Crise da água ‘seca’ lucro da Sabesp, e companhia não descarta rodízio
Empresa diz que talvez não tenha condições de atender a população se crise continuar
A crise hídrica, que já vinha castigando os moradores de São Paulo desde o início do ano passado, agora cobrou seu preço da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp). O balanço da empresa, divulgado na noite de quinta-feira, aponta queda 53% nos lucros da companhia em 2014. Em 2013 a Sabesp teve 1,9 bilhão de reais de lucro líquido, ante 903 milhões de reais este ano. Além disso, a companhia adverte aos investidores que "medidas drásticas", como o rodízio de água, que já é parte do cotidiano de milhares de paulistanos, pode finalmente ser oficializado.
O relatório pinta um cenário sombrio caso a situação hídrica não melhore. “Se a estiagem continuar e os níveis dos reservatórios permanecerem reduzidos”, diz o texto, a Sabesp não pode assegurar que “terá condições de atender a toda a população de sua área de atuação”. Várias regiões de São Paulo já sofrem com cortes de água que duram até 15 horas por dia.
“Caso a seca persista, a companhia poderá ser obrigada a tomar medidas mais drásticas, incluindo a implantação do rodízio de água”, diz o relatório, que culpa a deterioração do faturamento à queda de 6,7% da receita bruta - equivalente a 636 milhões de reais-, e a adoção de descontos para clientes que reduzam o consumo. No total, o Programa de Incentivo à Redução do Consumo fez com que a empresa deixasse de arrecadar 376,4 milhões de reais.
O consumo diário de água per capita na região metropolitana caiu de 163 litros por habitante para 126 litros. O documento diz ainda que a Sabesp reduziu em 56% a produção de água do sistema Cantareira – que abastece a maioria da região metropolitana de São Paulo -, e em 30% a produção para a população da Grande São Paulo, de 71 mil litros por segundo para 50 mil.
No mercado financeiro, os papeis da empresa sofreram desvalorização de 35,7% em relação a 2013, e o valor de mercado da companhia caiu de 18,1 bilhões de reais para 11,6 bilhões em 2014. Os analistas destacam a crise hidrológica como principal causa da perda de valor da companhia. “A Sabesp vende água, não tem água para vender? Então é simples assim, não podemos recomendar uma empresa cuja matéria prima sofre escassez”, resumiu Alexandre Montes analista dos setores de saneamento e energia da Lopes Filho Consultores de Investimentos em dezembro passado.
Um relatório do banco suíço UBS, elaborado em agosto do ano passado após analisar os resultados do segundo trimestre de empresas de serviços de utilidade pública na América Latina, já recomendava aos seus clientes vender as ações da Sabesp.
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