O calvário dos seis iranianos felizes
Divulgados os detalhes sobre a prisão dos jovens que foram detidos por dançar em um vídeo publicado no Youtube O diretor do clipe permanece preso por um delito ainda não identificado
A liberação dos três garotos e garotas presos no Irã por dançar Happy de Pharrell Williams não é, ainda, o final feliz. Além de estar pendentes de julgamento e ter que pagar fianças caras, os jovens ainda foram maltratados durante a detenção. Segundo contaram aos mais íntimos, as garotas foram obrigadas a fazer agachamento nuas diante de várias agentes policiais. O incidente evidencia os desafios internos que o presidente Hassan Rohani enfrenta para melhorar a imagem internacional de seu país.
"Se não fosse pela mobilização internacional, esses garotos poderiam ter passado meses e inclusive anos atrás das grades", declarou ao EL PAÍS Hadi Ghaemi, diretor executivo da Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã.
O calvário de Neda, Bardia, Rohan, Reihanet, Sepideh e Afshin começou no domingo passado, quase um mês depois de publicar seu vídeo no YouTube, copiando muitos outros fãs de Pharrell no mundo todo. Nesse dia, a polícia invadiu a casa de Reihanet Taravati e prendeu ela e seus cinco amigos, segundo informou Iranwire, citando uma fonte próxima ao grupo. Esta jovem artista e fotógrafa de moda, que sai no clipe no papel de Happy e também como diretora artística, anunciou sua saída da prisão na quarta-feira através do Instagram, mas o diretor do vídeo, Sassan Soleimani, continua preso.
Os jovens revelaram que os agentes lhes levaram inicialmente à delegacia de Vozara, no centro de Teerã, onde foram impedidos de usar os sanitários. No segundo dia, foram trasladados a celas de isolamento. Durante todo o tempo foram interrogados sobre o vídeo e seus contatos com meios estrangeiros. Além disso, as garotas foram obrigadas a se despir e a fazer agachamentos diante de policiais mulheres.
Como se esse tratamento vexatório não tivesse sido suficiente, ainda saíram na televisão estatal na terça-feira passada. De costas à câmera, asseguram que foram “enganados” e que não sabiam que o vídeo seria difundido, algo que faz o diretor da campanha pelos direitos humanos no país, Ghaemi, temer que o diretor do vídeo Soleimani seja "torturado para que assuma a culpa e seja um bode expiatório". A confissão televisionada, uma prática condenada pelas organizações de direitos humanos, serviria de escárnio para aqueles que se sentissem tentados a ignorar as estritas normas morais da República Islâmica.
Embora as acusações contra os jovens não foram divulgadas, as três mulheres saem no vídeo sem o lenço de rigor e, além disso, dançando com homens com os que não têm parentesco, algo que está proibido no país. O acesso ao YouTube (e a outras redes sociais) também está censurado e só pode ser feito através de VPN (redes virtuais privadas). No entanto, uma coisa são as normas e outra a realidade de um país com dois terços da população com menos 35 anos, e 30 milhões de internautas entre seus 77 milhões de habitantes.
O presidente Rohani se manifesta com frequência a favor de maiores liberdades pessoais. Apenas um dia antes da detenção dos seis jovens, voltou a defender o livre acesso à Internet e às redes sociais. Não obstante, até o momento preferiu evitar o confronto direto com os setores mais conservadores que temem que essa liberdade acabe com o regime. Por outro lado, sem o clima mais relaxado que se respira no Irã desde sua chegada ao Governo, é quase improvável que um vídeo como o da controvérsia tivesse sido difundido.
“Minha irmã e seus amigos só queriam mostrar ao mundo que também temos momentos de felicidade, apesar dos numerosos problemas que enfrentamos no Irã. Só estavam mostrando sua felicidade e foram presos por isso”, declarou Iranwire Siavash Taravati,que aparece nos créditos do vídeo como responsável pelo som.
A família de Taravati teve que depositar uma fiança de 400 milhões de riais iranianos (34.650 reais) para que Reihanet pudesse sair da prisão. No caso dos outros cinco jovens, a quantidade foi de 300 milhões de riais (26.000 reais). Antes de sua libertação, a polícia advertiu as famílias para que não falassem com os meios de comunicação. Além disso, segundo o irmão de Reihanet, os agentes confiscaram suas câmeras, computadores e celulares.
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