Le Pen manobra em Bruxelas para criar ampla frente contra a União Europeia
A Frente Nacional precisa pactuar com mais dois partidos para ter um grupo próprio
Quando lhe perguntam o que marcou a sua infância, ela responde sem pensar duas vezes: “20 quilos de dinamite”. Aos oito anos de idade, uma bomba explodiu em frente ao apartamento da família de Marine Le Pen, líder da vitoriosa Frente Nacional francesa, enquanto ela e suas irmãs dormiam. O pai, Jean-Marie, fundador do partido, é autor de frases como “a ocupação nazista da França não foi particularmente desumana”, as câmaras de gás foram “um detalhe” e “os judeus conspiram para governar o mundo”. Sua filha conseguiu suavizar esse discurso (embora retirou a imunidade parlamentar por comparar a ocupação ilegal de terrenos para rezar por parte de pessoas de confissão muçulmana à ocupação nazista desse país) e centrar no nacionalismo econômico, as políticas (anti) imigração e uma espécie de “Europa para os europeus” com um marcado caráter antieuropeu, antimoeda única e, ultimamente, pró-russo.
A líder francesa agrupou cinco formações de outros países
Marine Le Pen continua sendo pura dinamite: depois de ganhar as eleições no domingo com 25% dos votos e dar uma fenomenal sacudida no projeto europeu, apresentou-se nesta quarta-feira em Bruxelas em busca de um grupo parlamentar que ainda não tem. Conseguiu agrupar cinco partidos extremistas de cinco países, com 38 eurodeputados e uma mensagem comum: não à União Europeia. Mas precisa tecer alianças com mais dois partidos. Diante de uma nuvem de jornalistas no Parlamento Europeu, Le Pen apresentou o gérmen de uma das versões europeias do Tea Party —há outra: a do britânico Nigel Farage— com um leit motiv: “Ser a oposição do europeísmo e defender nossas nações”.
Não lhe falta carisma, e ante a imprensa combinou ataques contra a imprensa francesa (a quem acusa de conspirar contra seu partido), uma rejeição aos partidos mais ultras da Eurocâmara (não quer flertar com formações extremistas e xenófobas como o húngaro Jobbik ou pequenos partidos neonazistas) e uma certeza de que acabará encontrando apoios: “Não temos nenhuma inquietude, estamos negociando com vários partidos e em junho teremos grupo próprio; sua existência será além disso a prova de que uma Europa fraternal e respeitosa com as soberanias nacionais possa e deva existir”.
O UKIP busca fechar uma coalizão com o italiano Beppe Grillo
A Aliança Europeia pela Liberdade de Le Pen conta por enquanto com o islamófobo holandês Geert Wilders —que teve os piores resultados do esperado nas eleições—, a Liga Norte italiana, o FPÖ austríaco e o Vlaams Belang belga. Mas nem todos se prendem ao discurso comedido pela líder da Frente Nacional: “Queremos uma nova direção do Tratado de Schengen [um dos pilares básicos da Unión, que garante a livre circulação de pessoas], não podemos permitir que o crime organizado cruze nossas fronteiras”, apontou Harald Vilimsky, do FPÖ austríaco. “Estamos contra tudo o que é único: a moeda única, o pensamento único. Os eleitores nos apoiam porque somos os únicos partidos que fomos capazes de identificar as autênticas emergências que preocupam em nossos países”, acrescentou Matteo Salvino, da xenófoba Liga Norte italiana.
Le Pen atribuiu as críticas do líder do UKIP, Nigel Farage, que chamou seu partido de racista, a “razões táticas” para seguir dirigindo o grupo Europa da Liberdade e da Democracia (que conta também com 38 cadeiras). Mas não descartou constituir uma frente com o grupo de Farage “para recusar os elementos mais nefastos da União Europeia”. Farage, por sua vez, reuniu-se nesta quarta-feira em Bruxelas com Beppe Grillo, o cômico italiano que lidera o Movimento 5 Estrelas, para tratar de forjar uma coalizão entre ambas formações.
Tanto Farage como Le Pen e os partidos que cortejam compartilham vários denominadores comuns. Caracterizam-se por oferecer soluções esquemáticas a problemas complexos. Mas, sobretudo, seu potencial desestabilizador procede de sua capacidade para debater. Marcam a agenda, e não só a centro-direita: o novo primeiro-ministro socialista francês, Manuel Valls, é um dos grandes partidários de endurecer as políticas de imigração; o presidente francês, François Hollande, reclamou na cúpula informal da segunda-feira que uma das prioridades da União seja “reforçar suas fronteiras exteriores”.
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