_
_
_
_
_

A Ucrânia dá um ultimato aos pró-russos em trincheiras no leste

A Rússia exigirá a Kiev o pagamento adiantado de gás para manter o fornecimento

Ativistas pró-russos na entrada do prédio do Serviço de Segurança local em Lugansk.
Ativistas pró-russos na entrada do prédio do Serviço de Segurança local em Lugansk.G. S. (AFP)

O ministro das Relações Interiores da Ucrânia, Arsén Avákov, advertiu nesta quarta-feira que terminará com os protestos pró-russos no leste do país, e se deu um prazo de 48 horas para realizar a ação, isto é, antes da sexta-feira pela manhã. Avákov assegurou que fará isso pela força se as negociações com os ativistas não derem resultado. Em Lugansk e Donetsk os opositores ao Governo de Kiev, ao qual não reconhecem e consideram ilegal, tomaram vários edifícios públicos. Por sua vez, o presidente russo, Vladímir Putin, deu mais uma apertada na questão do gás: A Rússia exigirá o pagamento adiantado do combustível para seguir fornecendo para a Ucrânia.

Mais informações
Kerry adverte Lavrov das consequências de desestabilizar a Ucrânia
Kiev tenta recuperar o controle no leste do país
Ativistas pró-russos declaram Donetsk uma República independente
Ativistas pró-Rússia tomam um prédio administrativo no leste da Ucrânia

Para Avákov, a atuação ante as ocupações nas províncias russas deve ser uma “operação antiterrorista”. Na cidade industrial de Járkov, os ativistas anti-Maidan foram desalojados da sede do Governo provincial, mas não ocorreu o mesmo em Donetsk nem em Lugansk. Nesta última cidade, situada a 60 quilômetros da fronteira russa, os opositores ocupam desde o domingo a sede da Direção do Serviço de Segurança local (SBU, os serviços secretos). Segundo comprovou a agência France Presse, alguns homens dispõem de armas, que se encontravam no local invadido, e coletes à prova de balas. Eles se recusam a entregá-las, como tem sido pedido. “Não temos nada a perder. quisemos negociar, mas ninguém quis nos escutar”, afirmou um dos responsáveis pela ocupação, Oleg Desiatnikov. “Se nos atacarem, responderemos”, acrescentou.

Na passada terça-feira, Serguéi Pashinski, chefe da administração presidencial, já advertia que Kiev usará a força se os ocupantes dos edifícios públicos se negarem a abandonar pacificamente o local. “Se não conseguimos resolver a situação pacificamente, atuaremos de acordo com a lei antiterrorista e a outras normas”, advertiu. Pashinski referia-se à série de modificações em diversas leis que o Parlamento aprovou recentemente para endurecer as penas pelos crimes contra o Estado. As ações separatistas que resultaram em morte ou com consequências graves poderão ser castigadas com uma pena que vai de 15 anos de prisão à prisão perpétua.

A maior tensão foi registrada em Lugansk, sobretudo depois que o canal televisivo 1+1 informou que na cidade entraram blindados ucranianos. Além disso, chegaria também uma numerosa equipe de combatentes do Setor de Direita, dirigido pelo ultranacionalista ucraniano Dmitri Yárosh.

Nos tratam como separatistas, mas somos pessoas normais que desejam mudanças no país” Serguéi Tiguipko

Serguéi Tiguipko —o candidato presidencial pelo Partido das Regiões, do destituído presidente Víctor Yanukóvich—, entrou no edifício invadido em Lugansk e assegurou que ali não há russos. Especificou que os ativistas mostraram seus documentos de identidade e que eram ucranianos. “O poder não ouve as exigências do sudeste, ninguém quer reagir. Nos tratam como separatistas, mas somos pessoas normais que desejam mudanças no país e que ninguém escuta”, afirmou Tiguipko. Ele anunciou que se reunirá em breve com o presidente em funções da Ucrânia, Alexandr Turchínov, para abordar a situação.

Por outro lado, o presidente russo tratou nesta quarta-feira com seu Governo da venda de combustível para Kiev. “A Gazprom fornecerá o volume de gás desde que a Ucrânia pague com um mês de antecedência. Receberão aquilo que pagarem”, anunciou Putin. Não obstante, deixou aberta a porta a um compromisso, pois deu instruções ao monopólio gasístico estatal de não aplicar a medida por enquanto e esperar os resultados das conversas que ocorrerão com o país vizinho. O contrato assinado entre Moscou e Kiev em 2009 estabelece que, se não as dívidas contraídas não forem perdoadas, pode ser exigido o pagamento antecipado para manter o fornecimento. A situação deve piorar a partir deste mês, já que a Rússia anulou o desconto que dava ao Governo anterior ucraniano e agora terá que pagar 485,5 dólares (1.066 reais) para cada mil metros cúbicos de gás, invés do valor antigo de 268 (588 reais)).

“Nossos sócios na Europa consideram que as atuais autoridades ucranianas são legítimas, mas não fazem nada para nos apoiar nem com um só dólar. A Federação Russa não reconhece a legitimidade do Governo de Kiev, mas continua prestando assistência à economia da Ucrânia e dando subsídio para ela com bilhões de dólares”, ironizou Putin.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_