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Tela latina

O Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo completa nove anos com mais de 100 filmes de 16 países da região, além de um público fiel e crescente

Cena do filme 'La playa D. C.', do colombiano Juan Andrés Arango.
Cena do filme 'La playa D. C.', do colombiano Juan Andrés Arango.

As pontes do Brasil com o cinema do resto da América Latina ainda não são muitas, mas estão florescendo. A mais antiga e representativa delas é sem dúvida o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que este ano chega à sua 9ª edição mantendo a política de entradas gratuitas que é essencial para sua missão – imprescindível – de formar público.

O evento, que exibirá mais de 100 filmes em 12 endereços da capital paulista, tem funcionado, tanto pelo acesso grátis, como pelos vários eventos da programação, que este ano representa as cinematografias de 16 países da região. "No começo, o esforço era atrair espectadores para assistir a títulos premiados, de diretores relativamente conhecidos. Hoje, o que as pessoas querem ver são as novidades vindas, inclusive, dos países de pouca tradição cinematográfica", explica o cineasta Francisco César Filho, diretor do evento e um de seus curadores. As mostras vão do dia 24 a 30 de julho.

Essa latinidade crescente entre os brasileiros vem em muito boa hora, junto com evolução do cinema latino-americano como um todo –que, claro, encontra suas particularidades desde o México até a pontinha da Argentina, mas que ganha cada vez mais espaço nas telas do mundo inteiro. Algumas evidências disso, pra falar só de México e Argentina, são a comédia mexicana Não aceitamos devoluções, vista no país por 15 milhões de pessoas, e a produção nacional da Argentina em 2013, que bateu recorde, chegando à marca histórica de 166 longas-metragens lançados.

O bom é notar que, seguindo esse ritmo, a seleção do festival se diversificou e inclusive rejuvenesceu. Parte dela faz justiça aos vencedores de importantes festivais, como Cannes, Sundance, Veneza, Locarno e Roterdã. Outra parte, segundo César Filho, “é fruto de um mapeamento de anos do cinema latino-americano, atualizado sempre com as novidades que identificamos em festivais locais”.

O país campeão da vez é a Argentina, representada com 11 longas-metragens nas diferentes mostras, dois homenageados – o cineasta Pablo Trapero e a produtora e atriz Martina Gusmán – e vários outros convidados, mas isso é mais por uma casualidade da (boa) safra cinematográfica do último ano. Dela fazem parte os argentinos Refugiado, de Diego Lerman, e O chaveiro, de Natália Smirnoff – ambos realizadores jovens e já bastante premiados.

Mas não faltarão recomendações para quem quiser conhecer histórias do Peru, da Bolívia, do Equador, da Colômbia e da Venezuela, raras no circuito cultural brasileiro, assim como de países centro-americanos como Costa Rica, Guatemala, República Dominicana e Panamá –pouco difundidas, talvez, no mundo inteiro. Entre elas, destaca-se, por exemplo, o colombiano La Playa D.C., de Juan Andrés Arango, que retrata a vida de um jovem negro que por conta da violência se desloca da região do Pacífico colombiano à capital, Bogotá, e lá tenta encontrar seus caminhos e a si mesmo, enquanto segue os rastros do irmão desaparecido. Também o venezuelano Pelo malo, de Mariana Rondón, que além de ser o primeiro filme da Venezuela distribuído no país, é um belo relato sobre a intolerância que gira ao redor de um menino encucado com seu cabelo crespo e que gera suspeitas na mãe de que ele seja homossexual.

São certamente imperdíveis, porque talvez nunca voltem ao país, o costa-riquenho Princesas vermelhas, de Laura Astorga, sobre uma menina de 11 anos em meio à revolução sandinista; o dominicano A luta de Ana, de Bladimir Abud, sobre uma mãe que busca justiça para o filho assassinado; e o paraguaio A leitura de Justino, de Arnaldo André, sobre um jovem que passa a trabalhar como carteiro para manter a família depois da morte do pai.

Os brasileiros, num significativo gesto do festival de afirmar o óbvio, que Brasil é América Latina, também estão presentes. Tanto na seção de filmes – que inclui inéditos como Amparo, de Ricardo Domingos Pinto e Silva, Corte seco, de Renato Tapajós, e Hamlet, de Cristiano Burlan – como entre as homenagens, das quais participam a atriz, produtora e diretora Leandra Leal e o documentarista Silvio Tendler, responsável pelos documentários de maior público do cinema nacional.

Para os interessados em falar de estética e mercado, há uma agenda paralela de debates e palestras e inclusive um seminário, o Nuevas Ventanas, que pretende discutir e alentar futuro de uma indústria latino-americana cada vez mais integrada. A programação completa está disponível no site do evento, que só perde quem ainda não se deu conta da imensa riqueza filmográfica da região.

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