Os Estados Unidos decidem manter 9.800 soldados no Afeganistão
A permanência das tropas depende da existência de um acordo com Cabul. A retirada se completará no final de 2016
O Afeganistão não será uma Alemanha nem um Japão, onde, quase sete décadas depois do final da II Guerra Mundial, permanecem estacionadas dezenas de milhares de soldados norte-americanos. O presidente Barack Obama anunciou nesta terça-feira que até o final de 2016 os Estados Unidos retirarão completamente suas forças do país centro-asiático.
Se o calendário se cumprir, Obama terá completado a promessa de, durante sua presidência, acabar com as guerras iniciadas após os atentados de 11 de setembro de 2001.
“É hora de virar a página após mais de uma década em que nossa política externa esteve muito dominada pelas guerras do Afeganistão e Iraque”, disse Obama no Jardim das Rosas da Casa Branca. O presidente recordou que, quando chegou ao poder, em 2009, os EUA tinham quase 180.000 militares em combate; dentro de alguns meses, terão menos de 10.000.
Os EUA se retiraram do Iraque em 2011, após o fracasso da tentativa norte-americana de definir uma presença mais prolongada das suas forças. A missão de combate no Afeganistão – a guerra mais longa já travada pelos EUA – termina oficialmente no final de 2014.
O plano que Obama apresentou, e que ele terá de negociar com o presidente afegão que emergir das urnas nas eleições de 14 de junho, contempla uma presença de mais dois anos com uma dupla missão: treinar as forças locais e participar de operações antiterroristas.
Atualmente há 32.000 militares dos EUA mobilizados no Afeganistão. No próximo mês de janeiro, quando terminar a missão de combate, restarão 9.800, segundo a proposta da Administração Obama. Em dezembro de 2015, esse número deve se reduzir pela metade e se concentrar na capital, Cabul, e na vizinha base de Bagram. Um ano depois, semanas antes da saída de Obama da Casa Branca, ao final do seu segundo e último mandato, não restará nenhum militar norte-americano, exceto pelo pessoal habitual na embaixada.
Obama adotou a decisão de escalonar a retirada definitiva depois de uma visita fugaz à base de Bagram, no domingo, e às vésperas de um discurso, nesta quarta-feira, em que deverá apresentar sua visão atual sobre a política externa. O fim das guerras do Iraque e do Afeganistão e a decisão de priorizar a luta antiterrorista – com o uso de comandos especiais e aviões teleguiados – formam um dos eixos da sua presidência. A retirada reflete a indigestão dos cidadãos com o intervencionismo de seu antecessor, George W. Bush, mas semeou dúvidas sobre a influência da maior potência global.
Obama acredita que a Al Qaeda – o grupo terrorista cuja presença no Afeganistão originou a intervenção norte-americana – está debilitada e que as forças afegãs já estão suficientemente adestradas para combater o Talibã. Mais de 2.000 norte-americanos morreram no Afeganistão desde o início da guerra, em 2001.
O calendário para a retirada definitiva do Afeganistão está sujeito à aprovação do ganhador do segundo turno da eleição presidencial, a ser disputada pelos candidatos Abdulah Abdulah e Ashraf Ghani. A Casa Branca confia em que o vencedor assine o acordo que permitiria a presença de tropas durante mais dois anos após o fim da fase de combates, em dezembro de 2014. O atual presidente, Hamid Karzai, opôs-se a isso.
O obstáculo principal é a solicitação, por parte dos EUA, de que o Afeganistão garanta a imunidade judicial aos seus soldados. Sem acordo, os norte-americanos deverão abandonar o país no final de 2014, como ocorreu com o Iraque em 2011. Dois anos e meio depois, a violência, o sectarismo e a corrupção continuam dominando o país árabe.
“Os norte-americanos aprenderam que é mais difícil acabar guerras que começá-las”, disse Obama. Como a do Iraque, a do Afeganistão terá terminado sem glória, sem a capitulação do inimigo nem desfile de vitória com confetes e bandeiras. Sem vitória.
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