_
_
_
_
_

A Rússia se volta contra EUA e OTAN em sua nova doutrina militar

Kiev troca 150 soldados por 222 militantes separatistas na Ucrânia

Um prisioneiro de guerra ucraniano abraça sua mãe durante o ato de libertação de prisioneiros em Lugansk, Ucrânia, nesta sexta-feira.
Um prisioneiro de guerra ucraniano abraça sua mãe durante o ato de libertação de prisioneiros em Lugansk, Ucrânia, nesta sexta-feira.YURIY STRELTSOV (EFE)

O presidente russo, Vladimir Putin assinou ontem a nova doutrina militar, que considera o avanço da OTAN e a implantação na Europa do sistema de defesa antimísseis dos EUA como um dos principais perigos à segurança nacional.

Apesar dos novos desafios colocados pelas mudanças geoestratégicas nos arredores da Rússia por causa tanto do reforço da Aliança Atlântica quanto da perda de antigos aliados (Ucrânia, por exemplo), e ao contrário do que pediam alguns falcões, o documento não inclui a possibilidade de um ataque nuclear preventivo e só contempla o uso de armas atômicas como resposta.

Mais informações
Ucrânia renuncia à sua condição de país não alinhado
Putin não cede
Crise na Rússia aumenta pressão sobre a economia brasileira
Ucrânia: a paixão europeia

Moscou ainda considera o escudo nuclear norte-americano na Europa como uma séria ameaça, por isso o documento reafirma a necessidade de responder às “tentativas de certas potências de conseguir a superioridade militar através da implantação de elementos estratégicos” adotando medidas para neutralizar a defesa antimísseis que Washington está desenvolvendo. Com este fim, os russos desenvolveram novos mísseis capazes, segundo Moscou, de penetrar o escudo nuclear norte-americano; em 2015, o Exército terá 50 destes novos mísseis intercontinentais.

A Rússia não só lamenta a aproximação da OTAN às suas fronteiras e o aumento do potencial militar da Aliança, também classifica como uma “violação do direito internacional” que ela passe a assumir “funções globais”. A nova doutrina enumera outros riscos como as pretensões sobre parte do território da Rússia e de seus aliados ou os conflitos em países limítrofes. O texto ressalta a necessidade de manter em estado de alerta máxima as Forças Armadas como medida de dissuasão, o que define como “contenção não nuclear”.

O Kremlin está muito preocupado com a interferência em seus assuntos internos. Sobre isso, considera que uma das principais ameaças são as atividades para influenciar, através da esfera informativa sobre a população, especialmente os jovens, com o objetivo de “minar as tradições históricas, espirituais e patrióticas”.

Pela primeira vez, é citada a defesa dos interesses nacionais russos no Ártico como uma das principais tarefas das Forças Armadas, e a necessidade de ampliar as relações com outros países BRICS (Brasil, Índia, China e África do Sul, além da própria Rússia), bem como Abecásia e da Ossétia do Sul, repúblicas cuja independência o Kremlin reconheceu após a guerra com a Geórgia em 2008. O documento não faz referência direta ao conflito no leste da Ucrânia ou à anexação da Crimeia. Kiev suspendeu ontem todos os serviços de ônibus e trem para a península “por ameaças à segurança dos passageiros”.

Troca de prisioneiros ucranianos

Enquanto isso, as negociações em Minsk entre as autoridades ucranianas e os separatistas pró-russos em Donetsk e Lugansk, que deveriam ter continuado ontem, foram canceladas. No entanto, foi realizada a troca de prisioneiros entre as partes em conflito. A fórmula decidida foi a “todos por todos”; como resultado, os rebeldes entregaram 145 soldados e os ucranianos, 222 combatentes.

O motivo oficial do cancelamento das negociações de paz é desconhecido, mas sabe-se que as conversações na última quarta-feira, que duraram mais de cinco horas, foram extremamente difíceis e praticamente não houve nenhum progresso.

Vladislav Deinego, representante de Lugansk assegurou que tanto a sua autoproclamada República Popular quanto a de Donetsk entregaram à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) os textos das suas declarações unilaterais sobre as últimas negociações em Minsk, assim como o projeto de protocolo que, se for aceito por Kiev, seria assinado pelos pró-russos. No entanto, as autoridades ucranianas, de acordo com Deinego, não reagiram a nenhum dos textos, o que teria determinado o cancelamento da reunião de ontem na capital bielorrussa.

Deinego agradeceu especialmente a posição conciliadora da representante da OSCE na Ucrânia e nas negociações de Minsk. “A República Popular de Lugansk manifesta o seu profundo reconhecimento por Heidi Tagliavini por sua posição equânime e suas repetidas tentativas de chegar a um compromisso” durante as negociações de quarta-feira, disse o negociador separatista.

Os pró-russos e as autoridades de Kiev se acusaram ontem de romper o cessar-fogo e Andrei Lysenko, porta-voz dos militares ucranianos que lutam no leste do país, disse que um soldado morreu e outro ficou ferido.

Os principais pontos que devem ser abordados pelas partes em conflito em sua próxima reunião são a retirada das armas pesadas da linha de contato – o recuo deve criar uma zona de segurança de 30 quilômetros, 15 de cada lado –, o fim do bloqueio econômico aos territórios rebeldes, o status especial para estes, uma anistia aos rebeldes e ajuda humanitária.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_