. As políticas favoráveis aos imigrantes fizeram a balança pender de maneira desproporcional a favor do Partido Democrata, que domina o Legislativo desde a virada do século. Entre os democratas, os rostos latinos ocupam cada vez mais espaços de poder, embora longe de representar o tamanho da população latina. O atual presidente do Senado, Kevin de León, é o latino que chegou mais alto no Legislativo. Em janeiro, o governador nomeou um jurista nascido no México, Mariano-Florentino Cuéllar, para a Corte Suprema de Califórnia, o órgão judicial máximo do Estado. Antonio Villaraigosa foi presidente da Assembleia Legislativa e prefeito de Los Angeles.
O jornal Los Angeles Times destaca nesta quinta-feira a diferença entre o número de habitantes latinos e sua influência na política. Apenas 10% dos supervisores de condados (o órgão regional com mais poder orçamentário) e 15% dos vereadores na Califórnia são latinos. O voto hispânico também evolui de forma muito lenta. Os latinos são 39% da população da Califórnia, mas apenas 22% de seus eleitores registrados (em 2012) e 19% de seus votantes reais. Na eleição para governador realizada em novembro, os latinos foram apenas 15% dos votantes.
No mês passado, uma congressista latina pelo condado da Orange, Loretta Sánchez, decidiu testar o poder dos hispânicos em uma eleição nacional. Sánchez tentará ser a primeira senadora latina da história do Capitólio de Washington nas eleições de 2016. Ela tem como rival outra mulher, Kamala Harris, também democrata, que seria por sua vez a primeira negra e a primeira asiática da história do Senado dos EUA.