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Roma se prepara para a festa dos dois papas

Francisco canonizará no domingo João XXIII e João Paulo II, ante a presença de Bento XVI

Dois sacerdotes caminham pela Praça de San Pedro com um quadro com os dois papas que serão canonizados no próximo dia 27.
Dois sacerdotes caminham pela Praça de San Pedro com um quadro com os dois papas que serão canonizados no próximo dia 27.STEFANO RELLANDINI (REUTERS)

À festa, desde o ponto de vista religioso, não se pode pedir mais. Um papa, Francisco, canonizará no domingo outros dois, João XXIII e João Paulo II, ante a presença –ainda não confirmada mas praticamente certa– de um quarto, o papa emérito Bento XVI. Daí que não seja estranho que Roma, já de por sim repleta de turistas nesta época do ano, se encontre abarrotada por centenas de milhares de peregrinos de todo mundo –se fala de um milhão– dispostos a ser testemunhas diretos de uma jornada histórica para a Igreja católica.

Se não fosse suficiente, ao “dia dos dois papas” –assim o batizou a imprensa italiana–, também não  falta seu ingrediente de polêmica. Durante as últimas horas, tanto o Vaticano como algumas congregações religiosas muito próximas a João Paulo II se esforçaram por organizar encontros informativos com alguns de seus mais estreitos colaboradores. Todos, desde seu secretário pessoal ao postulador de sua causa de santidade, passando por seu porta-voz ou o chefe da equipe médica que o atendeu em sua calvário dos últimos anos, destacaram logicamente sua grande capacidade de trabalho, a presença constante da oração em sua vida ou seu grande senso de humor inclusive nos momentos últimos da doença. Mas também quase todos, em um ou outro momento, tiveram que responder à pergunta que, como uma nuvem negra, escurecesse a festa: Até que ponto João Paulo II soube e permitiu –ou ao menos não combateu com a suficiente determinação– o problema da pederastia de modo geral e dos abusos de Marcial Maciel designadamente?

O porta-voz de João Paulo II admitiu que ele “não compreendeu” o alcance da pederastia 

O espanhol Joaquín Navarro Valls, porta-voz durante 22 dos 26 anos que durou o pontificado de Wojtyla, admitiu que em princípio João Paulo II “não compreendeu” o alcance do problema, “porque para a pureza de seu pensamento aceitar essa realidade era impossível, era incrível, mas à medida que foi crescendo se preocupou muito e enviou a [Charles] Scicluna [então promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé] que investigasse”. Navarro Valls acrescentou que, “por tanto, as investigações começaram durante o pontificado de João Paulo II, mas comprovar um caso dessas dimensões tomou tempo e quando os resultados chegaram a Roma, o Papa já tinha morrido”. Não obstante, e apesar da campanha midiática centrada fundamentalmente em Wojtyla –João XXIII, sobre o que não existe nenhuma dúvida sobre sua bondade, parece o parente pobre da celebração–, o zumzumzum permanece e convoca a lembrança de quem, como o cardeal Carlo Maria Martini, sempre duvidaram da conveniência de elevar João Paulo II aos altares.

Mas Wojtyla não só será proclamado santo, senão que o será em um tempo recorde como seu sucessor, Joseph Ratzinger, ordenou no mês seguinte de ser eleito que o processo se iniciasse de forma imediata, pulando a norma de esperar cinco anos depois da morte. Daí que a memória tão recente do papa midiático e viajante –dos 27 anos de seu pontificado passou dois (exatamente 822 dias) visitando 129 países– convoque a Roma não só a centenas de milhares de fiéis, senão também a um bom número de chefes de Estado, entre os que se inclui ao rei Juan Carlos, que aproveitará sua visita a Roma, onde nasceu, para visitar no sábado o presidente da República, Giorgio Napolitano, e ser recebido, na segunda-feira pela manhã, pelo papa Francisco.

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