Promotoria de Baltimore classifica morte de Gray como homicídio
Os seis agentes que pararam ao jovem se enfrentam a vários cargos por assassinato
A promotoria de Baltimore declarou nesta sexta-feira que a morte do jovem Freddie Gray, causada pela polícia, foi um homicídio. A promotora da cidade, Marilyn Mosby, recebeu na quinta-feira o relatório policial e nesta manhã detalhou publicamente as acusações contra os seis policiais que prenderam o jovem, cuja morte sob custódia provocou os protestos nos últimos dias na cidade do estado de Maryland.
Os policiais implicados na detenção “ilegal” do jovem, segundo a promotora —já que não foram encontradas provas suficientes para prendê-lo—, enfrentarão acusações que vão desde homicídio culposo —quando não há intenção de matar, que prevê pena de até 30 anos de prisão—, até agressão e negligência. O sindicato dos policiais, no entanto, declarou à agência France Press que os agentes atuaram dentro da lei.
Os seis policiais, que estão suspensos e deverão comparecer nesta sexta-feira diante das autoridades, prenderam Gray ilegalmente depois de cruzar com ele em uma rua de Baltimore. Dois policiais declararam que o jovem saiu correndo ao vê-los. Também afirmaram que o jovem tinha uma faca, mas a promotora esclareceu que a posse desse tipo de arma é legal, e os policiais foram informados sobre isso depois da prisão, que ocorreu sem que Gray houvesse cometido nenhum crime.
“É imprescindível que toda a verdade sobre o que ocorreu com Freddie Gray seja revelada”, declarou o presidente Barack Obama na Casa Branca nesta sexta-feira. O mandatário lembrou que, para ele, “não é adequado” se pronunciar durante o processo, mas defendeu que “é necessário fazer justiça” e que as autoridades deverão avaliar “todas as provas”. Em conjunto com a promotoria de Baltimore, o Departamento de Justiça está realizando sua própria investigação independente sobre a morte de Gray. “Os cidadãos de Baltimore querem saber a verdade. E isso é o que todo o país espera.”
A promotora aproveitou sua presença diante dos meios de comunicação para dizer aos jovens da cidade que “buscará a justiça”
A prisão de Gray, segundo Mosby, foi ilegal porque os policiais “não conseguiram fornecer uma provável causa para prendê-lo”. A promotora também classificou de “negligência grave” o fato de os policiais não terem garantido a segurança de Gray dentro da viatura, apesar das mais de cinco oportunidades —o veículo parou quatro vezes em sua trajetória até a delegacia— para colocar o cinto de segurança no jovem. “Nenhum dos agentes lhe proporcionou assistência médica”, disse Mosby. Gray havia sofrido uma parada cardíaca e ficou gravemente ferido ao sair da van e, segundo o relatório da promotora, vários policiais “já haviam visto que estava deitado no chão e não respondia”.
As autoridades ainda não revelaram todos os detalhes do ocorrido depois da prisão de Gray. Mas uma gravação de vídeo mostrou como os agentes o arrastavam algemado até o veículo policial. No percurso, os policiais pararam três vezes, além de outra que só foi revelada esta semana. Segundo a promotora, os policiais foram negligentes ao não colocar o cinto de segurança no jovem, além de não prestar assistência médica nas duas ocasiões necessárias. Quando Gray saiu da van já não respirava. A autópsia concluiu que morreu devido a uma lesão na coluna vertebral.
Mosby, de 35 anos, filha e neta de policiais, se tornou no começo do ano a promotora mais jovem do país. Nesta sexta-feira aproveitou sua aparição diante dos meios de comunicação para dizer aos jovens da cidade que “buscará a justiça” em nome deles. “Nosso momento é agora”, declarou, repetindo o slogan das manifestações ocorridas em todo o país desde a morte de Michael Brown, em Ferguson, até a de Walter Scott, na Carolina do Sul, e a de Gray, em Baltimore.
“Ouvi dizer que sem justiça não haverá paz”, declarou a promotora diante dos meios de comunicação e dirigindo-se aos manifestantes. “Agora peço paz para que possa obter justiça.” Mosby também afirmou que “este é o momento de vocês”, em referência às reivindicações dos cidadãos de Baltimore contra a violência policial.
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