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GAZA E CISJORDÂNIA

Mísseis contra as mesquitas

Os recentes ataques israelenses acabam danificando o escasso patrimônio que restava em pé

A torre de uma mesquita destruída após ataque israelense em Gaza.
A torre de uma mesquita destruída após ataque israelense em Gaza.ibraheem abu mustafa (reuters)

A recente operação de Israel contra Gaza acabou também danificando o escasso patrimônio que restava em pé. Segundo Ahmed Al Barsh, porta-voz do ministério palestino de Turismo e Antiguidades, houve duas perdas principais: a mesquita de Omari, em Jabalia, com base do século VII e acréscimos do século XIV, destruída por um míssil, e a de Al Mahkamah, em Shejaiya, do século XV e cujo minarete (torre), de alvenaria e um dos principais exemplos da arquitetura mameluca na região, ainda permanece intacto entre as ruínas do edifício. A administração palestina afirma que a ofensiva deixou 41 mesquitas destruídas e 120 danificadas pelas bombas.

Foi destruído parcialmente o porto de Anthedon, o primeiro conhecido da Faixa, com 3.000 anos de antiguidade. O dano não foi consequência apenas dos ataques de Israel, mas também das demolições realizadas pelo Hamas para converter parte da região em uma área de treinamento. O bairro histórico de Darraj, que conta com mesquitas, igrejas e lojas da época otomana, foi atingido pelos disparos, ainda que as estruturas permaneçam "firmes".

A riqueza patrimonial de Gaza já era minúscula, fruto de séculos de conquistas e guerras que apagaram o rastro dos primeiros povoadores há 6.000 anos e dos cananeus, egípcios, gregos, romanos e bizantinos que os sucederam. Uma dezena de escavações arqueológicas foi fechada na última década para a construção de moradias particulares, em uma terra lotada.

Lodovico Folin Calabi, chefe da Unesco em Ramallah, viajou a Gaza em agosto e pediu que, na fase de reconstrução que agora se inicia, existam fundos para patrimônio, "porque sem memória não se pode levar uma vida normal".

Cisjordânia, Nablus e Hebron foram severamente atingidas na década passada, especialmente pelas operações israelenses durante a Segunda Intifada. Na primeira cidade, ao norte, 67% dos 310 edifícios afetados pelos disparos de morteiros e foguetes ou pelas escavadeiras estavam catalogados como históricos, otomanos na maioria. Também havia igrejas do século XVII como São Demétrio ou a mesquita de Al Khadra, erguida sobre uma capela de 1187.

Hebron, com 4.000 anos de história, tem sofrido sobretudo desde 1980 com a presença dos colonos. Para facilitar a conexão entre os assentamentos foram retiradas ruas completas na cidade velha. Os edifícios das épocas mameluca e otomana que ficaram em pé estão sendo reconstruídos, entre outros, pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Cerca de 60% da Mesquita de Ibrahim ou Túmulo dos Patriarcas foi transformado em sinagoga com o passar dos anos, tirando espaço do templo muçulmano. As novas divisórias e acessos geraram um importante dano à estrutura original do local, venerado desde a época do rei Herodes.

Em Belém, cuja Basílica da Natividade e parte da cidade velha são Patrimônio da Humanidade, o cerco de 2002 deixou danos em suas calçadas e na própria Natividade, assediada durante 39 dias depois que um grupo de palestinos se entrincheirou. Os disparos de Israel deixaram danos localizados no templo.

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