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Nova acusação de ciberespionagem chinesa nos EUA

A notícia coincide com as tentativas de Pequim e Washington para superar a desconfiança mútua

Silvia Ayuso
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em Pequim.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em Pequim.Greg Baker (AP)

A notícia de que hackers chineses conseguiram acessar em março os computadores da agência governamental norte-americana que guarda dados pessoais de todos os funcionários federais provavelmente não passaria de uma piada se não fosse pelo momento em que veio à tona: justo quando o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, se encontrava na China participando de uma nova rodada do Diálogo Estratégico e Econômico, um dos instrumentos de diálogo bilateral mais importantes entre os dois países.

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Segundo o The New York Times, que revelou a notícia que nesta quinta-feira ecoou em toda a imprensa norte-americana, antes do ataque ser detectado e freado, os hackers chineses conseguiram acessar algumas das bases de dados nas quais o escritório de departamento pessoal federal armazena dados pessoais dos funcionários que necessitam autorização para ter acesso a um tipo de informação altamente confidencial.

O Departamento de Segurança Nacional confirmou o ciberataque para a imprensa, mas ressaltou que não há registro de que se tenha perdido informação comprometedora. E se os hackers foram rastreados como provenientes da China, não está claro se os piratas informáticos atuaram em nome do Governo chinês.

Mas o interessante nesse caso não é o ataque em si – ciberataques chineses como esse são constantes –, mas o fato de ter sido bem sucedido, ainda que a informação obtida não seja de suma importância, à primeira vista. E também o fato de ser conhecido justamente quando Washington e Pequim tentam superar a desconfiança mútua gerada precisamente por episódios do gênero.

Em maio, cinco militares chineses foram acusados formalmente pelo Departamento de Justiça norte-americano de ciberespionagem industrial. Ainda que seja improvável que o caso chegue algum dia a ser julgado, uma vez que para isso os acusados teriam de vir para os Estados Unidos, o gesto foi mais simbólico: foi a primeira vez em que os EUA acusavam criminalmente funcionários de outro país. E o fez contra a poderosa China, a quem Washington já acusou outras vezes de ataques virtuais.

Além disso, esse caso poderia por sua vez levar outros países a tentar colocar no banco dos réus funcionários norte-americanos por acusações similares, tudo isso no momento em que ainda não acabou o fluxo de revelações sobre o alcance da espionagem mundial realizada pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) norte-americana reveladas por Edward Snowden.

Na realidade, um ano atrás eram os EUA que se retorciam incômodos, depois de Snowden assegurar que o Governo de Barack Obama – e de seus predecessores – há anos acessa computadores da China e de Hong Kong e que a NSA tem inclusive uma unidade ultrassecreta dedicada exclusivamente a tentar entrar nos sistemas informatizados do gigante asiático.

As revelações de Snowden, além de esfriar as relações de Washington com alguns de seus mais próximos aliados internacionais, causaram a intenção de limitar o alcance da compilação de informação como os metadados em nível global.

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