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Chico Buarque procura (e encontra) o irmão alemão em novo romance

O relato do músico fala de seu parente perdido e encontrado, mas, sobretudo, de si mesmo

Antonio Jiménez Barca
Chico Buarque, em 2012.
Chico Buarque, em 2012.EDUARDO NICOLAU (DPA / Corbis)

Chico Buarque (Rio de Janeiro, 1944), um dos mais célebres e talvez o mais aclamado de todos os músicos brasileiros, é também poeta, dramaturgo e escritor. Nesta semana publicou seu quinto romance no Brasil. A obra, expressivamente intitulada O Irmão Alemão, conta, em um relato de marcado caráter autobiográfico, a descoberta estupefata de um irmão que nunca conheceu pessoalmente (nem ele, nem ninguém da família, incluído o pai), fruto de uma aventura fugaz que Sérgio Buarque de Hollanda, o ilustre historiador brasileiro, teve em Berlim com Anne Marguerite Ernst em princípios dos anos 30.

Sérgio, o irmão alemão do título, nunca foi, segundo conta o próprio Buarque no livro, um tema tabu no casarão abarrotado de livros da região central de São Paulo onde residiu durante muitos anos a numerosa família Buarque (Chico tem seis irmãos além do alemão), mas tampouco era um assunto do qual se falava muito.

De fato, o cantor soube da existência de seu irmão europeu em 1967, na casa carioca do poeta Manuel Bandeira, em uma tarde de uísque e música na companhia de Vinícius de Morais e Tom Jobim. Bandeira se referiu então ao “filho alemão de seu pai” e Buarque voltou para casa mordido pelo vírus da dúvida. O mesmo vírus perseguiu-o a vida toda. Assim, há alguns anos, esporeado por uma velha carta proveniente da Alemanha encontrada em casa em que se aludia de novo ao irmão, começou a investigar. Não só ele. A editora Companhia das Letras contratou dois historiadores para o ajudarem nesse campo. E encontraram o rastro do irmão perdido: abandonado pela mãe, foi adotado em 1931 pela família Gunter (de fato a correspondência que Chico encontrou na casa de seus pais fazia referência a uma petição do Estado nazista a fim de certificar que o pai não era judeu).

Sérgio Gunter jamais soube bem quem era seu pai biológico, além de guardar certas conjecturas sobre sua origem sul-americana. Com o tempo, tornou-se um conhecido apresentador de programas de entretenimento na televisão da Alemanha Oriental em que também cantava (bem) temas populares germânicos. Não chegou à altura de Chico mas desfrutou de certo êxito com a música na década de setenta: gravou uma dúzia de discos na gravadora estatal VEB. Segundo a Folha de São Paulo, era bonito, bem apessoado, mulherengo e sedutor. Sem saber, coincidia em tudo isso com seu célebre irmão brasileiro, conhecido por seu fulminante êxito entre as mulheres e por possuir os olhos verdes mais vivamente eletrizantes do Brasil. Morreu em 1981, de câncer de pulmão, e no jornal oficial Berliner Zeitung saiu uma nota que dizia: “Foi um jornalista criativo e um amigo sempre pronto para ajudar um camarada”. Seus netos asseguram que teria gostado de saber mais sobre a parte brasileira de seu sangue mas que, naqueles tempos sombrios da Guerra Fria, foi impossível investigar sua origem.

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No romance, Buarque fala de seu irmão perdido e encontrado, mas, sobretudo, de si mesmo: de sua adolescência feliz nas ruas de São Paulo, de seu pai sempre grudado em um livro na cadeira de balanço bamboleante, de seus amigos sem juízo de então, com quem roubava carros para, assim que acabasse a gasolina, soltá-los rua abaixo e ver como se espatifavam em um muro ou em outro carro estacionado. Em uma dessas, foi pego pela polícia. Tinha 17 anos. Ainda não sabia que tinha um irmão na Alemanha. É famosa a foto tirada na delegacia naquela noite, de um Chico Buarque sério e quase adolescente olhando de frente com seus hipnóticos olhos verdes.

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