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Moscou e Kiev querem o fim do “derramamento de sangue” no Leste

Putin e Poroshenko abordam na Normandia a possibilidade de um acordo de cessar fogo

Marc Bassets
Putin e Poroshenko conversam diante de Angela Merkel.
Putin e Poroshenko conversam diante de Angela Merkel.Getty Images

A Normandia proporcionou um início de esfriamento da crise na Ucrânia. As celebrações pelo septuagésimo aniversário do desembarque na Normandia facilitaram o primeiro encontro cara a cara entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente russo, Vladimir Putin. Outra conversa, esta entre Putin e o presidente eleito da Ucrânia, Petro Poroshenko, abre a possibilidade de evitar uma guerra civil. A memória compartilhada – EUA, Rússia e Ucrânia, então uma república soviética, lutaram juntos contra Hitler – ajuda a diplomacia.

Pela primeira vez desde as eleições presidenciais ucranianas, em 25 de maio, Putin e Poroshenko – um magnata que pretende aproximar a Ucrânia da União Europeia e que é visto com desconfiança pelo Kremlin – conversaram nesta sexta. O encontro ocorreu antes do almoço dos chefes de Estado e de Governo, no castelo de Bénouville (Normandia), um lugar chave da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial.

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Entre os cemitérios com milhares de cruzes brancas frente à imensidão das praias normandas aonde em 6 de junho de 1944 10.000 jovens morreram ou foram feridos – um lugar sagrado da história europeia – insinuaram-se os primeiros sinais de aproximação entre Kiev e Moscou. Um porta-voz do Kremlin disse em Moscou que os líderes de ambos os países compartilham o desejo de terminar o quanto antes com “o banho de sangue” e os “combates de ambos os lados”, de acordo com a agência Reuters.

Um porta-voz do presidente francês, François Hollande, descreveu o diálogo como “um avanço provisório”, segundo a agência. Também explicou que ambos concordaram em manter um diálogo nos próximos dias para alcançar um cessar fogo entre as forças governamentais ucranianas e os grupos pró-russos do leste do país. Putin previu enviar um embaixador a Kiev no sábado e poderá reconhecer a eleição de Poroshenko.

A França tem se esforçado nas últimas semanas para exercer o papel de mediadora na Ucrânia. Hollande convidou Poroshenko para vir a Normandia no último momento, um dia antes deste assumir o cargo oficialmente no sábado. É uma incógnita para onde levará o diálogo esboçado na Normandia. Os EUA desconfiaram até agora das promessas e declarações de Putin. O presidente russo, por exemplo, negou qualquer implicação na secessão da região ucraniana da Criméia para anexá-la depois.

No almoço, foi a vez de Putin e Obama, que não haviam se reunido desde o começo da crise na Ucrânia. Durantes estes meses conversaram várias vezes pelo telefone. Ambos mantêm uma relação profissional, segundo Obama.

A conversa foi “informal” e durou entre 10 e 15 minutos, segundo Bem Rhodes, conselheiro de Obama. Antes, durante a foto conjunta dos líderes, com os fotógrafos presentes, os presidentes norte-americano e russo se reuniram. Uma das exigências de Obama a Putin é que ele dialogue com Kiev, um ponto que poderá ser cumprido se os contatos da Normandia prosperarem. Também exige que Putin feche a fronteira ucraniana ao tráfico de armas e force os rebeldes a abandonar a violência.

“Putin e Obama falaram da necessidade de acabar com a violência e os combates o quanto antes”, disse o porta-voz de Putin, Dmitry Pesko, de acordo com a agência Associated Press.

Na quinta, ao final de uma reunião dos países mais industrializados em Bruxelas, da qual Putin foi excluído por conta de suas ações na Ucrânia, o presidente dos EUA disse confiar que o presidente russo “se moverá na direção adequada” se quiser evitar novas sanções econômicas.

A Casa Branca vê sinais positivos na retirada das tropas russas estacionadas nos últimos meses próximas à fronteira ucraniana e no fato de Moscou não ter boicotado as eleições nas quais Poroshenko foi eleito. Mas teme que a agitação dos milicianos pró-russos provoque uma guerra civil.

Em um discurso em Sword Beach, uma das praias do desembarque, Hollande insistiu em reconhecer o papel da Rússia e da União soviética – um papel frequentemente subestimado nas celebrações da Normandia – na derrota da Alemanha nazista. Entre quinta e sexta também se reuniram com Putin o primeiro ministro britânico, David Cameron, e a chanceler alemã Angela Merkel.

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