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Os EUA retiram o seu pessoal de embaixada na Líbia

Washington transfere os seus trabalhadores diplomáticos e de segurança devido à crescente instabilidade em Trípoli

Uma coluna de fumaça em Trípoli, na quinta-feira.
Uma coluna de fumaça em Trípoli, na quinta-feira.MAHMUD TURKIA (AFP)

Os Estados Unidos retiraram neste sábado da Líbia todos os funcionários diplomáticos e de segurança de sua Embaixada em Trípoli diante dos crescentes conflitos violentos entre milícias na capital do país árabe. Os funcionários foram transferidos por rodovia, sob ampla proteção de aviões de combate e militares norte-americanos, para a vizinha Tunísia e de lá foram reposicionados em outros lugares, de acordo com o Departamento de Estado. A retirada de pessoal foi realizada “sem incidentes” e levou aproximadamente cinco horas, segundo o Pentágono. O fechamento da embaixada deixa claro o temor do Governo de Barack Obama diante da instabilidade na Líbia com a aproximação do segundo aniversário do ataque violento ao consulado norte-americano em Benghazi, no leste do país, quando quatro norte-americanos foram mortos, entre eles o embaixador em Trípoli.

O incidente de Benghazi –ocorrido um ano antes da deposição do regime de Muamar Gadafi, depois de uma intervenção aérea desencadeada inicialmente pelos EUA, França e Reino Unido– levou a uma intensa ofensiva do Partido Republicano, que ainda tenta mantê-la, contra o Governo do democrata Obama por considerar que ele deveria ter tomado mais medidas de prevenção e pelo modo como gerenciou o fatídico ataque. No mês passado os EUA detiveram na Líbia um suspeito de participar da ação contra o consulado, que foi trasladado a Washington para ser julgado e que se declarou não culpado.

A crescente deterioração da situação em Trípoli, pelos confrontos entre algumas das milícias que em 2011 lutaram juntas contra as forças de Gadafi, também levou nos últimos dias a Turquia e as Nações Unidas a tirarem seu pessoal diplomático do país. “A segurança tem que vir primeiro. Lamentavelmente, tivemos que tomar esse passo porque a embaixada está localizada muito perto de uma zona de luta intensa e contínua violência entre facções armadas”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, em um comunicado. .

De Paris, onde se encontra de visita, o secretário de Estado, John Kerry, qualificou como de “violência sem controle” o panorama em Trípoli e ressaltou que representava um risco real para o pessoal dos Estados Unidos, informa a agência Reuters. “Estamos comprometidos em dar apoio ao povo líbio nestes momentos de desafio, e estamos explorando opções para um retorno permanente a Trípoli quando melhorar a segurança na área”, acrescentou a nota da porta-voz.

O pessoal foi transferido por terra, sob uma ampla proteção de aviões de combate e militares norte-americanos

Os diplomatas norte-americanos trabalharão temporariamente em Washington e outras representações no norte da África. Essa é a segunda vez em pouco mais de três anos que os EUA fecham sua Embaixada em Trípoli. Em fevereiro de 2011 deixaram de operar por causa dos desdobramentos dos protestos de opositores de Gadafi e reabriram suas portas em setembro desse ano, depois que em julho foi formado um governo de transição no país O consulado em Benghazi, por sua vez, permanece fechado desde o ataque de 2012.

Nos últimos meses a Embaixada dos EUA em Trípoli foi reduzindo seu pessoal em razão da volatilidade no país, cujo controle é disputado pelo Governo e vários grupos armados. A situação em Trípoli se deteriorou drasticamente nas duas últimas semanas com uma intensa troca de tiros e foguetes entre milícias no sul da cidade, perto do complexo diplomático norte-americano. Os confrontos causaram pelo menos 50 mortes e provocaram o cancelamento da maioria dos voos internacionais.

A piora da situação na Líbia pode representar mais uma dor de cabeça para Obama, que já lida com várias crises internacionais acumuladas, principalmente o conflito em Gaza, o auge do jihadismo no Iraque e a instabilidade no leste da Ucrânia ante o crescente apoio militar russo aos separatistas contrários ao governo pró-Ocidente de Kiev.

Por ora, a retirada do pessoal diplomático em Trípoli demorou muito pouco para alcançar a arena política. O congressista republicano Ed Royce, presidente do comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, afirmou neste sábado à rede CNN que a Administração precisa “envolver-se mais no terreno” com as facções líbias para tentar frear a espiral da violência.

Em seu comunicado, a porta-voz do Departamento de Estado reiterou a petição de Washington de que as hostilidades na Líbia cessem e se iniciem as negociações entre as diferentes partes para resolverem suas “diferenças”. Em paralelo, o departamento revisou suas recomendações de viagem para a Líbia, pedindo aos norte-americanos que não viajem para o país e que, se estiverem ali, o abandonem imediatamente. “O Governo líbio não tem sido capaz de estruturar adequadamente suas forças policiais e militares, e melhorar a segurança”, sentencia.

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