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Boston se blinda para lembrar o aniversário do atentado

Segurança é aumentada para garantir a realização da maratona de 2014, um ano depois de duas bombas matarem 3 pessoas e ferirem 260

Eva Saiz
Foto de uma das explosões na linha de chegada da maratona de Boston, em 2013.
Foto de uma das explosões na linha de chegada da maratona de Boston, em 2013.DAN LAMPARIELLO (REUTERS)

Um ano depois de duas bombas de fabricação caseira explodirem na linha de chegada da maratona de Boston, acabando com a vida de três pessoas e ferindo mais de 260, a cidade continua se recuperando do atentado terrorista e se prepara para lembrar esse fatídico aniversário imersa em uma mistura de esperança e abatimento. As autoridades elevaram a segurança para garantir que esta edição, que se realizará na próxima segunda-feira, dia 21 de abril, transcorra sem contratempos. Muitos dos que participaram da corrida do ano passado e presenciaram o caos e o desconcerto provocados pelas explosões planejam correr de novo; outros continuam refletindo sobre isso; vários não poderão fazê-lo por causa das mutilações sofridas depois da explosão dos artefatos colocados pelos irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev em 15 de abril de 2013.

As bolsas volumosas e as mochilas, como as que os irmãos Tsarnaev abandonaram há um ano com as bombas dentro, serão proibidas nos arredores da linha de chegada

“Vai ser uma grande ocasião, muito solene. Na terça-feira vamos lembrar a tragédia do ano passado, mas também a fonte de orgulho que esta cidade se tornou para nós pela forma com a qual mostrou ao mundo como é uma comunidade forte”, disse no domingo o governador do Estado de Massachusetts, Deval Patrick, em um programa de televisão.

Ao meio-dia, Patrick, acompanhado do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, do atual prefeito da cidade, Martin Walsh, e o que ocupava a Prefeitura quando ocorreram os atentados, Thomas Menino, participarão de um ato no Centro de Convenções em homenagem aos mortos e feridos. Às 14h30, 40 minutos antes do momento em que explodiu a primeira bomba, haverá um minuto de silêncio na linha de chegada na rua Boylston.

Neste ano inscreveram-se 36.000, 9.000 a mais que em 2013

Este ano a maratona de Boston será realizada em 21 de abril. Durante a corrida, mais de 3.500 agentes de polícia estarão dispostos ao longo do trajeto de 42 quilômetros entre a Hopkinton e a rua Boylston. As medidas de segurança são extremas. As bolsas volumosas e as mochilas, como as que os irmãos Tsarnaev abandonaram há um ano com as bombas dentro, serão proibidas nos arredores da linha de chegada. Não será permitido também que os corredores levem suas bolsas no começo da corrida. As autoridades já alertaram aos espectadores e participantes que terão de se submeter a exaustivos controles de segurança. “Nunca se pode eliminar os riscos, mas estamos trabalhando duro para reduzi-los”, declarou à imprensa o coronel da polícia estatal Timothy Alben.

Os inconvenientes não dissuadiram os corredores de participar da prova. Este ano se inscreveram 36.000, 9.000 a mais do que em 2013, uma cifra que converteu esta edição da maratona na segunda com o maior número de atletas de sua história. “Boston é hoje uma cidade melhor do que era antes. As pessoas aprenderam como tratar umas às outras, como lidar com a tragédia”, reconheceu há alguns dias o prefeito anterior, Menino.

Esse processo, no entanto, não tem sido fácil. Muitas das pessoas afetadas pelos atentados sofreram amputações e tiveram de lutar para adaptar-se às novas condições, e nem todas conseguiram. Outras não puderam superar o medo depois de presenciar as explosões ou assistir à caçada dos irmãos Tsarnaev. No entanto, o lema Boston Strong,que se adotou quase instintivamente depois dos atentados, teve o efeito de um mantra que ajudou a sociedade a superar os fatos. A vitória na liga nacional de beisebol da equipe dos Red Sox, que ao longo de todo o campeonato levou colado no uniforme esse lema, foi um exemplo dessa catarse.

Tsarnaev aguarda julgamento

Dhokhar Tsarnaev, o mais novo dos irmãos, aguarda seu julgamento, previsto para 3 de novembro, em uma cela da prisão de Fort Devens

Há traumas que permanecem indeléveis. Adrianne Haslet-Davis, uma bailarina que perdeu parte da perna esquerda durante os atentados de 15 de abril e que, de acordo com The Boston Herald, se transformou em um dos símbolos do lema Boston Strong, abandonou na semana passada a gravação de um programa de televisão porque os responsáveis não acataram sua exigência de que não se mencionasse o nome dos autores da matança.

O único que está vivo, Dhokhar Tsarnaev, o irmão mais novo, aguarda o julgamento, previsto para 3 de novembro, em uma cela da prisão federal de Fort Devens. O procurador-geral, Eric Holder, concordou em que a promotoria peça a peça de morte pelo modo “desumano, cruel e depravado” do ataque com o qual matou três pessoas e feriu mais de 260. “A natureza de sua conduta e os danos causados por ela obrigam à tomada desta decisão”, explicou Holder.

Em Massachusetts a pena de morte não é permitida, mas Tsarnaev foi acusado de 30 delitos federais –dos quais 17 podem ter essa punição. Desde que a pena capital federal foi reinstaurada, em 1988, 70 pessoas foram condenadas a ela e três, executadas. Boston recebeu a decisão dividida. De acordo com uma pesquisa do Boston Globe, 57% prefeririam que ele fosse condenado à prisão perpétua enquanto 33% defendem sua execução.

Tsarnaev foi encontrado em 19 de abril escondido em um barco na parte dos fundos do jardim de uma casa em Watertown, depois de uma intensa perseguição em que seu irmão mais velho, Tamerlan, perdeu a vida e na qual mataram um agente de polícia nos arredores do Instituto Tecnológico de Massachusetts. O mais novo dos Tsarnaevs, nascido no Quirquistão e que havia chegado aos EUA oito anos antes, confessou ser o autor dos atentados e ter se inspirado em publicações e propaganda da Al Qaeda e, de acordo com o que escreveu quando estava escondido no barco, agiu para vingar a matança de inocentes no exterior por parte dos EUA.

As bolsas volumosas e as mochilas, como as que os irmãos Tsarnaev abandonaram há um ano com as bombas dentro, serão proibidas nos arredores da linha de chegada

Este ano se inscreveram 36.000, 9.000 a mais do que em 2013, uma cifra que transformou a maratona deste ano na segunda com o maior número de atletas de sua história

Dhokhar Tsarnaev, o irmão mais novo, aguarda julgamento, previsto para 3 de novembro, em uma cela da prisão federal de Fort Devens.

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