_
_
_
_
MEDO À LIBERDADE
Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

A batalha a vencer

O continente está dominado por agendas obsoletas e forças políticas incapazes

De fórum em fórum, de reunião em reunião, os governos da América Latina vão revelando as razões da paralisia e essa armadilha retórica entre o ontem e o amanhã em que eles muitas vezes parecem transitar. Presa entre a necessidade de uma regeneração democrática enquanto procura uma forma de potencializar administrações que, sem dúvida, estão corrompidas demais ou a serviço dos partidos, a verdadeira nova agenda da América Latina vê passar sua oportunidade encontro após encontro —o mais recente deles, a edição latino-americana do Fórum Econômico Mundial, realizado semana passada na Riviera Maia mexicana—, sem se consolidar de fato.

Mais informações
O furor da rua
Peru: esperando um líder
Não entendem nada
América: o novo mapa
A autoridade moral

Por exemplo, a América que fala espanhol e português investe apenas 0,78% de todo o PIB regional (cerca de 50 bilhões de dólares) em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), ou seja, nos dois campos que possibilitam o acesso às tecnologias que controlam o mundo e conferem o verdadeiro poder. Esse esforço coletivo para entrar na nova era representa somente 3% de todos os investimentos globais em P&D.

O conceito de segurança mudou. Antes, tratava-se de garantir que não entrasse uma pistola e muito menos uma bomba num avião; hoje, assistimos a uma insegurança coletiva e crescente pelas ameaças na internet, esse novo Estado do bem-estar do século XXI, repleto de riscos, mas também de oportunidades digitais e de crescimento, cujo desenvolvimento na América Latina está em fase primária.

A cara dessa vitória seria que os países da região investissem em I+D o mesmo que em educação: entre 4% e 5% de seu PIB

Os novos desafios —que têm muito a ver com o uso dos recursos para P&D e com a nova concepção de educação— continuam sem aparecer na agenda latino-americana. Enquanto os países do continente não vencerem essas batalhas e tiverem uma independência tecnológica, continuaremos com a ladainha dos bons desejos e com a demonstração permanente de incapacidade.

A cara dessa vitória seria que o grosso dos países latino-americanos conseguisse investir em P&D o mesmo que em educação: entre 4% e 5% de seu PIB. Observe que o Brasil é o que é não só por seu tamanho e importância, um império em si mesmo, mas porque investe 63% do total regional nesse campo. E, apesar disso, é uma cifra raquítica em comparação com as de outras latitudes. Além disso, não se trata de reinventar todo o hardware com o qual os Estados Unidos controlam e continuarão controlando —com um pouco de tecnologia europeia— o mundo moderno; na verdade, deve-se aspirar a formar gerações que, já inseridas na onda das novas tecnologias e necessidades de trabalho, sejam menos dependentes em relação à tecnologia estrangeira.

Os governos continuam tirando fotos num mar de bandeiras que se agitam com um vento falso, o do orçamento público. Os empresários continuam apostando nas reformas que são necessárias. Mas nem os empresários nem os governos devem se esquecer de que nenhuma reforma é suficiente se não for assumida pelo povo a que se destina.

É preciso observar que as agendas estão obsoletas e que os atuais poderes e as forças políticas (as que conhecemos e as emergentes) são incapazes de colocar os países latino-americanos na modernidade.

A reunião na Riviera Maia foi mais uma. Se Davos e os grandes centros de diálogo e busca de soluções estão às escuras nesse momento, imagine o que significa tentar colocar em marcha um modelo na América Latina quando não há referência nem modelo. Nem sequer existe a capacidade de tentar criar uma agenda de aspirações para permitir que as sociedades latino-americanas deem um salto adiante.

Além da abundância de manchetes e dessa sensação insuperável de fracasso social pela corrupção, quando nos perguntamos o que falta no continente é preciso observar que as agendas estão obsoletas e que os atuais poderes e as forças políticas (as que conhecemos e as emergentes) são incapazes de colocar os países latino-americanos na modernidade.

Assim, Brasil, Argentina e México investem 1,2%, 0,64% e 0,45%, respectivamente, do seu PIB em P&D, enquanto o Chile contenta-se com um mísero 0,37%. Essas cifras mostram o porquê do subdesenvolvimento não apenas político, mas também da soberania e da escassa independência para construir uma plataforma de autossuficiência da América Latina.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_