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O grande benfeitor das universidades

O setor da educação também fica preocupado com o futuro do banco depois da morte de Botín

Elisa Silió
Emilio Botín, em uma imagem de arquivo.
Emilio Botín, em uma imagem de arquivo.Esteban Cobo (EFE)

O mundo econômico está preocupado com o futuro do Banco Santander depois da morte de seu presidente, Emilio Botín, mas o setor universitário também compartilha estas preocupações. O banqueiro havia se convertido no grande benfeitor de universidades na Espanha e América do Sul, onde se concentravam boa parte de seus negócios. Prova disso foram os mais de mil reitores que Botín juntou no mês de julho no Rio de Janeiro durante a terceira reunião-geral de Universia, um espaço no qual defendeu uma educação superior comum e universal. No encontro midiático – depois dos realizados em Sevilha e Guadalajara, o próximo será em Salamanca em 2017 – Botín anunciou que seu banco destinaria 700 milhões de euros (2,07 bilhões de reais) a projetos universitários (estudos de graduação, estágios, pesquisa ou doutorado) nos próximos quatro anos.

Deste valor, ao redor de 240 milhões ficarão na Espanha, 35% a mais do que o orçamento anterior. Outros 30% serão destinados a projetos na Ibero-América. Uma quantidade muito ambiciosa e sem precedentes no mundo hispânico. Botín estava convencido de que, sem formação acadêmica, um país não poderia avançar. E muito menos agora na sociedade do conhecimento. “É preciso abrir a Universidade e responder às novas exigências e expectativas dos estudantes e da própria comunidade”, afirmou no seu discurso de encerramento.

O anúncio de 700 milhões de euros está feito e não poderá ser mudado, mas ainda será preciso ver como o banco atuará no futuro, pois a enorme aposta na Universidade era um empenho pessoal do presidente. No Rio de Janeiro, Botín disse, por exemplo, que as 5.000 bolsas de estudo anuais de estágios em pequenas e médias empresas na Espanha provavelmente aumentariam e elas serão distribuídas nesse período.

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O orçamento do banco para as universidades não parou de crescer. Na reunião-geral de Guadalajara, em 2010, o banco anunciou que concederia 600 milhões e, nesta última, aumentou em 100 milhões de euros. Com este dinheiro serão pagas 40.000 bolsas de estudo de mobilidade nacional e internacional. Até esta data eram quase as únicas ajudas para que estudantes pudessem se formar em outro país dentro da Ibero-América. E, embora a ideia dos países do subcontinente mais a Espanha e Portugal, seja criar até o final do ano seu próprio Erasmus – plano de mobilidade de estudantes universitários existente na Europa –, se reconhece que nessa aventura para captar fundos privados a ideia era envolver Botín. Prova disso é que a Secretaria Ibero-Americana escolheu a reunião-geral do Rio para anunciar seu programa de mobilidade.

No Rio de Janeiro aconteceu o último encontro de Botín com as universidades. Exatamente hoje às onze da manhã, ele deveria ter apresentado a restauração do quadro A Educação da Virgem, um quadro de Velázquez que apareceu nos depósitos de Yale, em 2010, muito deteriorado. Com Yale, Botín tinha uma relação especial. Com o Centro de Inteligência Emocional deste prestigioso campus, o presidente do Santander assinou, em 2013, um acordo para investigar a utilização da arte e das emoções para desenvolver a criatividade das pessoas. Mais de uma centena de colégios espanhóis – o programa da Fundação Botín foi criado há uma década – formam agora seus professores para que no futuro seus alunos sejam capazes de enfrentar problemas que hoje desconhecemos. O gigantesco Centro Botín, obra de Renzo Piano, que está sendo construído em Santander, vai centralizar parte de seus esforços neste projeto.

Na nota de pêsames do ministro espanhol da educação, José Ignacio Wert, se enfatizou que “desaparece uma figura essencial para a transformação do sistema financeiro espanhol em um dos mais internacionalizados do mundo”, mas não citou seu trabalho como mecenas.

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