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Os EUA se declaram dispostos a cooperar com o Irã em uma solução para o Iraque

Kerry explica que Washington analisaria “passo a passo” uma eventual cooperação militar

Silvia Ayuso
John Kerry no Departamento de Estado.
John Kerry no Departamento de Estado.Lauren Victoria Burke (AP)

Os Estados Unidos estão tão preocupados com o "desafio existencial" que representa para o Iraque a ofensiva do Exército Islâmico do Iraque e Levante (EIIL), que não descartam nem mesmo dialogar com o Irã para tentar conter o que considera uma ameaça à "estabilidade" de toda a região. Mas com algumas condições, disse o secretário de Estado, John Kerry, nesta segunda-feira.

"Estamos abertos a discussões, se o Irã puder fazer uma contribuição construtiva, se estiver disposto a fazer algo que respeite a soberania e a integridade do Iraque e a capacidade do Governo de implementar as reformas", disse Kerry em uma entrevista ao Yahoo News.

Quando questionado se vê os EUA cooperando militarmente com seu antagonista histórico na região, Kerry disse que qualquer decisão deve ser analisada "passo a passo", mas não descartou categoricamente essa possibilidade.

"Vamos ver primeiro o que o Irã está está disposto a fazer ou não", disse ele. "Não descartaria nada que pudesse ser construtivo para proporcionar uma verdadeira estabilidade no Iraque".

As declarações de Kerry vêm dois dias depois de Teerã abrir uma porta para a cooperação com Washington, com o objetivo de deter o avanço dos insurgentes do EIIL no país vizinho.

Os dois lados também concordam com um novo encontro entre negociadores norte-americanos e iranianos em Viena, por ocasião das discussões do Grupo 5 +1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - EUA, China, Rússia, Reino Unido e França - mais a Alemanha) com o Irã, para buscar um acordo definitivo sobre a questão nuclear.

O Irã negou que sua equipe de negociação vá abordar a crise iraquiana durante a reunião em Viena.

"Não, não está certo. Só falaremos (do assunto) nuclear", respondeu o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, ao EL PAÍS.

Em Washington, no entanto, um porta-voz do Pentágono, disse que o tema poderia ser abordado "à margem" da reunião, mas ressaltou que "não há nenhuma intenção de coordenar as atividades militares entre os EUA e o Irã no Iraque".

Embora tanto Washington como Teerã tenham interesse em deter os extremistas do EIIL e estabilizar o Iraque, as autoridades iranianas sabem que, neste caso, são os Estados Unidos que precisam de ajuda.

Os EUA e o Irã não mantêm relações diplomáticas há 35 anos. Além disso, o Governo Obama promoveu fortes sanções contra Teerã, que levaram o Governo Rohani à mesa de negociações nucleares.

No domingo, o senador republicano Lindsey Graham, considerado um falcão da política externa, mostrou-se favorável a uma conversa com o Irã, mesmo que apenas para limitar a sua possível influência no Iraque.

"Devemos conversar com o Irã para garantir que o Governo iraniano não use isso como oportunidade para tomar o controle de partes do Iraque", disse Graham à CNN. "Eles já estão lá. Precisamos traçar uma linha vermelha para o Irã", disse ele.

Não seria a primeira vez que os dois países cooperam: já cooperaram no Afeganistão. Agora, porém, haveria o paradoxo de que os Estados Unidos iriam colaborar com o Irã no Iraque, enquanto os dois países apoiam facções contrárias na vizinha Síria.

Obama vai levar alguns dias para analisar a situação no Iraque e avaliar todas as opções, incluindo ataques com drones (aviões controlados à distância).

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