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Derrota dos socialistas na França aprofunda a divisão interna

Deputados rebeldes exigem uma mudança drástica da política econômica

Carlos Yárnoz
Manuel Valls e François Hollande, nesta segunda.
Manuel Valls e François Hollande, nesta segunda.ERIC FEFERBERG (AFP)

O duro castigo aplicado pelos franceses ao governista Partido Socialista nas eleições locais no domingo aprofunda as divisões internas. A corrente crítica Vive la Gauche, da qual fazem parte dezenas de deputados rebeldes, coloca a culpa pelo fracasso na política reformista do Executivo, e exige um novo rumo para deter a constante perda de poder do partido nas quatro eleições realizadas no último ano. “Continuar sem mudar nada é subestimar a amplitude do golpe político”, afirma em um comunicado essa corrente crítica. O primeiro-ministro, Manuel Valls, cancelou uma viagem à Alemanha para participar, na terça-feira, de uma reunião com seus parlamentares.

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O que aconteceu em Essonne, berço político de Valls, descreve bem a situação no PS francês. Jérôme Guedj, proeminente rebelde socialista, foi derrotado. Era até agora o presidente desse departamento, mas o seu foi um dos 28 departamentos em que a centro-direita derrotou a esquerda (possuía 61 dos 100 existentes na França). Após seu fracasso, Guedj afirma que a culpa não é dele, mas do Governo. “Vamos contra a parede”, adverte ao comentar a política econômica do Governo e as próximas eleições regionais (em dezembro) e presidenciais (em 2017).

Valls opina que a chave para o afundamento é a fragmentação da esquerda (Comunistas, Verdes…), que apresentou candidaturas separadas. “Quando se provoca a divisão, se produz a divisão”, responde Guedj, que argumenta que é o Governo que não acertou as reformas com as forças de esquerda.

Foto: reuters_live | Vídeo: EL PAÍS - LIVE!

A prefeita de Lille, Martine Aubry, considerada a líder dos rebeldes e cujo departamento (Nord) também foi perdido pela esquerda, lamentou logo após conhecer os resultados “o voto de protesto devido à política nacional”. O ex-ministro Benoît Hamon, expulso do Governo em agosto do ano passado por se alinhar com os críticos, disse à RTL: “As classes populares, os empregados, os aposentados humildes, nos abandonaram”.

Hollande e Valls iniciaram agora uma estratégia de aproximação com os críticos para tentar unir a esquerda como única fórmula para deter sua sangria. Ao mesmo tempo, projetam uma remodelação do Governo, no qual poderiam incluir algum dirigente rebelde e um representante dos Verdes. Mas os críticos advertem que essa reunificação só será possível se houver uma mudança de política econômica. “Sem mudanças sinceras nas políticas, sem renovação na prática do poder, a dispersão da esquerda será irreversível”, afirma a Vive la Gauche.

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Não parece, no entanto, que Valls planeje mudanças profundas em sua política reformista. Depois da derrota, o primeiro-ministro afirmou que continuará adiante com a lei de liberalização da economia, conhecida como Lei Macron. Valls precisou aprová-la por decreto em fevereiro quando os rebeldes decidiram rejeitá-la no Parlamento.

Nas fileiras da União por um Movimento Popular (UMP), o partido de Sarkozy, grande vencedor dessa disputa eleitoral, reina a euforia. “A alternância está em marcha”, repetem, fazendo eco das palavras do ex-presidente. Por enquanto, o que conseguiu o ex-presidente da República, que voltou no ano passado à política ativa, é se tornar o líder da oposição. Tem pela frente, no fim de maio, o congresso do partido, no qual deseja inclusive mudar o nome da legenda.

Mas seu principal desafio será no fim de 2016, nas primárias para eleger o candidato à Presidência. Ganhou apoio com sua vitória nas eleições de departamentos, mas seu principal rival, Alain Juppé, deixou claro que segue na disputa. Além disso, Sarkozy tem o telhado de vidro devido à dezena de casos de corrupção em que, em um ou outro nível, está implicado.

A Frente Nacional, de extrema direita, por sua vez, demonstrou sua força ao conseguir 22,23% dos votos (frente a 45,03% da centro-direita e 32,12% da esquerda, sendo apenas 16,06% para o PS). Mas Marine Le Pen fracassou em sua tentativa de conseguir ao menos um Governo de departamento. É uma consequência do sistema de maioria e do segundo turno nessas eleições. Mas terá 62 conselheiros departamentais (12 em Pas-de-Calais, um grande feudo da esquerda) de um total de 4.108. Uma pequena quantidade, mas um grande salto se comparado com o que possuía atualmente: apenas um.

Além disso, todas as pesquisas apontam que Le Pen passaria para o segundo turno se as eleições presidenciais fossem realizadas agora. A dúvida é se o adversário dela será o candidato da centro-direita ou da esquerda. Esse também é o drama agora vislumbrado pelos socialistas. Se não houver uma mudança radical de tendência, o eliminado será o PS. Já aconteceu em 2002 (Jean-Marie Le Pen contra Jacques Chirac) e a esquerda ainda lembra como a maior desonra de sua história.

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