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Os empresários recebem com aplausos unânimes o novo Governo francês

Macron, a nova estrela do ministério, pede que seja julgado por seus atos, e não por ser ex-banqueiro

C. Y.
O ministro da Economia, Emmanuel Macron, com seu antecessor.
O ministro da Economia, Emmanuel Macron, com seu antecessor.C. E. (AP)

O novo Governo francês formado na terça-feira para superar uma das mais graves crises político-econômicas do país foi recebido com aplausos e cumprimentos pelas cúpulas patronais. Depois da primeira reunião da nova equipe do Conselho de Ministros, o chefe do Executivo, Manuel Valls, afirmou perante centenas de empresários que manterá os prometidos cortes fiscais de 41 bilhões de euros (123 bilhões de reais) para as empresas porque “não há emprego sem empregadores” e porque o “retorno do crescimento passará primeiro pelas empresas”. Emmanuel Macron, a estrela do novo Governo e titular da Economia, pediu que seja julgado por seus atos e não por ser ex-banqueiro.

A presença de Valls na universidade de verão, evento do patronal Movimento de Empresas da França (Medef) realizado em Jouy-en-Josas, 30 quilômetros ao sul de Paris, era esperada com expectativa somente 24 horas depois de ser informada a nova composição do Governo, do qual desapareceram as vozes críticas às reformas do presidente François Hollande. O primeiro-ministro foi interrompido continuamente pelos aplausos dos empresários, aos quais garantiu que manterá as reformas e que “o Executivo atua em favor das empresas”.

Em resposta aos críticos das próprias fileiras socialistas, Valls considerou “absurdo qualificar de “presente para as empresas” essas reduções de impostos e contribuições sociais previstas para o triênio 2014-2017. “Não é um ato a favor das empresas, mas de toda a França”, argumentou.

Os aplausos não soaram quando Valls pediu aos empresários que não utilizem essas reduções para engordar os dividendos, mas para melhorar a competitividade e criar empregos.

Valls manterá os cortes de 41 bilhões de euros às empresas porque “não há emprego sem empregadores”

O presidente do Medef, Pierre Gattaz, se mostrou mais do que satisfeito pelo discurso e pelo novo Governo, mas alguns minutos logo depois de concluir o pronunciamento, Valls recebeu a primeira crítica socialista. O deputado rebelde Laurent Baumel afirmou que a intervenção do primeiro-ministro era um “corta e cola” dos discursos que Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico, pronunciava nos anos 90. “Mal consigo ocultar minha inquietação”, acrescentou.

No Conselho de Ministros, Hollande exigiu “coerência e solidariedade” para que não aja como no passado recente “vozes isoladas”. Era uma clara referência a Arnaud Montebourg, o ex-ministro da Economia que desencadeou essa crise com suas críticas públicas à “ineficaz e injusta” política de austeridade europeia.

Montebourg transferiu nesta quarta-feira os poderes a Macron e, em seus discursos não faltaram mensagens cruzadas. “A economia pertence aos cidadãos, não aos especialistas econômicos em seus gabinetes”, disse o ex-ministro. “É preciso abandonar a cena quando já não se sabe representar a comédia”, acrescentou, para despedir-se com um “boa sorte, Manu”.

Macron pediu que seja julgado por seus “atos e decisões”, e não por sua imagem midiática. Prometeu falar “com uma só voz” com o ministro das Finanças, o ortodoxo Michel Sapin, que divergia de Montebourg na hora de controlar as desordenadas contas públicas francesas e em suas mensagens a Bruxelas e Berlim. Hollande quis na terça-feira ser fotografado com Macron e Sapin diante a porta do Eliseu. Um sinal a mais de que são seus homens de confiança, os encarregados de pôr em andamento sem fissuras o ambicioso plano de reformas do chefe de Governo.

Com essas reformas, Hollande é acusado de descumprir seu programa eleitoral, mas ocorre que foram precisamente Macron e Sapin os principais gestores de sua campanha, e o ex-banqueiro foi depois o grande inspirador do Pacto de Responsabilidade que embasa essas grandes linhas reformistas.

O patrão dos patrões Gattaz saudou ontem a incorporação de Macron como ministro da Economia: “Conhece a empresa, a economia de mercado e a globalização”. A nova estrela do Governo, com efeito, era até junho o enlace privilegiado dos empresários com o Eliseu, onde atuava como secretário-geral adjunto.

Quando o Conselho de Ministros ainda estava reunido, a Comissão Europeia exigiu da França que acelerasse as reformas. O mesmo fez a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel. Valls disse na terça que a França está decidida a reduzir seu elevado déficit (4,3% em 2013), mas pede flexibilidade e um maior estímulo ao crescimento por parte da UE, além de novas ações do Banco Central Europeu (BCE) para reduzir a fortaleza do euro. “A Europa necessita mais do que nunca de um entendimento forte e duradouro entre a Alemanha e a França”, enfatizou o primeiro-ministro em outra clara referência a Montebourg, muito crítico de Berlim.

Mas enquanto as reformas mal dão a largada, os maus dados econômicos continuam se amontoando. Na terça-feira foi divulgado que o desemprego voltou a subir 0,8% em julho: 26.100 desempregados a mais, o que eleva a cifra para 3.424.000 (beira o 11%), um novo recorde. Uma pesquisa realizada por Le Figaro indica que 75% dos franceses não acreditam que o novo Governo tire a França da crise.

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