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O general curtido em derrotas

Ex-golpista, Buhari protagoniza o primeiro revezamento democrático de poder na Nigéria

José Naranjo
Partidário de Buhari exibe cartaz, na terça-feira, na Nigéria.
Partidário de Buhari exibe cartaz, na terça-feira, na Nigéria.Ben Curtis (AP)

“É o momento de fechar as feridas. Foi uma vitória de todos os nigerianos.” Com essas palavras conciliadoras lidas durante seu primeiro discurso à nação depois de ganhar, na terça-feira, as eleições presidenciais da Nigéria, Muhamadu Buhari quis mostrar que se abre um tempo novo para o país mais populoso da África e a maior economia do continente.

As urnas já tinham deixado bem claro que esse general da reserva, à frente de uma coalizão de opositores, será o encarregado de governar o país: 15,4 milhões de votos (54%), diante dos 12,3 milhões obtidos pelo atual presidente, Goodluck Jonathan. Pela primeira vez na história da democracia nigeriana, a oposição chega ao poder, mas ao general, como ele é conhecido por todos na Nigéria, cabe agora a missão de administrar a esperança de mudança.

O abismo em que estava caindo a Nigéria deu a vitória de bandeja a esse homem, que foi golpista nos anos 80 e perdeu três disputas presidenciais nas urnas. Além da corrupção desenfreada, a violência descontrolada da seita radical Boko Haram no nordeste e a queda dos preços do petróleo foram as estocadas que faltavam para que a oposição derrotasse o Partido Democrático do Povo, de Jonathan. Em seu discurso da vitória, Buhari também proclamou que não poupará esforços para derrotar o Boko Haram, que já matou milhares de pessoas em sua luta para instaurar um califado.

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Durante a campanha eleitoral, Buhari, muçulmano e do norte, mostrou-se favorável à aplicação da lei islâmica, a grande reivindicação do Boko Haram. Mas, em declarações recentes, descartou que seja uma proposta para todo o país (seria algo impensável no sul cristão).

Nascido há 72 anos em Daura, uma cidade do norte da Nigéria perto da fronteira com o Níger, Buhari ingressou muito jovem no Exército, no qual desenvolveu uma destacada carreira. Em 1983, liderou um golpe militar que o levou à chefia de Estado. Tinha 41 anos.

Durante os 20 meses em que foi presidente do país, Buhari lançou uma guerra contra a indisciplina. Cerca de 500 políticos, empresários e funcionários públicos foram presos sob a acusação de corrupção. Buhari ditou medidas restritivas contra a imprensa e proibiu a oposição. Em pouco tempo, foi derrubado por um companheiro de armas, que o prendeu por três anos e meio.

A estabilização da democracia a partir de 1999 deu a Buhari a possibilidade de tentar voltar à presidência, desta vez pela via eleitoral. Foi derrotado em três eleições – por Olusegun Obasanjo, Umaru Yar’Adua e pelo próprio Jonathan, em 2011. Mas ele não é dos que se rendem. Dois anos depois de sua última derrota nas urnas, conseguiu reunir os principais partidos de oposição em torno de sua figura, criando o Congresso de Todos os Progressistas, com o qual venceu a eleição de domingo passado. Sua aura de homem rígido, mas honrado, também jogou a seu favor. Muitos consideram que esse foi o fator que fez os nigerianos escolherem um político duro e inflexível em um momento tão difícil. Era a hora do general.

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