Paris, a capital mundial contra o terror
Quase quatro milhões de pessoas saem às ruas na França em protestos contra a barbárie terrorista
Paris se tornou neste domingo a capital mundial contra o terrorismo, em um dia histórico que ficará gravado na memória da população pela luta contra a barbárie. Cerca de 3,7 milhões de pessoas e meia centena de líderes da Europa, África e Oriente Médio participaram da manifestação, convocada para mostrar repulsa aos ataques jihadistas que, nesta semana, representaram o maior desafio do último século contra a França, o país por excelência dos direitos e da liberdade. O assassinato de 17 pessoas –entre jornalistas e cartunistas do semanário 'Charlie Hebdo', além de policiais e reféns que estavam em um mercado judaico– resultou na maior concentração de pessoas em um protesto pela paz não apenas em Paris, mas também no restante da França e da União Europeia.
“Paris é hoje a capital do mundo”, disse Hollande a seus ministros em uma breve reunião realizada nesta manhã. A unidade buscada com este protesto é sem precedentes. A manifestação, começou por volta das 15h (12h de Brasília) na praça da República, liderada pelo chefe de Estado, François Hollande, que no sábado esteve em permanente contato com líderes que participarão do protesto. Entre os dirigentes europeus que participaram da marcha estão a chanceler alemã Angela Merkel; o primeiro-ministro britânico, David Cameron; o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy; e os primeiros-ministros da Itália, Portugal, Bélgica, Grécia, Hungria, Croácia, Romênia Ucrânia, e Suécia. Também estarão presentes o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Teve significado especial a presença do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Ambos foram colocados na primeira linha da comitiva oficial, a poucos metros um do outro, acrescentando um simbolismo especial ao evento histórico. O rei da Jordânia e o primeiro-ministro turco também estiveram no ato. Eric Holder, ministro da Justiça representando o Governo dos Estados Unidos, foi outro a comparecer. “Hoje somos todos cidadãos franceses”, afirmou Holder após o encontro.
Mas, apesar da participação em massa, os verdadeiros protagonistas na capital francesa neste evento foram os sobreviventes do jornal satírico Charlie Hebdo, dizimado pelo ataque de quarta-feira que deixou 12 mortos, e os familiares das vítimas desse atentado e do ataque de sexta-feira ao Hiper Casher, mercado de comida judaica, onde foram assassinadas quatro pessoas dessa comunidade. Os participantes do protesto, que em muitos momentos foi marcado por um silêncio tenso, aplaudiram sem parar a passagem dessa comitiva. E também a passagem de carros da polícia (três policiais foram assassinados nesta semana).
Atrás deles, partiu a comitiva de líderes, encabeçada por Hollande. Pouco mais de dez minutos depois da partida da comitiva, Hollande e seu primeiro-ministro, Manuel Valls, se dirigiram ao grupo de familiares e amigos das vítimas. O presidente abraçou Patrick Pelloux, médico de emergência e membro da equipe do jornal, que não conseguiu conter as lágrimas. O mesmo aconteceu quando o chefe de Estado abraçou um policial de Marselha, irmão do agente assassinado no jornal.
“Eu Sou Charlie” estava escrito em cartazes brancos diante dos membros da redação presentes ao protesto. As mesmas cenas de dor se repetiram quando Hollande abraçou alguns membros da comunidade judaica familiares dos quatro assassinados, na sexta-feira, em um supermercado da avenida Vincennes, em Paris. Às 16h30, Hollande deixou a manifestação para voltar ao Palácio do Eliseu. Minutos antes, a meia centena de líderes presentes ao protesto fez o mesmo.
Manifestação histórica
O número de participantes superou todas as previsões. Não apenas em Paris, mas também no restante da França. Na capital francesa, cerca de um milhão e meio de pessoas, segundo os organizadores, lotaram o espaço e tornaram praticamente impossível caminhar pelo trajeto previsto, entre as praças da República e da Nação, a três quilômetros de distância.
Ao meio-dia (horário local), muito antes de começar a manifestação, dezenas de milhares de pessoas já enchiam a praça da República com bandeiras francesas e cartazes de “Eu sou Charlie” ou “Eu sou judeu” e gritos de “Charlie, Charlie”. “O que aconteceu com o Charlie nos uniu. Continuemos assim”, escreveu alguém em letras grandes no chão na praça – onde, entre os manifestantes, ondeavam também bandeiras espanholas, turcas, dinamarquesas e brasileiras.
Em Lyon, mais de 150.000 pessoas saíram às ruas. E mais de 40.000 em Perpignan, assim como em Saint-Étienne, além de mais de 14.000 em Tarbes e 10.000 em Dammartin, a localidade situada 40 quilômetros ao norte de Paris na qual, na sexta-feira, foram mortos os irmãos Chérif e Said Kouachi, autores do ataque. Estas manifestações foram precedidas por três espontâneas, realizadas na quarta-feira – horas depois do ataque jihadista ao Charlie Hebdo– e no sábado, quando mais de 700.000 pessoas foram às ruas por todo o país para expressar seu rechaço ao terrorismo e ao antissemitismo. Nas manifestações do sábado, muitos dos participantes levavam cartazes com a frase “Eu sou judeu”.
O ministro do Interior da França, Bernard Cazenueve, anunciou “medidas excepcionais” de segurança ao mesmo tempo em que mantém o alerta máximo na capital. Franco-atiradores de elite, segundo ele, se postaram em telhados e terraços ao longo do percurso da passeata, que termina na praça Nation, com um total de três quilômetros percorridos. Cerca de 24 unidades policiais de reserva estarão dedicadas exclusivamente à proteção dos líderes. Enquanto isso, outros 2.200 agentes se deslocarão por Paris e imediações para garantir a segurança dos lugares mais sensíveis da cidade, incluindo os centros de culto e embaixadas.
A grande manifestação deste domingo em Paris será seguida de outras nas principais cidades do país. Esses protestos já foram precedidos por outros espontâneos realizados na quarta-feira passada, horas depois do ataque jihadista contra o jornal satírico Charlie Hebdo, que terminou com 12 assassinados e, no sábado, quando mais de 700.000 pessoas saíram às ruas de todo o país para expressar oposição ao terrorismo e ao antissemitismo. Nas manifestações de sábado, muitos dos participantes carregavam cartazes com a frase “Sou judeu”.
Líderes mundiais se solidarizam
Antes do início da manifestação de Paris, os líderes estrangeiros presentes tinham ido ao palácio do Eliseu, onde foram recebidos e cumprimentados um a um por Hollande. Depois, foram de ônibus até as proximidades da praça da República. Quando caminhava até o ônibus, Merkel, que foi abraçada por Hollande na escadaria do palácio presidencial, trocou alguns comentários com Sarkozy, que estava perto do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. O chefe do Governo espanhol assinalou: “Ninguém está jamais a salvo de nada. Seria uma inconsciência dizer que não há riscos. Nenhum país pode lutar sozinho contra isto”.
Por seu lado, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, afirmou: “Sairemos vencedores deste desafio ao terrorismo. O importante é a Europa dos irmãos”. “A ameaça jihadista estará presente durante muitos anos”, lamentou o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Pela manhã, o ministro francês do Interior, Bernard Cazenueve, tinha anunciado “medidas excepcionais” de segurança, com a cidade em estado de alerta máximo. Segundo ele, franco-atiradores de elite se posicionaram em telhados e terraços ao longo do percurso da marcha. Também foram mobilizadas 24 unidades policiais de reserva. Nada menos que 150 agentes especiais se dedicaram exclusivamente à proteção dos líderes.
“Toda a França está em luto”, disse Cazenueve, agradecendo em seguida o apoio e a solidariedade do restante do mundo. O fenômeno, acrescentou, “afeta todas as democracias”.
As sinagogas estiveram especialmente protegidas desde sábado e o Governo anunciou que, se fosse necessário, o Exército participaria diretamente de sua vigilância. Antes de começar a marcha em Paris, Hollande telefonou para Lassana Bathily, o funcionário de 24 anos da loja de produtos judaicos que se comportou heroicamente ao esconder no porão cerca de 15 pessoas que tinham ficado bloqueadas quando, ao meio-dia de sexta-feira, o estabelecimento foi atacado pelo jihadista Amedy Coulibaly.
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