_
_
_
_

Washington intervém em Ferguson após os erros das autoridades locais

O promotor-geral Holder viaja ao Missouri para impulsionar a investigação da morte do jovem negro

Marc Bassets
Holder junto ao policial encarregado de supervisionar os protestos.
Holder junto ao policial encarregado de supervisionar os protestos.Pablo Martinez Monsivais (AP)

O governo federal dos Estados Unidos se envolveu com força na crise dos distúrbios raciais em Ferguson (Missouri). Os erros das autoridades locais e estatais depois da morte, em 9 de agosto, de um negro desarmado a tiros, dados por um policial branco, levaram o governo Obama a se colocar à frente das investigações e pressionar para que haja uma mudança nas atitudes das forças da ordem contra os afro-americanos.

O promotor-geral Eric Holder, titular do Departamento de Justiça, viajou ontem para a área metropolitana de Saint Louis - a maior cidade vizinha de Ferguson - para se informar pessoalmente sobre as pesquisas dos 40 agentes do FBI e vários promotores especialistas em direitos civis deslocados para a região. Holder, que como o presidente Barack Obama é afro-americano e passou, ele e sua família, por discriminação racial nos EUA, quer abordar um dos problemas que explicam os protestos destes dias: a percepção, por parte de muitos negros, de que a polícia é hostil a eles.

“Esta é minha promessa ao povo de Ferguson: nossa investigação será completa, será equilibrada e será independente”, escreveu o promotor geral em uma carta aberta publicada no jornal “Saint Louis Post Dispatch”. “E além da investigação, trabalharemos com a polícia, com os líderes dos direitos civis, e com os membros da cidadania para que desta tragédia surja um novo entendimento, e uma ação robusta, para diminuir a distância permanente entre os agentes da lei e as comunidades servidas por eles.”

Holder se reuniu com líderes comunitários, agentes do FBI e políticos eleitos. Escutou o testemunho de estudantes sobre episódios de brutalidade policial. Em seu encontro com líderes comunitários, ele disse que atribuiu aos "mais experientes" agentes e promotores a investigação sobre a morte de Brown, mas enfatizou que o promotor do condado de San Luis e a polícia do condado também têm trabalho a fazer. E instou os participantes a seguirem trabalhando para melhorar as relações entre a comunidade e os agentes.

O promotor Holder quer abordar um dos problemas que explicam os protestos em Ferguson: a percepção, por parte de muitos negros, de que a polícia é hostil a eles

Mais tarde, Holder visitou um restaurante em Ferguson, onde conversou com alguns dos presentes. "Não queremos que o mundo nos conheça pelo que está acontecendo aqui", disse a prefeita de um município próximo. "Podemos fazer melhor", replicou o promotor. No restaurante também encontrou com Ronald Johnson, o capitão afro-americano da patrulha estatal de autoestradas encarregado das forças de segurança dos protestos. Johnson disse a Holder que a situação "está melhorando" em Ferguson.

A visita de Holder coincidiu com o primeiro passo em direção à possível acusação de Darren Wilson, o policial que disparou seis tiros, como mínimo, contra Michael Brown, de 18 anos. A promotoria do condado apresentou as primeiras provas a um grande júri, uma instituição que nos EUA se encarrega de decidir se acusa um suspeito.

O ambiente de desconfiança no Missouri ameaça contaminar este processo. O promotor do condado de Saint Louis, Robert McCulloch, é branco e filho de um policial que morreu em serviço pelos tiros de um afro-americano. Há outros policiais em sua família. Políticos e ativistas exigiram que o governador, o democrata Jay Nixon, o retire do caso e nomeie um promotor especial. Sustentam que a visão de McCulloch sobre o caso será parcial.

A intervenção do governo federal em Ferguson não afeta a gestão policial dos protestos que, depois de dias de distúrbios, se acalmaram na noite de terça e quarta: o governo Obama está se concentrando nas causas destes protestos. Primeiro, a confusão sobre a morte de Brown e a culpa de Wilson. E segundo, o abismo entre um corpo policial majoritariamente branco e uma população majoritariamente negra. Isto não acontece exclusivamente em Ferguson, mas também em outros municípios perto de Saint Louis que, nas últimas décadas, assistiram ao êxodo dos cidadãos brancos, mas onde estes continuam dominando os governos locais.

A presença de Holder em Ferguson, enviado pelo presidente Obama, é um gesto forte, com antecedentes históricos: nos anos cinquenta e sessenta, o governo federal, com o peso da Constituição dos EUA enfrentou os estados do sul para proteger a minoria, na época segregada.

O conflito atual não é comparável, mas ver o promotor-geral pousando em Saint Louis é uma maneira de dizer às autoridades locais que eles são incapazes de garantir uma investigação com credibilidade e de assegurar que nesta parte do país as liberdades civis sejam plenamente respeitadas. Porque meio século depois do fim da segregação legal nos EUA outras formas de discriminação persistem. Uma é o viés contra os afro-americanos do sistema de justiça; outra, segundo denunciou o próprio promotor-geral, as leis eleitorais que dissuadem os negros e outras minorias de votar e retiram sua representatividade.

A urgência para os manifestantes que pedem justiça é esclarecer o que aconteceu no dia 9 de agosto: se o policial disparou contra o rapaz porque este o enfrentou ou se o maltratou. Os testemunhos ofereceram versões divergentes. O funeral de Michael Brown será realizado na segunda-feira em Saint Louis, mais de duas semanas depois de sua morte. A ferida continua aberta.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_