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Com crise, analistas aconselham vender ações da Sabesp

A companhia deixa de ser a queridinha dos investidores e fecha o ano com queda de 30%

María Martín
Imagem de arquivo da Bolsa de São Paulo.
Imagem de arquivo da Bolsa de São Paulo.EFE

As ações da Sabesp não estão mais entre as favoritas dos investidores. Pelo contrário, analistas e consultores recomendam não comprar os papéis da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo e, inclusive, aconselham se desfazer deles. As ações da empresa, que cotizam na Bolsa de Nova York e São Paulo desde 2002, valiam em dezembro passado 25,49 reais, mas despencaram até os 17,14 reais desta semana. Uma queda de 31,9%. A previsão é que continuem caindo, embora a queda anual do Ibovespa seja de 4,1%.

“A Sabesp vende água, não tem água para vender? Então é simples assim, não podemos recomendar uma empresa cuja matéria prima sofre escassez”, resume Alexandre Montes analista dos setores de saneamento e energia da Lopes Filho Consultores de Investimentos. “A Sabesp tinha um bom nível de pagamento de dividendos e uma receita constante, mas o rendimento agora está sendo bem menor que o do mercado”, resume Clodoir Vieira, analista da Compliance Comunicação. “Se a empresa obtêm sua receita sobre a venda de água e tem pouco que vender no momento, caso o Governo de São Paulo não assuma os custos do racionamento, a empresa terá impactos negativos em seus resultados”, avalia outro consultor que prefere não se identificar.

Um relatório do banco suíço UBS, fechado em agosto após analisar os resultados do segundo trimestre de empresas de serviços de utilidade pública na América Latina, já recomendava aos seus clientes vender as ações da Sabesp. A análise considerava que os preços ainda não refletiam plenamente os efeitos da seca sobre os resultados e ponderava as incertezas sobre a remuneração sobre ativos investidos e sobre o processo de reajuste das tarifas para repassar os custos adicionais ao consumidor.

Os analistas destacam a crise hidrológica como principal causa da perda de valor da companhia. “Este comportamento [das ações] não é algo comum. Não é uma questão de gestão, nem um problema financeiro, é um problema climático. Normalmente conseguimos mensurar o nível de risco, mas neste caso é muito imponderável”, afirma Montes. Mas os especialistas apontam também outros fatores, como o controle de perdas.

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A Sabesp registra perdas de água que oscilam em torno de 32%, segundo a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), embora a companhia só reconheça 24,4%. A estatal afirma ter investido 1,5 bilhões nos últimos cinco anos em reduzir as perdas, mas, segundo os especialistas, não tem sido suficiente. “A Sabesp tem níveis de perda ainda muito grandes e vai ter que investir muito dinheiro para reduzi-los. Esses investimentos vão reduzir a rentabilidade o que a deixa menos atrativa”, afirma Vieira.

Os investidores também acompanharam a última medida do Governo de São Paulo de punir com um acréscimo da conta àqueles que aumentem seu consumo médio. A consultora Lopes Filho notificou o fato aos seus clientes no seu informe diário e complementou: “A crise hídrica vem se agravando devido à insuficiência de chuvas, os reservatórios de São Paulo continuam em processo de queda e, por tudo isso, alguma medida drástica já era esperada. Acreditamos que esta pode ser a última tentativa de se evitar o puro e simples racionamento, ou seja, corte de oferta. Como já temos dito, enquanto durar a crise hídrica, as ações da companhia devem seguir pressionadas”.

Procurada para avaliar o desempenho de suas ações, a Sabesp não respondeu.

Perspectiva negativa

Com este cenário, a agência de qualificação de risco Fitch mantêm as perspectivas negativas na companhia desde maio, o que significa que há uma probabilidade maior de 50% de sofrer uma rebaixa do rating, hoje de AA, o segundo mais alto da escala e que implica uma qualidade de crédito muito alta.

“Pesou a questão hidrológica que vai afetar a geração de caixa da companhia, consideramos também o aumento em 5% das tarifas e que a alavancagem medida pelo índice dívida líquida/Ebitda poderia alcançar 4,0 vezes [a dívida pode subir]. Temos que ver até onde se estende esse problema hidrológico, tanto que a companhia estendeu o bônus por mais um ano e começou a penalizar aqueles que tenham um maior consumo”, explica Mauro Sotrino, diretor senior da Fitch. Sotrino também afirma que o bônus de 30% de desconto oferecido aos clientes que poupassem 20% na conta, e que beneficia 54% dos clientes, pesou no análise da agência pois reduz a geração de caixa.

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