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Em discurso duro e pouco conciliador, Aécio dá o tom da oposição

Derrotado por Dilma promete oposição “incansável, inquebrantável e intransigente”

Rodolfo Borges
Aécio Neves discursa no retorno ao Senado após a eleição.
Aécio Neves discursa no retorno ao Senado após a eleição.Divulgação (PSDB)

“Enxerguem em cada gesto dos parlamentares da oposição a voz estridente de mais de 51 milhões de brasileiros que não aguentam mais ver o Brasil capturado por um partido e por um projeto de poder”, disse, em seu primeiro discurso no Congresso Nacional após a derrota na corrida eleitoral deste ano, o senador Aécio Neves (PSDB), dando o tom da oposição ao segundo mandato do Governo Dilma Rousseff. Falando como líder informal da oposição para um plenário lotado, Neves repetiu o discurso que vem fazendo desde a campanha: destacou que seu projeto representa o desejo de mudança e lamentou o fato de que “a mentira foi a principal arma dos nossos adversários”.

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Mencionando a recente alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros e dizendo que o Governo Dilma “escondeu o rombo [nas contas públicas] enquanto pôde”, o senador tucano disse que “a presidente já está fazendo aquilo que disse que não faria”. “Para a presidente, elevar juros era retirar comida dos mais pobres. Se isso é verdade, foi o que ela fez logo que ganhou”, acrescentou. Criticando a demora do Governo para fazer os ajustes econômicos necessários, Neves disse que “a conta a ser paga aumenta exatamente para aqueles que menos têm”. “Me orgulho de ter feito a campanha da verdade. Quem falou a verdade foi taxado de pessimista, de ser contra o Brasil. Só não conseguiram esconder os escândalos de corrupção porque os delatores resolveram falar a verdade”, disse, cobrando a investigação dos escândalos na Petrobras.

Durante seu discurso, Neves citou o finado governador de Pernambuco Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva, também candidatos da oposição na última eleição, além de colegas de partidos da base do governo que estiveram ao seu lado durante a campanha. Muitos deles fizeram apartes em apoio ao senador tucano, mas a manifestação de apoio de Magno Malta (PR), também da base do governo e antigo defensor do Governo Dilma, foi a mais clara ao expor o quadro adverso que a presidenta deve enfrentar dentro de sua própria base no Congresso no segundo mandato. Condenando as decisões econômicas do Governo Dilma, Malta viu um benefício em Neves não ter sido eleito presidente: “Quem vai ter que pagar essa conta [de dificuldade econômica] é quem fez strip tease moral em praça pública”.

Ao fazer referência ao primeiro discurso da presidenta Dilma Rousseff após o anúncio de sua reeleição, Aécio Neves disse que “agora, os que foram intolerantes durante 12 anos falam em diálogo”, acrescentando que está disposto a dialogar, desde que isso esteja condicionado à apresentação de propostas a à investigação de denúncias de corrupção. “O desejo da maioria dos brasileiros foi de que nos mantivéssemos na oposição. E faremos uma oposição incansável, inquebrantável e intransigente na defesa dos interesses dos brasileiros”, prometeu, mencionando a necessidade de que propostas como a dos conselhos populares, apresentada por meio de decreto pelo Governo federal, seja discutida no Congresso Nacional antes de virar projeto.

Ao finalizar o discurso, Neves reforçou o pedido que fez a Dilma no primeiro telefonema que lhe deu após saber da própria derrota, com uma ressalva: “É preciso unir o país, mas, para isso, preciso dizer a verdade”. Segundo ele, “o grande desafio do Brasil do nosso tempo é ser uma nação que garanta direitos do cidadão”, e, para o tucano, a oposição deve perseguir isso respeitando três compromissos fundamentais: liberdade, transparência e democracia. No campo prático, o senador se comprometeu com a defesa da liberdade de imprensa e da autonomia dos poderes, e foi mais direto ainda ao falar sobre os programas sociais do governo: “É nosso compromisso transformar o Bolsa Família em política de Estado, para o país não ser mais vítima de chantagem eleitoral”.

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