Brasil vive a expectativa da marcha contra o Governo de Dilma
Atos marcados para este domingo em mais de 200 cidades reivindicam desde o fim da corrupção, até a renúncia da presidenta. Políticos se manifestam contra o impeachment
Tempos estranhos vive o Brasil às vésperas do que ainda não sabe nomear em sua totalidade. Com as manifestações pelo país marcadas para este domingo, dia 25, em atos que podem cobrir 200 cidades, a tentação de comparar o momento atual com outras passagens de marcado apelo popular, como junho de 2013, ou a marcha do impeachment do ex-presidente Fernando Collor em 1992, é inevitável.
O desenrolar dos atos está sendo tão esperado quanto a ‘lista de Janot’ era há menos de duas semanas, quando havia um suspense sobre a a relação de políticos citados pela Procuradoria Geral da República, no escândalo da Lava Jato. A mesma expectativa parece percorrer o país quanto ao desfecho da marcha anti-Dilma deste domingo. Quantos brasileiros irão? Será maior que o protesto de junho? Qual pauta vai prevalecer? E depois o quê? Ninguém tem certeza.
De certo, apenas o fato que tanto nos protestos de junho de 2013 como na marcha pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello havia uma unanimidade evidente no país. Em junho, o mote era a tarifa zero para o transporte público mas eram os atrasos e gastos excessivos com a Copa do Mundo que iam subtraindo a paciência dos brasileiros, até chegar ao catarse coletivo, que surpreendeu o país e o mundo.
A massa, que marchou unida, no entanto, acabou se dividindo depois, o que ficou evidente em 2014. A presidenta Dilma, identificada como uma das responsáveis por todos os problema do Brasil na ocasião em 2013, acabou sendo reeleita, ainda que com margem estreita. O resto já se sabe de cor e salteado. Parte dos brasileiros que esteve nas ruas há um ano e meio voltou a protestar, logo após a eleição, pedindo seu impeachment e até a volta da ditadura militar. Ainda que a pauta não fosse unânime, foi um empurrão para outros quem estavam engasgados com os erros do PT no poder e os escândalos de corrupção na Petrobras. Os movimentos refluíram, embora tenham chegado a reunir 10.000 pessoas.
Agora, quem engrossa o coro não são os defensores da volta dos militares, mas quem não se identifica com o PT e cansou das denúncias de corrupção. Gente que não apoia o impeachment, mas não quer ficar calado diante do quadro atual, agravado ainda por medidas econômicas de arrocho. Com a paciência limitada, os brasileiros foram expostos a um aumento da carga de impostos logo no início do ano e do segundo mandato de Dilma, para cumprir um ajuste fiscal e cobrir um rombo que o próprio Governo abriu. Não se sabe se a gota d’água para o revide contra a presidenta foi essa alta de tarifas (de gasolina, de luz) ou a lista de Janot, que saiu no dia 6. O que se sabe ao certo é que quando a presidenta foi à TV, para ganhar a simpatia das mulheres no dia 8, o panelaço mostrou que a sua já baixa popularidade estava sendo rifada. Agora, o Governo conta as horas para ver o que virá.
“Manifestações devem ser vistas com absoluta tranquilidade”, disse ela na quinta-feira. “Pode se manifestar, deve se manifestar, faz parte do crescimento do país, do aprimoramento da cidadania. Agora, sem violência”, afirmou, em evento público no Rio de Janeiro. Mas, é difícil acreditar que no seu íntimo Dilma não esteja sentindo o peso da pressão deste momento e a angústia de não ter ideia de como estará o Brasil nesta segunda. Ainda que milhares de pessoas tenham saído em sua defesa na marcha da última sexta-feira, Dilma vive um inferno astral na política, e com parte da opinião pública, que faz barulho e quer forçar sua renúncia.
O número de pedidos de impeachment de seu mandato, registrados pela Câmara de Deputados, já chega a 19, a grande maioria registrados desde o início do ano, informa o jornal O Estado de S. Paulo. Já são mais do que 17 que Fernando Henrique Cardoso teve também ao longo de suas duas gestões. Mas ainda distante dos 34 que o ex-presidente Lula teve entre 2003 e 2010. Por isso, há uma certa esperança de que tudo esteja dentro da normalidade. Lideranças políticas dos principais partidos já se disseram contrários à ideia. De Aécio Neves, e Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que estaria na linha de sucessão, em um caso de ruptura do gênero.
Neste sábado, foi a vez de Marina Silva (PSB-Rede) se manifestar a respeito em um texto publicado em seu site. “Há uma campanha pedindo o impeachment da presidente Dilma que foi eleita há poucos meses. Compreendo a indignação e a revolta, mas não acredito que essa seja a solução. Talvez o resultado não seja o pretendido retorno à ordem, mas um aprofundamento do caos”, escreveu. Ela lembrou que quando Collor foi deposto, haviam forças políticas mais favoráveis a uma transição.“Mas hoje quem domina as instituições são as parcelas do PMDB mais envolvidas com as práticas e métodos que estão na gênese da crise política”, explicou Marina.
O cientista político André Singer, autor de Os Sentidos do Lulismo e Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro, avalia que o apoio de segmentos de centro ao grito anti-Dilma, depois das tímidas manifestações de direita no ano passado, deixam a presidenta na berlinda. “Abrir-se-á um tipo de polarização que, no passado, acabou em golpe”, escreveu ele em artigo na Folha de S. Paulo, neste sábado. “A uma manifestação seguirá, cedo ou tarde, uma contra manifestação, e assim por diante”, continua ele, que admite não acreditar em um desfecho como o golpe de Estado de 1964. Mas, prevê um processo de luta longo. A marcha deste domingo é parte desse processo, que vai testar mais uma vez a capacidade de resiliência da presidenta Dilma.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.
Mais informações
Arquivado Em
- Impeachment Dilma Rousseff
- Partido dos Trabalhadores
- Crises políticas
- Caso Petrobras
- Dilma Rousseff
- Manifestações
- Destituições políticas
- Subornos
- Financiamento ilegal
- Presidente Brasil
- Protestos sociais
- Presidência Brasil
- Corrupção política
- Mal-estar social
- Governo Brasil
- Brasil
- Partidos políticos
- Conflitos políticos
- Força segurança
- Governo
- Empresas
- América
- Administração Estado
- Problemas sociais
- Política