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Obama enfrenta a decepção hispânica

Presidente dos EUA se dirige aos hispânicos pela primeira vez desde que anunciou que não vai agir para deter as deportações antes das eleições parlamentares

Silvia Ayuso
Presidente dos EUA, Barack Obama, na Casa Branca.
Presidente dos EUA, Barack Obama, na Casa Branca.JIM WATSON (AFP)

Se o ambiente dos últimos dias na reunião do Instituto do Caucus Hispânico no Congresso (CHCI), em Washington, serve de barômetro, a recepção que aguarda o presidente Barack Obama na noite desta quinta-feira como estrela convidada à cerimônia de encerramento do encontro anual mais influente da política latina nos Estados Unidos será, com sorte, morna.

O encontro, em pleno coração de Washington, é a primeira ocasião em que o presidente norte-americano se dirigirá aos hispânicos depois que a Casa Branca, situada a poucas centenas de metros, anunciou, no começo de setembro, que não irá cumprir sua promessa de agir por decreto em matéria de imigração “antes do fim do verão” e que retardava qualquer medida até depois das eleições parlamentares de novembro.

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A decisão foi considerada uma “bofetada” pelo ativo lobby pró-imigração e por uma comunidade hispânica que, depois do fracasso em junho da via legislativa para conseguir uma reforma imigratória capaz de abrir um meio de legalização para os mais de 11 milhões de pessoas sem documentos no país, havia depositado suas esperanças na promessa de Obama de que agiria por sua conta no mais tardar em setembro para diminuir as deportações.

Será a quinta ocasião em que Obama se dirige ao influente foro hispânico. A primeira vez foi em 2008, quando ainda era um candidato presidencial que prometia uma reforma migratória em seu primeiro ano de mandato e o auditório aplaudiu efusivamente cada uma de suas intervenções.

A primeira coisa que o presidente fará depois das eleições será ditar uma ação executiva” Joaquín Castro

Agora está há quase seis anos na Casa Branca e nem rastro da reforma migratória. Como também não há rastro, ao menos até o momento, das prometidas “ações executivas” para diminuir as deportações de imigrantes sem documentos, que atingiram cifras recorde desde que Obama está na Casa Branca.

Consciente talvez de que o ambiente da cerimônia que Obama presidirá será mais hostil do que nunca neste ano, a Casa Branca não poupou esforços para aplainar o caminho para a intervenção do presidente.

Uma “folha informativa” distribuída quando do início do congresso hispânico ressaltava os resultados obtidos pelo presidente democrata que beneficiam a comunidade hispânica e seu “compromisso” especialmente para “reparar nosso sistema de imigração que não funciona”.

“O presidente Obama mantém seu compromisso de aprovar uma reforma da imigração baseada no senso comum, mas à falta de legislação do Congresso, o Presidente está determinado a atuar, dentro dos limites de sua autoridade, para melhorar tudo o que puder no nosso sistema de imigração que não funciona mediante ação executiva”, promete de novo o documento oficial.

Além disso, o discurso do presidente no congresso hispânico foi precedido de numerosas intervenções de latinos do seu gabinete ou do Partido Democrata, que garantiram que Obama se mantém “firme” na promessa de agir e que buscaram argumentos para justificar o novo atraso que deixou muitos indignados.

“A primeira coisa que o presidente vai fazer depois das eleições é ditar uma ação executiva”, afirmou durante o foro o congressista democrata do Texas Joaquín Castro, considerado, junto com seu irmão gêmeo e secretário de Habitação Julián Castro, uma estrela ascendente do Partido Democrata.

Obama “não vai hesitar na hora de ordenar uma ação executiva. A questão da ação executiva não é uma questão de quando”, afirmou também o secretário de Trabalho Thomas Pérez, igualmente hispânico.

O importante, entretanto, é “fazer bem feito”, e isso requer tempo, ressaltou uma e outra vez, pedindo implicitamente paciência à comunidade.

É hora de o presidente atuar. Não vamos aceitar nenhuma desculpa" Luis Gutiérrez

Mas esta escasseia visivelmente.

Para começar, na entrada da sede do congresso Obama será recebido por um piquete organizado por várias organizações hispânicas que pretendem exigir do mandatário que “cumpra sua promessa de garantir um alívio às famílias que sofrem” com as deportações.

“Instamos o presidente a se lembrar de todas as famílias do país separadas por sua falta de ação”, adiantou o ativista Gustavo Torres, da Casa Maryland.

E dentro da convenção, de novo, o barômetro: As palavras de Thomas Pérez defendendo Obama foram recebidas com um ou outro aplauso mais cortês que entusiasta.

Exatamente o contrário da recepção de quase de herói -com aplausos e vivas- que teve o também congressista democrata Luis Gutiérrez, um dos maiores incentivadores da reforma migratória e forte crítico da decisão de Obama de retardar uma ordem executiva na matéria.

“Estamos esperando que o presidente atue, eu penso que deveria tê-lo feito antes das eleições”, proclamou diante um auditório que começou a aplaudir logo após o início de sua intervenção.

“É hora de que o presidente atue. Não vamos aceitar nenhuma desculpa do lado democrata e não deveríamos aceitar que nenhum republicano nos diga para esperarmos mais. Já esperamos o suficiente. Não mais deportações, não mais separações de famílias, uma injustiça um dia mais é inaceitável para nossa comunidade”, insistiu Gutiérrez ante um auditório rendido, que Obama gostaria de ter para si.

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