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O último abraço em Osama Bin Laden nas cavernas de Tora Bora

Fotos divulgadas mostram como vivia o líder da Al Qaeda e seu relacionamento com Al Suri

José María Irujo
Imagem cedida pela promotoria de Nova York.
Imagem cedida pela promotoria de Nova York.

Um abraço nas frias cavernas de Tora Bora (Afeganistão) no outono do hemisfério norte de 2001 e uma missão: esquematizar a nova jihad, a bomba suja, a guerra química e bacteriológica. Esse foi o encargo recebido por Mustafá Setmarian, conhecido como Abu Musab al Suri, de 57 anos, sírio espanhol casado com uma madrilenha, depois de um abraço de Osama Bin Laden e um beijo no rosto. Os norte-americanos tinham invadido o Afeganistão, depois dos ataques de 11 de setembro, e o líder da Al Qaeda havia se refugiado com seus principais auxiliares nas montanhas. “Eu me reuni pela última vez com o xeique Osama, que Deus o proteja, em novembro de 2001, e me comprometi com a jihad. Ele me deu um beijo, um abraço e me encarregou de planejar a nova jihad”, escreveu Setmarian para seus seguidores em seu boletim eletrônico.

Agora, 14 anos depois, as fotografias divulgadas pela promotoria de Nova York mostram que esse sírio “ruivo, 1,70 de altura, olhos verdes e barba de corte elegante” –assim o descrevia a polícia espanhola nos anos oitenta num documento oficial—não mentiu. Várias dessas imagens mostram Al Suri na companhia de Bin Laden.

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Bin Laden está morto —capturado por fuzileiros norte-americanos em seu refúgio em Abottabad (Paquistão)—, e Setmarian, desaparecido, após ter sido detido em outubro de 2005 no Paquistão. O fundador da Al Qaeda na Espanha, nascido em Alepo (Síria) e filho de um professor, pertencia à Irmandade Muçulmana quando chegou a Madri. Vendia objetos árabes no mercado do Rastro e viajava com muita frequência ao Paquistão. Casou-se com uma madrilenha, Helena Moreno, filha de um operário convertida ao Islã, e subiu na hierarquia da Al Qaeda depois de se mudar para Londres e trabalhar com Abu Qutada, o ícone dos salafistas na Europa, e se estabelecer em Cabul, trabalhando para o Talibã e para o mulá Mohamed Omar. O salto seguinte foi dirigir os campos de treinamento de Derunta e Al-Ghuraba, onde instruía os terroristas sírios sobre venenos e substâncias químicas.

Dez anos depois de ser preso no Paquistão e entregue aos norte-americanos, o paradeiro de Setmarian é um mistério. Assim como outros, foi engolido pelos buracos negros da CIA. O EL PAÍS revelou fichas militares secretas dos prisioneiros mantidos em Guantánamo (Cuba) nas quais se informava que Mustafá tinha sido entregue ao Governo sírio de Bachar el Assad. Informações não confirmadas dão conta de que foi libertado pelo regime sírio, como vingança contra o Executivo dos EUA quando começou a guerra da Síria. Helena, sua esposa e mãe de cinco filhos, professora num país árabe, negou isso na semana passada a este repórter e chamou tais informações de “tortura” para ela e sua família. “Não sei nada sobre meu marido desde que foi preso, há dez anos”, declarou. O Centro Nacional de Inteligência da Espanha e a polícia espanhola também não acreditam em sua libertação e consideram que ele continue preso nas sombrias prisões sírias.

Bin Laden está morto, Mustafá, um de seus melhores discípulos, desaparecido, mas o legado de ambos se mantém. Os lobos solitários que começaram a agir em diferentes partes do mundo são a herança de Mustafá Setmarian. Em seu extenso tratado sobre a jihad urbana escreveu que a célula mais perigosa e clandestina é a integrada por um só. Alguns seguem suas ordens.

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